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Falta de exercício dificulta detecção de doença cardíaca
Sociedade Brasileira de Cardiologia investigou DAOP, que aumenta risco de infarto
De acordo com a pesquisa, 10% dos brasileiros têm doença arterial obstrutiva periférica, mas 90% não acusam o principal sintoma
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O sedentarismo contribui
para o diagnóstico tardio de
problemas cardíacos. Essa é a
conclusão de uma pesquisa que
analisou um importante marcador para saber as chances de
o paciente ter infarto no futuro:
a DAOP (doença arterial obstrutiva periférica). A sigla explica o acúmulo de placas de gordura nas artérias nas pernas e
tem três fatores de risco: diabetes, tabagismo e idade.
Segundo resultados de uma
pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia feita em todo
o país, 10% da população tem
essa doença. Entretanto, 90%
desses pacientes não acusam o
principal sintoma, que são as
dores nas pernas durante caminhadas e outros exercícios.
Os dados fazem parte de um
grande projeto de pesquisa
chamado Corações do Brasil,
que teve agora sua primeira
parte concluída e será publicado em dezembro na revista "Arquivos Brasileiros de Cardiologia". Foram ouvidas 1.159 pessoas, com mais de 18 anos, em
72 cidades brasileiras.
"O fato de a pessoa ter a
DAOP é um marcador de que
ela tem a mesma doença no coração e no cérebro, porque a
circulação é sistêmica. Quem
tem DAOP tem 5% mais chances de ter um infarto ou um
derrame", diz Márcia Makdisse, coordenadora do estudo e
cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
A médica diz que o sedentarismo é uma das principais causas de a doença ser ignorada pelos pacientes. "Quando você faz
exercícios, o músculo necessita
de mais oxigênio e nutrientes
para gerar energia. Isso é trazido pelo sangue. Se ele tem dificuldade para chegar, o músculo
sofre. O paciente sente dor, formigamento e cansaço", diz.
Segundo ela, a importância
de diagnosticar a doença arterial periférica está justamente
na prevenção de infartos e derrames. No entanto, a medição
do índice tornozelobraquial
(exame que diagnostica a doença) não ocorre na maioria dos
centros médicos do país.
O cardiologista Serafim Borges, da Instituto de Cardiologia
Aloisio de Castro, explica que
"o exame é barato e simples,
feito com um doppler, que mede a pulsação no sangue".
Segundo ele, alguns residentes não aprendem mais hoje a
pesquisar todos os pulsos periféricos. "Pacientes com fatores
de risco e que sentem dores nas
pernas têm que fazer o exame."
A Sociedade Brasileira de
Cardiologia realiza trabalhos
de conscientização sobre a
doença e o diagnóstico. A recomendação é que o exame seja
feito por todas as pessoas acima
de 70 anos e pelos fumantes e
diabéticos com mais de 50.
Entupimento
Além de indicar a possibilidade de infarto, a DAOP também pode causar entupimentos nas artérias das pernas. Foi
o caso do empresário Edvar
Aparecido Sanches, 52, que parou de fazer exercícios físicos
por sentir um "cansaço diferente" nas pernas. Cinco anos
depois, descobriu que 70% da
ilíaca (principal artéria da perna) estava entupida.
"Sempre joguei futebol. Mas
comecei a sentir uma dor na
panturrilha e parei. Fiquei sedentário. Estava na praia quando a perna esquerda começou a
formigar muito. Fui ao médico,
que viu que a pressão nas pernas era menor do que a nos braços. Após exames, descobri que
essa artéria estava quase toda
entupida", afirma.
Edvar diz que, após fazer
uma angioplastia (técnica que
alarga a artéria para o sangue
passar), mudou sua rotina.
"Passei a jogar tênis e a fazer caminhadas, além de cuidar melhor da alimentação."
Em casos extremos, o entupimento arterial pode levar à
gangrena -morte de células
nas pernas. Contudo, o risco é
pequeno. Pesquisas já mostraram que as chances de ocorrer
uma amputação por causa da
DAOP é menor do que 1%.
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