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Ribeirinhos no AM têm excesso de mercúrio

Análise do cabelo de moradores de 14 comunidades do rio Negro mostrou a contaminação, perigosa para a saúde

Consumo frequente de peixes como a piranha, que se alimenta de outros peixes, é a causa do problema

Rodrigo Baleia/Folhapress
Maria Alberta do Nascimento prepara peixe em Barcelos, AM
Maria Alberta do Nascimento prepara peixe em Barcelos, AM

KÁTIA BRASIL
ENVIADA ESPECIAL A BARCELOS (AM)

As populações ribeirinhas do rio Negro, no norte do Amazonas, estão expostas à contaminação por mercúrio num nível superior ao tolerável à saúde humana, aponta estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

A contaminação ocorre pela ingestão prolongada de peixes piscívoros, como tucunaré e piranha. Essas espécies concentram mais mercúrio porque comem outros peixes, também intoxicados.

Os sintomas incluem problemas neurológicos e perda da coordenação motora.

A pesquisa foi feita em 2011 com mechas de cabelo de 50 pessoas, de 14 comunidades, e apontou uma concentração de mercúrio de 3,14 ppm (partes por milhão) a 58,35 ppm durante o ano. Os níveis mais altos foram registrados de novembro a maio, quando o consumo de peixes é maior.

A Organização Mundial da Saúde considera tolerável uma taxa de 50 ppm para a população em geral e 10 ppm para grávidas.

Segundo a bióloga Graziela Balassa, 32, autora do estudo, a situação das mulheres em idade reprodutiva é a mais preocupante: 85% delas apresentaram concentrações de mercúrio superiores a 10 ppm. "É um nível que aponta efeitos neurológicos em fetos", afirma.

Balassa diz que são necessárias campanhas que orientem as mulheres a consumir menos peixes piscívoros durante a gestação e a amamentação. Ela defende a proibição de garimpos na bacia do rio Negro -a atividade foi regulamentada em junho pelo governo do Amazonas.

O solo do rio Negro é naturalmente rico em mercúrio, mas o garimpo de ouro e a atividade industrial fazem com que as chuvas despejem três vezes mais metal no rio hoje do que há cem anos, segundo Bruce Forsberg, orientador do estudo.

Na água, bactérias transformam o mercúrio em sua forma mais tóxica, o metilmercúrio, iniciando um processo de contaminação que atinge micro-organismos, plantas e peixes.

A reportagem visitou 3 das 14 comunidades pesquisadas e constatou que peixes piscívoros são consumidos do café da manhã ao jantar.

A índia baniua Maria Ivanete Souza Andrade, 29, tem dois filhos e cedeu mechas para o estudo. "A alimentação que a gente tem é peixe, é difícil comer carne."

Em Bacabau, a duas horas de barco de Barcelos, no rio Araçá, o agente de saúde Evanildo Martins, 49, não sabe quais os danos do mercúrio à saúde nem como tratar pessoas contaminadas. A última vez que um médico passou por lá foi em 2006.

Em Samaúma, no rio Demini, a professora baniua Marinete dos Santos, 41, mãe de quatro filhos, se diz assustada. "Se tem mercúrio na água e no peixe, também contaminou a gente."

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