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Depressão pode favorecer queda na densidade óssea
Deprimido corre mais risco de ter osteoporose, diz meta-análise de 23 estudos
Um dos mecanismos que
poderiam explicar essa associação é a elevação dos níveis de cortisol na corrente sanguínea do paciente
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pessoas com depressão podem apresentar densidade mineral óssea mais baixa, o que
aumenta as chances de desenvolver osteoporose. A constatação é de uma meta-análise de
23 estudos realizada por pesquisadores israelenses e publicada na edição deste mês da revista "Biological Psychiatry".
Os trabalhos reúnem dados
de mais de 2.300 pacientes com
depressão e mais de 21 mil pessoas sem a doença.
Um dos mecanismos que poderiam explicar a relação entre
depressão e problemas ósseos é
a ativação do sistema nervoso
simpático. "Esse sistema, usado pelo cérebro para controlar
os principais sistemas do organismo, como o cardiovascular e
o gastrointestinal, também
controla as células ósseas por
meio de neurotransmissores",
explicou à Folha Raz Yirmiya,
professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e responsável pelo estudo.
A depressão aumentaria os
níveis desses neurotransmissores no tecido ósseo, o que
contribuiria para um pico de
massa óssea menor, perda de
tecido e osteoporose. A doença
ainda favorece níveis mais elevados de cortisol na corrente
sanguínea. "Muitos estudos
mostram que as taxas de cortisol são altas em pacientes deprimidos e que o aumento dessa substância no organismo está negativamente relacionado
aos níveis de densidade mineral óssea", acrescenta Yirmiya.
Os pesquisadores afirmam,
no estudo, que pacientes deprimidos deveriam ter a densidade óssea monitorada periodicamente. "Esse estudo ressalta
o fato de que a depressão precisa ser vista como um problema
de saúde que vai além do sofrimento psicológico e que pode
trazer consequências negativas
para a saúde física", diz Renério Fráguas, supervisor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mobilidade
Outra hipótese que ajuda a
explicar a associação entre depressão e menor densidade óssea é a relação indireta da doença com hábitos do paciente.
"Sempre com a depressão vem
uma alteração de comportamento. Essas interferências
podem enviesar o estudo. A
baixa densidade óssea pode ser
causada por pouca atividade física, aumento de tabagismo e
alcoolismo, distúrbio nutricional ou a própria medicação ingerida", argumenta a endocrinologista Marise Castro, chefe
do Setor de Doenças Osteometabólicas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Pacientes deprimidos costumam se movimentar menos. A
atividade física estimula diretamente a formação óssea -e a
falta dela pode comprometer a
densidade do osso.
"Os ossos são tecidos vivos
que estão o tempo todo sendo
reabsorvidos e formados, processo chamado de remodelação
óssea. Durante a vida, sofremos
pequenos impactos que levam
a microtraumas nos ossos, deixando-os mais frágeis. Os exercícios são um poderoso estimulante da remodelação", explica
Salo Buksman, geriatra do Into
(Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia).
Algumas doenças crônicas,
como as cardiovasculares, também estão ligadas à depressão e
podem reduzir a mobilidade
dos pacientes. Artrite reumatoide e asma grave também podem exigir o uso de corticoesteroides, drogas que aumentam a
fragilidade óssea.
Já os antidepressivos podem
contribuir para a baixa densidade óssea, mas ainda não foram publicados estudos conclusivos. "Trabalhos in vitro
mostram relação entre serotonina aumentada [condição que
ocorre quando o paciente usa o
medicamento] e prejuízo da
massa óssea", diz Castro.
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