São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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História

Desejo de conhecer o mar

Associação que realiza sonhos de crianças doentes leva a paranaense Jaíne Araújo, 14, que tem câncer desde os 10 anos, à praia pela primeira vez

Roberta Garcia de Sylos/Divulgação
Jaíne Araújo no Guarujá (SP); ela mergulhou, fez passeio de barco e experimentou camarão

FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você pudesse realizar um desejo, qualquer um, qual seria? Jaíne dos Santos Araújo, 14, escolheu conhecer o mar. Diagnosticada aos dez anos com osteossarcoma (um tumor ósseo), a menina estava em tratamento no hospital do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) quando foi questionada sobre o que gostaria de fazer.
Natural de Águas de Jurema, distrito de Iretama, no Paraná, ela nunca havia ido à praia. "Moro longe. Eu sempre estava na quimioterapia e acabava não dando para ir", conta.
O que Jaíne queria deixou de ser sonho graças à entidade sem fins lucrativos Make a Wish. Dedicada a realizar desejos de crianças que têm doenças que colocam a vida em risco, ela foi fundada nos EUA e acaba de chegar ao Brasil (leia texto nesta página). O desejo de Jaíne foi o primeiro atendido.
De biquíni novo escolhido numa loja bacana, Jaíne foi levada, numa quarta-feira no fim de novembro, para um hotel de luxo no Guarujá (SP). Na praia, entrou na água com a ajuda de mergulhadores, já que não consegue andar devido à doença. "Foi bom para caramba. Achei que nem ia entrar na água, que a cadeira de rodas ia atolar na areia. Mas me levaram sentada na prancha", diz. "Bebi muita água", acrescenta, rindo.
Jaíne fez guerra de areia, passeou de barco e conheceu o aquário da cidade. Experimentou, pela primeira vez, frutos do mar. Tudo foi acompanhado pela mãe, a dona-de-casa Marlete Araújo, 35, e pela irmã, Juliana, 17. "Foi inesquecível. Ela ficou muito feliz", diz Marlete. Segundo ela, a menina até sentiu menos dor. "Ela não estava saindo, pensava na doença dia e noite", lembra. Uma enfermeira acompanhou tudo para ajudar no que fosse preciso.
Como uma neblina forte havia frustrado a idéia inicial de ir de helicóptero, no dia seguinte, o piloto fez questão de levar Jaíne para sobrevoar São Paulo. Diferentemente do que havia pensado, ela, que não gosta muito de altura, não sentiu medo. "Foi sossegado. Adorei."

Idas e vindas
Desde 2005, quando veio se tratar pela primeira vez no hospital do Graacc, que tem parceria com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Jaíne ficou entre São Paulo e Águas de Jurema. No ano passado, a doença atingiu o pulmão e, depois, os ossos da coluna, comprimindo a medula. A menina passou por uma cirurgia, fez quimioterapia e agora luta contra a volta da doença, que atinge vários ossos, o que é raro.
De acordo com a oncologista Carla Renata Macedo, médica de Jaíne, o osteossarcoma é o tumor ósseo mais comum em crianças e adolescentes. Quando diagnosticado precocemente, é tratável em cerca de 70% dos pacientes.
Quando está fora de sua cidade, a menina fica em uma casa de apoio ligada ao Instituto Ronald McDonald, em São Paulo, onde tem hospedagem e alimentação gratuitas. Ela e a mãe passaram um tempo na casa de um parente em Pirituba (zona norte de SP), mas tiveram dificuldades por causa dos problemas de locomoção da menina. "Era difícil ficar longe porque tinha que pegar metrô e ônibus, ela esbarrava a perna [onde apareceu o tumor] nas pessoas", diz Marlete.
Mesmo com a doença, Jaíne continuou matriculada em uma escola pública em Águas de Jurema. Quando estava em tratamento, fazia as aulas com professores que vão ao Graacc. Nunca repetiu o ano e agora começará o ensino médio.
Nas horas livres, gosta de usar o computador, desenhar, ouvir música sertaneja e jogar videogame. Não sai muito por causa da dor e porque a rua onde mora não é asfaltada, o que dificulta a locomoção com a cadeira de rodas. Mas os amigos a visitam com freqüência.
Definida pela mãe como uma garota de gênio forte e "molecona", Jaíne passa por altos e baixos. No dia da entrevista, havia tido uma "melhora boa". Ela diz que gosta de São Paulo, mas prefere sua cidade, mais tranqüila. Agora, está novamente em sua casa, passando o fim de ano com os pais e as duas irmãs.


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