São Paulo, quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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Enxaqueca com aura dobra risco de AVC em mulheres

Revisão de nove estudos aponta que o tabagismo e o uso de anticoncepcionais hormonais também favorecem a doença

15% da população sofre de enxaqueca e um quarto desse total tem dor com aura; doente deve controlar fatores de risco vascular


JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma revisão de nove pesquisas mostrou que pessoas que sofrem de enxaqueca com aura (alterações visuais) têm 73% mais risco de desenvolver um AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico -causado pela obstrução de um vaso do cérebro que leva à falta de circulação na região. Entre mulheres, o risco é duas vezes maior.
A meta-análise, publicada nesta semana na edição on-line do "British Medical Journal", apontou que, além do sexo, idade inferior a 45 anos, tabagismo e uso de anticoncepcional hormonal também representaram maior risco de esses pacientes sofrerem um derrame.
"Outros dados mostram que enxaqueca com aura associada ao uso de anticoncepcional hormonal eleva o risco em seis vezes. Quando a mulher também fuma, as chances de AVC crescem em 20 vezes", alerta o neurologista Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
Cerca de 15% da população brasileira tem enxaqueca e um quarto desse grupo sofre da dor com aura, segundo a sociedade.
A enxaqueca com aura é caracterizada por alguns sintomas neurológicos, principalmente visuais, que aparecem antes da dor. Por até cerca de uma hora, a pessoa pode sofrer redução no campo da visão, passar a enxergar imagens brilhantes em ziguezague e alguns flashes de luz e, em casos mais raros, sentir dormência nas mãos, na boca e na língua.
Esses sintomas surgem porque há uma diminuição da atividade dos neurônios na região posterior do cérebro (responsável pela visão), que pode se expandir para outras áreas. Nesse momento, há uma constrição dos vasos sanguíneos da região -o que pode aumentar as chances de ocorrer um AVC.

Fatores de risco
O maior risco para mulheres, apontado na pesquisa, está relacionado ao uso disseminado de pílulas anticoncepcionais. Sabe-se que os hormônios aumentam a viscosidade e coagulação do sangue, o que propicia o entupimento do vaso sanguíneo. Já o tabagismo favorece o desenvolvimento de aterosclerose (formação de placas dentro do vaso).
Por esses motivos, pacientes que têm enxaqueca com aura devem evitar anticoncepcionais hormonais e não fumar.
"Quando a aura é só visual, é possível usar esse tipo de contraceptivo, desde que se faça a prevenção de episódios de enxaqueca com medicação. Quando há uma aura mais complicada, com perda de força e dificuldade para falar, por exemplo, a gente já sabe que é uma paciente mais suscetível ao AVC e suspende o remédio", diz a neurologista Sheila Ouriques Martins, coordenadora do Projeto Nacional de Atendimento ao AVC da Academia Brasileira de Neurologia.
A prevenção de crises de enxaqueca também funciona como fator de redução do risco de AVC, segundo Martins.
Esses pacientes devem também controlar outros fatores de risco para doenças vasculares, como hipertensão e colesterol, praticar atividade física e manter um peso saudável.
De acordo com Martins, é indicado ainda evitar o uso de medicamentos mais antigos contra a doença, pois eles estimulam a vasoconstrição.
O estudo não encontrou relação desse tipo de enxaqueca com outros problemas cardiovasculares, como infarto. "Mas é conhecido o fato de que o enxaquecoso é mais propenso a alterações vasculares fora da crise de enxaqueca e, por isso, deve controlar sempre os fatores de risco", acrescenta o neurologista José Geraldo Speciali, responsável pelo ambulatório de cefaleias do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.


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