|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Programa identifica depressão pela voz
Software criado por pesquisadores do MIT detecta o problema analisando padrões da fala da pessoa como ritmo e tom
Segundo psiquiatra, a ferramenta é imprecisa e reducionista e pode acabar dificultando o diagnóstico correto
DENISE MOTA
COLABORAÇAO PARA A FOLHA
É comum sentir quando algo não está bem na vida de
um amigo apenas pelo tom
de voz que ele emite em uma
conversa telefônica.
Essa percepção corriqueira, mas totalmente impalpável, foi transformada em algoritmos, e agora pode ser
medida por meio de um detector de depressão.
Trata-se de um software
desenvolvido por pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT),
nos Estados Unidos, e que está sendo submetido a testes
comerciais neste momento.
As primeiras experiências
vêm sendo bem-sucedidas e,
por conta disso, exemplares
para uso restrito já estão sendo produzidos, diz à Folha
Joshua Feast, CEO da Cogito
Health. Essa companhia foi
formada por pesquisadores
do MIT com o objetivo de
criar ferramentas de computação para leitura comportamental do ser humano.
"O software pode detectar
depressão e decaimento geral, bem como o entusiasmo
de uma pessoa e sua atitude.
Pode apontar onde há ou não
há risco de depressão e em
qual nível está esse risco, ou
seja, sua probabilidade. O
objetivo é que a ferramenta
chegue ao mercado o quanto
antes", afirma Feast.
"REDUCIONISTA"
O programa analisa padrões de fala, mas não se detém nas palavras do diálogo.
"Ele não ouve o que está sendo dito", enfatiza Alex
"Sandy" Pentland, professor
do MIT e um dos criadores da
empresa Cogito Health.
Em tempo: Pentland é autor de "Honest Signals"
(2008), livro em que ele detalha algumas de suas descobertas sobre como sinais inconscientes (gestos e inflexões de voz) refletem processos mentais. É ele o cérebro
por trás das diretrizes teóricas que embasam os trabalhos da empresa, sediada em
Charlestown, Boston (leia
entrevista com o pesquisador
nesta página).
Estudos psiquiátricos já
apontaram que pessoas deprimidas apresentam ritmo
de fala mais lento, em voz
baixa e monocórdica.
O que o software faz é rastrear indícios da doença em
diversos tipos de discurso,
por meio da análise de padrões vinculados à fluidez, à
consistência do tom e à energia impressas na voz do interlocutor, além de seu grau de
envolvimento.
Segundo os pesquisadores, a aplicação mais imediata do programa, além de ajudar no controle da evolução
do problema, é prevenir a
aparição da doença em pacientes com enfermidades
crônicas -e servir de auxiliar
confiável para profissionais
não especializados no tema.
"O programa ainda não pode
distinguir os diferentes graus
e subtipos de depressão. Estamos trabalhando nisso. Para ter um diagnóstico fechado, ainda precisamos da assessoria de um médico e de
uma revisão cuidadosa da
história clínica do paciente."
Para o médico psiquiatra
Marco Antônio Brasil, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), não é
possível detectar a depressão
pela voz. "É uma doença com
muitos sintomas. Não tem
como pensar em sinais biológicos para a depressão."
Segundo o especialista, alterações no tom de voz podem estar associadas a uma
simples tristeza ou mudança
de humor. "É muito reducionista fazer o diagnóstico a
partir disso."
Próximo Texto: Saiba mais: Problema também altera visão e olfato Índice | Comunicar Erros
|