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Religiosidade protege coração, diz estudo
Pesquisas americanas ligam prática espiritual a redução de risco cardíaco; cardiologistas debatem tema hoje
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois estudos internacionais
indicam que a religiosidade pode proteger da morte por problemas cardíacos e de doenças
como hipertensão.
Por 30 anos, médicos norte-americanos acompanharam a
saúde cardiovascular de 6.500
adultos que não apresentavam
fatores de risco (obesidade, tabagismo etc.). Constataram
menor número de mortes por
doenças do coração entre os
que seguiam alguma religião.
Outro estudo americano,
realizado pela Universidade de
Duke com 3.963 pessoas, concluiu que a leitura de textos religiosos, a prática de oração ou a
participação em cultos reduziu
em 40% o risco de a pessoa desenvolver hipertensão.
Com base nesses resultados,
a Sociedade de Cardiologia de
São Paulo vai discutir pela primeira vez a relação entre espiritualidade e saúde cardiovascular, em um congresso que começa hoje na capital.
"Cada vez mais estudos
apontam essa associação benéfica. Os resultados ainda não
são definitivos, mas merecem
ser discutidos", diz o cardiologista Álvaro Avezum, diretor da
divisão de pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo.
Existem algumas teorias para explicar por que as pessoas
religiosas têm menos doença
cardiovascular. A principal delas, de acordo com Avezum, é o
controle do estresse.
"O estresse aumenta os níveis de cortisol no sangue. Isso
eleva a pressão arterial e pode
provocar taquicardia -fatores
de risco para problemas cardiovasculares. As pessoas espiritualizadas têm maior convivência social e enfrentam os
problemas da vida de maneira
mais fácil, gerenciam melhor o
estresse", diz.
O psicólogo José Roberto
Leite, do departamento de Psicobiologia da Unifesp, concorda. "Pessoas que têm uma crença religiosa costumam alimentar expectativas positivas em
relação ao futuro."
Resultados controversos
O geriatra Giancarlo Lucchetti, do Departamento de
Neurologia da Unifesp, diz que
a dobradinha religiosidade e espiritualidade sempre esteve
muito próxima da saúde, embora haja conclusões controversas. "Há estudos que mostram benefícios,outros não.
Mas a religiosidade é benéfica
não apenas para o coração, mas
para a saúde como um todo."
Lucchetti fez um levantamento com 110 pacientes idosos que estavam em reabilitação na Santa Casa de São Paulo.
Aqueles que eram mais religiosos tiveram uma melhora mais
rápida no tratamento e relataram ter mais qualidade de vida,
segundo o médico.
Ele alerta, porém, para o fato
de que a religião pode atrapalhar o paciente, dependendo da
abordagem: "Muitas pessoas
acham que um problema de
saúde acontece porque estão
sendo punidas, porque Deus as
abandonou. Isso provoca desfechos piores no tratamento e
maior índice de depressão".
Religiosidade, sozinha, não
faz milagre, como lembra o cardiologista Marcos Knobel, do
hospital Albert Einstein:
"Quem só se dedica à religião e
esquece de outros fatores não
estará mais protegida do que alguém que cuida da saúde, mas
não é tão religioso".
Colaborou GABRIELA CUPANI, da Reportagem Local
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