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Fila por cirurgia de escoliose é crítica em serviços do SUS
Espera pela operação cresceu 128% em cinco anos em hospital ligado à AACD
Com o tempo, a coluna da criança se deforma cada vez mais, o que pode gerar doenças respiratórias, entre outras complicações graves
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Complexa e de alto custo, a
cirurgia para correção da escoliose pode ser determinante
para a saúde de crianças que
têm esse desvio na coluna. Mas
quem precisa se submeter ao
procedimento gratuitamente
enfrenta dificuldades.
No Hospital Abreu Sodré, em
São Paulo, por exemplo, a fila
cresceu 128% em cinco anos.
Na instituição, que é ligada à
AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e uma
das referências em tratamento
de deficientes, havia 347 pacientes na espera em 2004. Em
abril deste ano, eram 792.
Em outra instituição que
atende pelo SUS, o Hospital São
Paulo, ligado à Unifesp, a situação é parecida. A abertura de
novas inscrições foi encerrada
por causa da demanda represada. "Nossa realidade é a mesma
de outros centros de São Paulo:
filas grandes e dificuldade para
dar vazão ao número de pacientes. Trata-se de uma cirurgia
complexa, que poucos hospitais fazem", afirma Marcelo
Wajchenberg, ortopedista da
instituição.
De acordo com ele, é feita, em
média, uma operação do tipo
por mês no local. O centro cirúrgico é dividido entre as várias especialidades da ortopedia. "Temos equipe competente e material, mas faltam salas
cirúrgicas. A estrutura deveria
ser maior."
No Into (Instituto Nacional
de Traumatologia e Ortopedia),
ligado ao Ministério da Saúde,
no Rio de Janeiro, há cerca de
800 pessoas na fila da cirurgia
de escoliose.
O instituto realiza, em média,
6.500 cirurgias por ano, mas 19
mil pessoas ainda aguardam
por procedimentos cirúrgicos
em 12 especialidades. A cirurgia de coluna está entre as mais
procuradas.
A instituição afirma que, com
a inauguração de uma nova sede, prevista para 2010, o número anual de cirurgias passará de
6.000 para quase 20 mil.
Custo
Uma cirurgia de escoliose pode custar R$ 35 mil. Eduardo
Carneiro, presidente voluntário da AACD, diz que o SUS cobre, no máximo, 25% do custo
desse tipo de cirurgia e, em média, 16% de todos os procedimentos cirúrgicos do hospital.
O valor restante é pago pelo dinheiro arrecadado com cirurgias particulares e campanhas,
que não dá conta da demanda.
Entre as operações feitas pela instituição, 30% são gratuitas. "Se o orçamento para cirurgias ortopédicas em deficientes
dobrasse, o impacto no orçamento do Ministério da Saúde
seria de apenas 0,03%", calcula.
Carneiro considera a fila da
escoliose "dramática". Mesmo
com o aumento do número de
cirurgias mensais -de quatro
para nove-, a demanda cresce
desproporcionalmente.
"Quanto mais nosso trabalho
é divulgado, mais as pessoas
vêm para a nossa fila. E o problema não é termos muita gente esperando, o importante é
dar velocidade a essa fila."
A média de tempo que os pacientes aguardam hoje no local
é de seis anos. A fila é por ordem de chegada -apenas em
casos excepcionais é possível
adiantar alguém, o que só foi
feito duas vezes em 13 anos.
A espera por todas as cirurgias do hospital aumentou de
2.304 pessoas em 2004 para
5.161 em abril deste ano. O caso
da escoliose é especialmente
problemático devido ao preço e
à complexidade da operação,
que não permitem que ela seja
feita em grande escala, e dos
problemas que a doença causa.
À medida que o tempo passa,
o corpo da criança se deforma
cada vez mais, o que pode gerar
complicações e até a morte.
"Geralmente, nossos pacientes
são paralíticos e, além de não
andarem, sentam-se com dificuldade por causa da escoliose.
Com o tempo, podem surgir
problemas respiratórios e de
pele, entre outras complicações", afirma o ortopedista Antônio Carlos Fernandes, superintendente técnico da AACD.
Fernandes diz que vários pacientes do hospital se inscrevem em filas de outras instituições. "Quando chega sua vez,
dificilmente o paciente já foi
operado em outra instituição."
A auxiliar de escritório Mônica da Conceição de Sena, 33,
esperou por cerca de três anos
por uma cirurgia para a filha,
Vanessa, de 16 anos, que tem
paralisia cerebral.
A menina chegou a ficar totalmente de cama, pois não
conseguia mais ficar sentada na
cadeira de rodas.
Cansada de esperar na fila,
que "quase não andava" -chegou a ter a previsão de 60 meses
de espera-, Mônica recorreu a
outros hospitais, mas achou o
panorama mais desanimador.
Entrou na Justiça, tentou diversos convênios médicos e, no
dia 8 deste mês, conseguiu que
um deles cobrisse o procedimento. "Agora ela está bem
melhor, graças a Deus."
Cirurgia
Existem várias técnicas para
realizar a cirurgia de escoliose.
Geralmente, são colocados parafusos, hastes e enxertos para
deixar a coluna o mais reta possível. Quando a criança é muito
pequena, precisa fazer ajustes
no procedimento a cada seis
meses, antes de passar pela cirurgia definitiva.
A operação costuma exigir
internação prolongada, longa
estadia na UTI e grande volume de transfusão sanguínea.
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