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Enxaqueca com aura dobra risco de AVC em mulheres
Revisão de nove estudos aponta que o tabagismo e o uso de anticoncepcionais hormonais também favorecem a doença
15% da população sofre de enxaqueca e um quarto desse total tem dor com aura; doente deve controlar fatores de risco vascular
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma revisão de nove pesquisas mostrou que pessoas que
sofrem de enxaqueca com aura
(alterações visuais) têm 73%
mais risco de desenvolver um
AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico -causado pela
obstrução de um vaso do cérebro que leva à falta de circulação na região. Entre mulheres,
o risco é duas vezes maior.
A meta-análise, publicada
nesta semana na edição on-line
do "British Medical Journal",
apontou que, além do sexo, idade inferior a 45 anos, tabagismo
e uso de anticoncepcional hormonal também representaram
maior risco de esses pacientes
sofrerem um derrame.
"Outros dados mostram que
enxaqueca com aura associada
ao uso de anticoncepcional
hormonal eleva o risco em seis
vezes. Quando a mulher também fuma, as chances de AVC
crescem em 20 vezes", alerta o
neurologista Carlos Bordini,
presidente da Sociedade Brasileira de Cefaleia.
Cerca de 15% da população
brasileira tem enxaqueca e um
quarto desse grupo sofre da dor
com aura, segundo a sociedade.
A enxaqueca com aura é caracterizada por alguns sintomas neurológicos, principalmente visuais, que aparecem
antes da dor. Por até cerca de
uma hora, a pessoa pode sofrer
redução no campo da visão,
passar a enxergar imagens brilhantes em ziguezague e alguns
flashes de luz e, em casos mais
raros, sentir dormência nas
mãos, na boca e na língua.
Esses sintomas surgem porque há uma diminuição da atividade dos neurônios na região
posterior do cérebro (responsável pela visão), que pode se
expandir para outras áreas.
Nesse momento, há uma constrição dos vasos sanguíneos da
região -o que pode aumentar
as chances de ocorrer um AVC.
Fatores de risco
O maior risco para mulheres,
apontado na pesquisa, está relacionado ao uso disseminado
de pílulas anticoncepcionais.
Sabe-se que os hormônios aumentam a viscosidade e coagulação do sangue, o que propicia
o entupimento do vaso sanguíneo. Já o tabagismo favorece o
desenvolvimento de aterosclerose (formação de placas dentro do vaso).
Por esses motivos, pacientes
que têm enxaqueca com aura
devem evitar anticoncepcionais hormonais e não fumar.
"Quando a aura é só visual, é
possível usar esse tipo de contraceptivo, desde que se faça a
prevenção de episódios de enxaqueca com medicação.
Quando há uma aura mais
complicada, com perda de força
e dificuldade para falar, por
exemplo, a gente já sabe que é
uma paciente mais suscetível
ao AVC e suspende o remédio",
diz a neurologista Sheila Ouriques Martins, coordenadora do
Projeto Nacional de Atendimento ao AVC da Academia
Brasileira de Neurologia.
A prevenção de crises de enxaqueca também funciona como fator de redução do risco de
AVC, segundo Martins.
Esses pacientes devem também controlar outros fatores
de risco para doenças vasculares, como hipertensão e colesterol, praticar atividade física e
manter um peso saudável.
De acordo com Martins, é indicado ainda evitar o uso de
medicamentos mais antigos
contra a doença, pois eles estimulam a vasoconstrição.
O estudo não encontrou relação desse tipo de enxaqueca
com outros problemas cardiovasculares, como infarto. "Mas
é conhecido o fato de que o enxaquecoso é mais propenso a
alterações vasculares fora da
crise de enxaqueca e, por isso,
deve controlar sempre os fatores de risco", acrescenta o neurologista José Geraldo Speciali,
responsável pelo ambulatório
de cefaleias do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.
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