São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2010

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Noite em claro reduz defesas do corpo

Pesquisa inédita realizada pela Unifesp mediu o impacto da falta e da redução de sono sobre o sistema imunológico

Ficar sem dormir provoca aumento do número de glóbulos brancos, sinalizando uma inflamação geral

GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO

Uma noite maldormida é suficiente para alterar todo o sistema de defesa do organismo. Isso é o que mostra uma pesquisa inédita, realizada na Universidade Federal de São Paulo.
A relação entre sono e sistema imunológico é conhecida, mas ainda não se sabem bem os mecanismos envolvidos. O novo estudo elucidou como as diferentes formas de privação do sono atrapalham o sistema de defesa.
Os autores acompanharam 32 adultos saudáveis que foram divididos em três grupos. O primeiro passou por uma privação total de sono: 48 horas sem pregar os olhos.
Durante esse tempo, foram monitorados e realizaram atividades como ler ou acessar a internet.
O outro grupo foi deitar normalmente, mas teve seu sono avaliado por exames de polissonografia. Quando o indivíduo atingia o sono REM, era acordado. Isso aconteceu por quatro noites.
Todos foram comparados a um grupo controle, que dormiu regularmente.
Depois de analisar as amostras de sangue dos pesquisados, os autores constaram que as duas situações de privação tiveram impactos diferentes nas defesas.
Passar noites em claro leva a um aumento do número de glóbulos brancos. Essas células defendem o organismo ao primeiro sinal de invasão.
O aumento desses níveis sinaliza uma inflamação sistêmica. Além disso, varar a noite sem dormir eleva os níveis dos linfócitos CD4, o que mostra um estado geral alterado do sistema imune.
E isso não foi revertido nem mesmo após três noites de recuperação.
Essas situações se aplicam mais a pessoas que trabalham em turnos, fazendo plantões noturnos, como profissionais da saúde.
Já os que foram privados apenas do sono REM logo na primeira noite apresentaram uma queda nos níveis de IgA (imunoglobulina A), uma substância relacionada à proteção das mucosas.
Essa alteração também não foi corrigida depois de três noites bem dormidas.
O dado é relevante, porque a situação é comum: a população vem reduzindo suas horas de sono, em especial no final da noite, quando o sono REM prevalece.

INFECÇÕES
Não se sabe o que acontece a longo prazo. "Mas serve de alerta, porque se encontramos essa redução em uma noite, imagine anos dormindo mal", enfatiza a bióloga Francieli Ruiz da Silva, uma das autoras. "Isso pode aumentar a suscetibilidade a infecções respiratórias."
"A alteração do sistema imunológico a longo prazo pode levar ao surgimento de doenças autoimunes, como da tireoide e diabetes", diz a infectologista Lígia Raquel Brito, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos.


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