São Paulo, sábado, 30 de maio de 2009

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Fila por cirurgia de escoliose é crítica em serviços do SUS

Espera pela operação cresceu 128% em cinco anos em hospital ligado à AACD

Com o tempo, a coluna da criança se deforma cada vez mais, o que pode gerar doenças respiratórias, entre outras complicações graves

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Complexa e de alto custo, a cirurgia para correção da escoliose pode ser determinante para a saúde de crianças que têm esse desvio na coluna. Mas quem precisa se submeter ao procedimento gratuitamente enfrenta dificuldades.
No Hospital Abreu Sodré, em São Paulo, por exemplo, a fila cresceu 128% em cinco anos. Na instituição, que é ligada à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e uma das referências em tratamento de deficientes, havia 347 pacientes na espera em 2004. Em abril deste ano, eram 792.
Em outra instituição que atende pelo SUS, o Hospital São Paulo, ligado à Unifesp, a situação é parecida. A abertura de novas inscrições foi encerrada por causa da demanda represada. "Nossa realidade é a mesma de outros centros de São Paulo: filas grandes e dificuldade para dar vazão ao número de pacientes. Trata-se de uma cirurgia complexa, que poucos hospitais fazem", afirma Marcelo Wajchenberg, ortopedista da instituição.
De acordo com ele, é feita, em média, uma operação do tipo por mês no local. O centro cirúrgico é dividido entre as várias especialidades da ortopedia. "Temos equipe competente e material, mas faltam salas cirúrgicas. A estrutura deveria ser maior."
No Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), ligado ao Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro, há cerca de 800 pessoas na fila da cirurgia de escoliose.
O instituto realiza, em média, 6.500 cirurgias por ano, mas 19 mil pessoas ainda aguardam por procedimentos cirúrgicos em 12 especialidades. A cirurgia de coluna está entre as mais procuradas.
A instituição afirma que, com a inauguração de uma nova sede, prevista para 2010, o número anual de cirurgias passará de 6.000 para quase 20 mil.

Custo
Uma cirurgia de escoliose pode custar R$ 35 mil. Eduardo Carneiro, presidente voluntário da AACD, diz que o SUS cobre, no máximo, 25% do custo desse tipo de cirurgia e, em média, 16% de todos os procedimentos cirúrgicos do hospital. O valor restante é pago pelo dinheiro arrecadado com cirurgias particulares e campanhas, que não dá conta da demanda.
Entre as operações feitas pela instituição, 30% são gratuitas. "Se o orçamento para cirurgias ortopédicas em deficientes dobrasse, o impacto no orçamento do Ministério da Saúde seria de apenas 0,03%", calcula.
Carneiro considera a fila da escoliose "dramática". Mesmo com o aumento do número de cirurgias mensais -de quatro para nove-, a demanda cresce desproporcionalmente.
"Quanto mais nosso trabalho é divulgado, mais as pessoas vêm para a nossa fila. E o problema não é termos muita gente esperando, o importante é dar velocidade a essa fila."
A média de tempo que os pacientes aguardam hoje no local é de seis anos. A fila é por ordem de chegada -apenas em casos excepcionais é possível adiantar alguém, o que só foi feito duas vezes em 13 anos.
A espera por todas as cirurgias do hospital aumentou de 2.304 pessoas em 2004 para 5.161 em abril deste ano. O caso da escoliose é especialmente problemático devido ao preço e à complexidade da operação, que não permitem que ela seja feita em grande escala, e dos problemas que a doença causa.
À medida que o tempo passa, o corpo da criança se deforma cada vez mais, o que pode gerar complicações e até a morte. "Geralmente, nossos pacientes são paralíticos e, além de não andarem, sentam-se com dificuldade por causa da escoliose. Com o tempo, podem surgir problemas respiratórios e de pele, entre outras complicações", afirma o ortopedista Antônio Carlos Fernandes, superintendente técnico da AACD.
Fernandes diz que vários pacientes do hospital se inscrevem em filas de outras instituições. "Quando chega sua vez, dificilmente o paciente já foi operado em outra instituição."
A auxiliar de escritório Mônica da Conceição de Sena, 33, esperou por cerca de três anos por uma cirurgia para a filha, Vanessa, de 16 anos, que tem paralisia cerebral.
A menina chegou a ficar totalmente de cama, pois não conseguia mais ficar sentada na cadeira de rodas.
Cansada de esperar na fila, que "quase não andava" -chegou a ter a previsão de 60 meses de espera-, Mônica recorreu a outros hospitais, mas achou o panorama mais desanimador.
Entrou na Justiça, tentou diversos convênios médicos e, no dia 8 deste mês, conseguiu que um deles cobrisse o procedimento. "Agora ela está bem melhor, graças a Deus."

Cirurgia
Existem várias técnicas para realizar a cirurgia de escoliose. Geralmente, são colocados parafusos, hastes e enxertos para deixar a coluna o mais reta possível. Quando a criança é muito pequena, precisa fazer ajustes no procedimento a cada seis meses, antes de passar pela cirurgia definitiva.
A operação costuma exigir internação prolongada, longa estadia na UTI e grande volume de transfusão sanguínea.


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