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Criança que ronca e sofre apneia rende menos na escola
O problema é comum e muitas vezes passa despercebido pelos pais; de 15% a 28% das crianças de até 10 anos roncam
Segundo o estudo feito pela Unifesp, o maior número de despertares noturnos deixa o sono fragmentado, o que diminui a concentração
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Crianças que roncam ou que
sofrem apneia do sono (interrupções da respiração) apresentam menor rendimento escolar e alterações na memória e
atenção, aponta estudo do Ambulatório de Otorrinolaringologia Pediátrica da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) apresentado no Congresso Mundial de Otorrinolaringologia Pediátrica.
Estima-se que de 15% a 28%
das crianças com até 10 anos
respirem pela boca e ronquem.
E acredita-se que de 1% a 3%
delas também tenham apneia.
A pesquisa dividiu 81 crianças de 6 a 12 anos que respiram
pela boca em três grupos: as
que roncam, as que têm apneia
e o grupo controle. Todas fizeram polissonografia.
Depois, essas crianças responderam a uma prova de
aprendizagem que avaliou a
memória imediata, a susceptibilidade a interferências e a
memória de reconhecimento.
Os resultados mostram que o
grupo que ronca e que tem apneia do sono apresentou resultados muito piores de aprendizagem e de memória.
Segundo o otorrinolaringologista Luc Weckx, um dos autores do estudo, isso significa que
a memória imediata e o nível de
atenção estão prejudicados nas
crianças com distúrbios do sono. "Esse prejuízo pode estar
relacionado não só à diminuição do oxigênio no sangue por
causa da interrupção da respiração, mas também ao maior
número de despertares noturnos, com consequente fragmentação do sono", diz.
As três principais causas de
ronco e apneia em crianças são
rinite alérgica (inchaço dos cornetos nasais e entupimento das
vias aéreas), crescimento da
adenoide (carne esponjosa na
parte de trás do nariz) e aumento das amígdalas.
Segundo o pneumologista
Geraldo Lorenzi-Filho, diretor
do Laboratório do Sono do InCor (Instituto do Coração de
São Paulo), o crescimento da
adenoide e das amígdalas normalmente acontece junto e
provoca um estreitamento da
garganta, dificultando a passagem do ar e causando o ronco.
Nesse caso, o tratamento inclui a retirada cirúrgica da adenoide e das amígdalas. "Quanto
mais cedo a criança fizer a cirurgia, melhor", diz. Quando há
rinite, usa-se medicamentos.
O otorrinolaringologista Michel Cahali, professor colaborador da Universidade de São
Paulo, concorda. "O índice de
resolutividade da cirurgia é
grande. O ronco infantil é facilmente tratado e pelo menos
90% dos casos são resolvidos."
Se a criança continuar dormindo de boca aberta e respirando pela boca, o ronco pode
persistir. Mas sessões de fonoaudiologia ensinam a criança a respirar corretamente.
Alerta aos pais
Para Luc Weckx, quando a
criança apresenta problemas
na escola, vários fatores devem
ser avaliados, incluindo a qualidade do sono. "Depois de descartar problemas auditivos, de
visão, neurológicos ou psicológicos, o pediatra deve avaliar se
a criança respira pela boca e se
está dormindo bem", afirma.
Segundo Cahali, o problema
é bastante comum e muitas vezes passa despercebido pelos
pais. "Os pais precisam observar o sono da criança, que deve
seguir um ritmo natural. Se ele
não tiver uma sequência, a
criança ficará cansada, irritada
e inquieta durante o dia. Isso
afetará o rendimento escolar."
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