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Homens ganham política de saúde no SUS
Primeiro modelo na América Latina, programa eleva número de exames e de procedimentos para o público masculino
Hoje, há enormes filas de
espera para cirurgias da
próstata e pouco acesso
às novas tecnologias, como
operações via endoscopia
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quatro anos após a divulgação de que o país teria um programa de saúde masculina, o
governo Lula lançou ontem a
"Política Nacional de Saúde do
Homem", a primeira do gênero
na América Latina. Além de aumentar o número de exames e
cirurgias no SUS, a iniciativa
quer fazer com que 2,5 milhões
de homens entre 20 e 59 anos
procurem o serviço de saúde ao
menos uma vez por ano -hoje
não se sabe qual é o número.
Há cerca de 50 milhões de
homens nesta faixa etária, sendo que 75% deles dependem do
SUS. Para o Ministério da Saúde, o fato de não ir ao médico
faz com que o homem descubra
a doença no estágio mais avançado, o que colabora para o aumento da mortalidade.
A cada três adultos que morrem no Brasil, dois são homens.
A expectativa de vida masculina, de 69 anos, está 7,6 anos
abaixo da média das mulheres,
segundo o IBGE. A principal
causa de mortes dos homens
são as doenças isquêmicas do
coração, entre elas o infarto.
A nova política envolve um
investimento de R$ 613,2 milhões até 2011. O ministério informa que aumentará em até
570% o valor pago a hospitais e
postos de saúde para a execução de procedimentos urológicos e de planejamento familiar.
Haverá, por exemplo, uma ampliação em 20% do número de
ultrassonografias de próstata.
Hoje, o homem encontra
muitas barreiras no atendimento no sistema público. "Há
filas grandes para operar a
próstata. Tem pacientes usando sonda, às vezes anos a fio, esperando uma cirurgia, uma resseção de próstata. Existem cidades com 300, 400 pacientes
esperando", afirma José Carlos
de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.
O acesso às tecnologias mais
modernas também é difícil.
Uma cirurgia de cálculo renal,
por exemplo, pode ser feita de
forma menos invasiva, por via
endoscópica. Mas, por falta de
infraestrutura, muitos serviços
de saúde ainda optam pelas cirurgias abertas, que são mais
traumáticas e têm mais riscos
de infecções, segundo Almeida.
Na opinião do urologista Miguel Srougi, professor titular da
USP, por mais boas intenções
que tenha o ministério, não há
verba suficiente nem ao menos
para o diagnóstico e tratamento dos problemas da próstata,
que envolveria uma investigação de mais de 12 milhões de
homens acima de 50 anos.
"Se a gente fosse submetê-los
a um estudo específico da próstata, fazer PSA, biopsia, cirurgia e outros tratamentos e também tratar as possíveis complicações desses tratamentos, esse programa envolveria R$ 2 bilhões. Em um país em que o Ministério da Saúde gastou, em
2008, R$ 43 bilhões com toda a
saúde, simplesmente não dá. O
país não tem recursos para
bancar uma campanha oficial
de saúde do homem", diz ele.
Campanha
Para atacar o fato de que o
homem não vai ao médico, o
ministério decidiu incluir no
seu calendário de campanhas
uma para incentivar o homem a
cuidar da saúde. Ela será realizada todo mês de agosto. Serão
feitas ainda parcerias com 50
grandes empresas com foco nos
trabalhadores homens.
Segundo o ministério, o objetivo é dar condições aos serviços de saúde de reduzirem as filas já existentes. Ainda assim, o
governo reconhece que a espera não vai acabar imediatamente. "A ideia é que, com maior remuneração, o serviço vai se estruturar melhor. Isso vai acontecer amanhã? Não. Tem um
prazo de maturação, e a gente
espera que, ao longo do tempo,
isso traga resultados", afirma o
secretário de Atenção à Saúde,
Alberto Beltrame.
Para o ministro José Gomes
Temporão, a "mudança cultural" que a campanha do ministério se propõe a incentivar
precisa ser desenvolvida também pelos sistemas de saúde.
"Muitas vezes, pelo horário de
funcionamento, pela maneira
como o posto de saúde está organizado, ele está mais voltado
para atender mães e crianças."
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