São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

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Depressão pode favorecer queda na densidade óssea

Deprimido corre mais risco de ter osteoporose, diz meta-análise de 23 estudos

Um dos mecanismos que poderiam explicar essa associação é a elevação dos níveis de cortisol na corrente sanguínea do paciente


JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pessoas com depressão podem apresentar densidade mineral óssea mais baixa, o que aumenta as chances de desenvolver osteoporose. A constatação é de uma meta-análise de 23 estudos realizada por pesquisadores israelenses e publicada na edição deste mês da revista "Biological Psychiatry".
Os trabalhos reúnem dados de mais de 2.300 pacientes com depressão e mais de 21 mil pessoas sem a doença.
Um dos mecanismos que poderiam explicar a relação entre depressão e problemas ósseos é a ativação do sistema nervoso simpático. "Esse sistema, usado pelo cérebro para controlar os principais sistemas do organismo, como o cardiovascular e o gastrointestinal, também controla as células ósseas por meio de neurotransmissores", explicou à Folha Raz Yirmiya, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e responsável pelo estudo.
A depressão aumentaria os níveis desses neurotransmissores no tecido ósseo, o que contribuiria para um pico de massa óssea menor, perda de tecido e osteoporose. A doença ainda favorece níveis mais elevados de cortisol na corrente sanguínea. "Muitos estudos mostram que as taxas de cortisol são altas em pacientes deprimidos e que o aumento dessa substância no organismo está negativamente relacionado aos níveis de densidade mineral óssea", acrescenta Yirmiya.
Os pesquisadores afirmam, no estudo, que pacientes deprimidos deveriam ter a densidade óssea monitorada periodicamente. "Esse estudo ressalta o fato de que a depressão precisa ser vista como um problema de saúde que vai além do sofrimento psicológico e que pode trazer consequências negativas para a saúde física", diz Renério Fráguas, supervisor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Mobilidade
Outra hipótese que ajuda a explicar a associação entre depressão e menor densidade óssea é a relação indireta da doença com hábitos do paciente. "Sempre com a depressão vem uma alteração de comportamento. Essas interferências podem enviesar o estudo. A baixa densidade óssea pode ser causada por pouca atividade física, aumento de tabagismo e alcoolismo, distúrbio nutricional ou a própria medicação ingerida", argumenta a endocrinologista Marise Castro, chefe do Setor de Doenças Osteometabólicas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Pacientes deprimidos costumam se movimentar menos. A atividade física estimula diretamente a formação óssea -e a falta dela pode comprometer a densidade do osso.
"Os ossos são tecidos vivos que estão o tempo todo sendo reabsorvidos e formados, processo chamado de remodelação óssea. Durante a vida, sofremos pequenos impactos que levam a microtraumas nos ossos, deixando-os mais frágeis. Os exercícios são um poderoso estimulante da remodelação", explica Salo Buksman, geriatra do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia).
Algumas doenças crônicas, como as cardiovasculares, também estão ligadas à depressão e podem reduzir a mobilidade dos pacientes. Artrite reumatoide e asma grave também podem exigir o uso de corticoesteroides, drogas que aumentam a fragilidade óssea.
Já os antidepressivos podem contribuir para a baixa densidade óssea, mas ainda não foram publicados estudos conclusivos. "Trabalhos in vitro mostram relação entre serotonina aumentada [condição que ocorre quando o paciente usa o medicamento] e prejuízo da massa óssea", diz Castro.


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