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Noite em claro reduz defesas do corpo
Pesquisa inédita realizada pela Unifesp mediu o impacto da falta e da redução de sono sobre o sistema imunológico
Ficar sem dormir provoca aumento do número de glóbulos brancos, sinalizando uma inflamação geral
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO
Uma noite maldormida é
suficiente para alterar todo o
sistema de defesa do organismo. Isso é o que mostra uma
pesquisa inédita, realizada
na Universidade Federal de
São Paulo.
A relação entre sono e sistema imunológico é conhecida, mas ainda não se sabem
bem os mecanismos envolvidos. O novo estudo elucidou
como as diferentes formas de
privação do sono atrapalham
o sistema de defesa.
Os autores acompanharam 32 adultos saudáveis que
foram divididos em três grupos. O primeiro passou por
uma privação total de sono:
48 horas sem pregar os olhos.
Durante esse tempo, foram monitorados e realizaram atividades como ler ou
acessar a internet.
O outro grupo foi deitar
normalmente, mas teve seu
sono avaliado por exames de
polissonografia. Quando o
indivíduo atingia o sono
REM, era acordado. Isso
aconteceu por quatro noites.
Todos foram comparados
a um grupo controle, que
dormiu regularmente.
Depois de analisar as
amostras de sangue dos pesquisados, os autores constaram que as duas situações de
privação tiveram impactos
diferentes nas defesas.
Passar noites em claro leva
a um aumento do número de
glóbulos brancos. Essas células defendem o organismo ao
primeiro sinal de invasão.
O aumento desses níveis
sinaliza uma inflamação sistêmica. Além disso, varar a
noite sem dormir eleva os níveis dos linfócitos CD4, o que
mostra um estado geral alterado do sistema imune.
E isso não foi revertido
nem mesmo após três noites
de recuperação.
Essas situações se aplicam
mais a pessoas que trabalham em turnos, fazendo
plantões noturnos, como
profissionais da saúde.
Já os que foram privados
apenas do sono REM logo na
primeira noite apresentaram
uma queda nos níveis de IgA
(imunoglobulina A), uma
substância relacionada à
proteção das mucosas.
Essa alteração também
não foi corrigida depois de
três noites bem dormidas.
O dado é relevante, porque
a situação é comum: a população vem reduzindo suas
horas de sono, em especial
no final da noite, quando o
sono REM prevalece.
INFECÇÕES
Não se sabe o que acontece
a longo prazo. "Mas serve de
alerta, porque se encontramos essa redução em uma
noite, imagine anos dormindo mal", enfatiza a bióloga
Francieli Ruiz da Silva, uma
das autoras. "Isso pode aumentar a suscetibilidade a infecções respiratórias."
"A alteração do sistema
imunológico a longo prazo
pode levar ao surgimento de
doenças autoimunes, como
da tireoide e diabetes", diz a
infectologista Lígia Raquel
Brito, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos.
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