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Brasil testa maconha para tratar Parkinson
Uso experimental do canabidiol traz resultados promissores, com melhora das alterações de sono e dos sintomas psicóticos
O Brasil não autoriza terapia com nenhuma substância derivada da maconha; em outros países, erva é usada para tratar dor neuropática
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores da Faculdade
de Medicina da USP de Ribeirão Preto e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
Translacional em Medicina
testam o canabidiol -uma das
400 substâncias encontradas
na maconha- para tratar males como a doença de Parkinson, fobia social e sintomas psicóticos da esquizofrenia.
Um trabalho publicado em
novembro traz resultados promissores para controlar efeitos
adversos do tratamento do Parkinson. Seis pacientes receberam cápsulas de canabidiol em
associação ao remédio contra a
doença durante um mês.
"Os parkinsonianos apresentaram melhora nas alterações
de sono e nos sintomas psicóticos e tiveram maior redução
dos tremores", diz o psiquiatra
José Alexandre Crippa, professor do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da faculdade e um
dos pesquisadores.
Outro estudo com dez pacientes, que será publicado em
2010, demostrou que o canabidiol tem efeito ansiolítico contra a fobia social, que gera sintomas como medo de falar em
público. Os voluntários receberam a substância uma hora e
dez minutos antes de um teste
que leva à ansiedade e placebo,
para comparar os resultados.
Por causa desses efeitos, pacientes costumam procurar a
erva, ainda que sem conhecer
as propriedades dos compostos
específicos, para se sentirem
melhor. Estudos mostram que
veteranos de guerra consomem
mais maconha, assim como
pessoas com transtornos psiquiátricos, em comparação
com a população em geral.
"Pacientes com transtorno
obsessivo-compulsivo e com
mania dizem que podem ouvir
do médico os melhores argumentos para pararem de usar
maconha, mas não vão parar
porque se sentem nitidamente
melhor. Mas é obviamente desaconselhável o uso não terapêutico da erva, porque pode
piorar os sintomas psicóticos. É
um paradoxo, porque as substâncias podem ajudar a tratar
problemas, mas quem fuma
não sabe o que está inalando,
desconhece a proporção dos
compostos", diz Crippa.
Dificuldades
No Brasil, não há autorização
para o uso terapêutico de nenhuma substância derivada da
Cannabis sativa (nome científico da maconha). Mas em outras partes do mundo tanto o
canabidiol quanto o TCH (delta 9 tetrahidrocanabinol) -os
compostos derivados da erva
mais estudados- são utilizados para tratar também dores
neuropáticas, náusea e vômito
causadas por quimioterapia e
esclerose múltipla.
Eles são disponíveis em forma de cápsulas, spray bucal e
adesivo e podem ser inalados
-em alguns estados dos EUA,
pacientes são autorizados a fumar maconha com teores mais
elevados de TCH para tratar algum problema.
Elisaldo Carlini, psicofarmacologista e diretor do Cebrid
(Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), da Unifesp, afirma que é
muito difícil importar o material necessário para pesquisas.
"Em termos de lei, está tudo na
estaca zero. Por aqui, não se reconhece a maconha como remédio de jeito nenhum", diz.
Para tentar organizar o estudo sobre o uso medicinal da
maconha no Brasil, o Cebrid
organizará em maio de 2010
um simpósio que reunirá pesquisadores, sociedades científicas e representantes do governo. Pesquisadores defendem a
criação da Agência da Cannabis
Medicinal, uma exigência da
ONU para que um país possa
usar clinicamente os medicamentos à base de derivados da
erva. A agência seria vinculada
ao Ministério da Saúde.
"Não tenho nenhuma dúvida
de que a maconha é importante. No passado, foi considerada
um dos principais produtos para combater dores miopáticas,
chamavam-na de divindade da
neurologia. Mas não se pode
usar a torto e a direito sem indicação médica. O controle é
importante", afirma Carlini.
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