São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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Falta de exercício dificulta detecção de doença cardíaca

Sociedade Brasileira de Cardiologia investigou DAOP, que aumenta risco de infarto

De acordo com a pesquisa, 10% dos brasileiros têm doença arterial obstrutiva periférica, mas 90% não acusam o principal sintoma

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sedentarismo contribui para o diagnóstico tardio de problemas cardíacos. Essa é a conclusão de uma pesquisa que analisou um importante marcador para saber as chances de o paciente ter infarto no futuro: a DAOP (doença arterial obstrutiva periférica). A sigla explica o acúmulo de placas de gordura nas artérias nas pernas e tem três fatores de risco: diabetes, tabagismo e idade.
Segundo resultados de uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia feita em todo o país, 10% da população tem essa doença. Entretanto, 90% desses pacientes não acusam o principal sintoma, que são as dores nas pernas durante caminhadas e outros exercícios.
Os dados fazem parte de um grande projeto de pesquisa chamado Corações do Brasil, que teve agora sua primeira parte concluída e será publicado em dezembro na revista "Arquivos Brasileiros de Cardiologia". Foram ouvidas 1.159 pessoas, com mais de 18 anos, em 72 cidades brasileiras.
"O fato de a pessoa ter a DAOP é um marcador de que ela tem a mesma doença no coração e no cérebro, porque a circulação é sistêmica. Quem tem DAOP tem 5% mais chances de ter um infarto ou um derrame", diz Márcia Makdisse, coordenadora do estudo e cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
A médica diz que o sedentarismo é uma das principais causas de a doença ser ignorada pelos pacientes. "Quando você faz exercícios, o músculo necessita de mais oxigênio e nutrientes para gerar energia. Isso é trazido pelo sangue. Se ele tem dificuldade para chegar, o músculo sofre. O paciente sente dor, formigamento e cansaço", diz.
Segundo ela, a importância de diagnosticar a doença arterial periférica está justamente na prevenção de infartos e derrames. No entanto, a medição do índice tornozelobraquial (exame que diagnostica a doença) não ocorre na maioria dos centros médicos do país.
O cardiologista Serafim Borges, da Instituto de Cardiologia Aloisio de Castro, explica que "o exame é barato e simples, feito com um doppler, que mede a pulsação no sangue".
Segundo ele, alguns residentes não aprendem mais hoje a pesquisar todos os pulsos periféricos. "Pacientes com fatores de risco e que sentem dores nas pernas têm que fazer o exame."
A Sociedade Brasileira de Cardiologia realiza trabalhos de conscientização sobre a doença e o diagnóstico. A recomendação é que o exame seja feito por todas as pessoas acima de 70 anos e pelos fumantes e diabéticos com mais de 50.

Entupimento
Além de indicar a possibilidade de infarto, a DAOP também pode causar entupimentos nas artérias das pernas. Foi o caso do empresário Edvar Aparecido Sanches, 52, que parou de fazer exercícios físicos por sentir um "cansaço diferente" nas pernas. Cinco anos depois, descobriu que 70% da ilíaca (principal artéria da perna) estava entupida.
"Sempre joguei futebol. Mas comecei a sentir uma dor na panturrilha e parei. Fiquei sedentário. Estava na praia quando a perna esquerda começou a formigar muito. Fui ao médico, que viu que a pressão nas pernas era menor do que a nos braços. Após exames, descobri que essa artéria estava quase toda entupida", afirma.
Edvar diz que, após fazer uma angioplastia (técnica que alarga a artéria para o sangue passar), mudou sua rotina. "Passei a jogar tênis e a fazer caminhadas, além de cuidar melhor da alimentação."
Em casos extremos, o entupimento arterial pode levar à gangrena -morte de células nas pernas. Contudo, o risco é pequeno. Pesquisas já mostraram que as chances de ocorrer uma amputação por causa da DAOP é menor do que 1%.


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