São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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Semana do Leitor

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Até quando
"A expressão mais usada na seção dos leitores nos jornais diante dos escândalos nos três Poderes da República é "até quando?".
Essa expressão deveria ser complementada por "até quando vou decidir entrar na sociedade de amigos do meu bairro?" ou "até quando vou adiar a minha filiação partidária?".
A participação política começa e ganha muito mais força dessa forma, na vida comunitária e nas representações regionais dos partidos.
Mas o comodismo, aliado ao individualismo, faz com que, escândalo após escândalo, fiquemos repetindo "até quando... a minha passividade vai contribuir para a impunidade e a inoperância das nossas instituições?"."
ROBERTO CASTRO (São Paulo, SP)

 

"Na lógica perversa dos privilegiados, incluindo a do presidente Lula, se todo o mundo comete "erros" (um eufemismo para crimes), por que impedi-los de acontecer? Mas, afinal, quem é este "todo o mundo"?
No teatro vicentino, num auto representado pela primeira vez em 1532, na corte portuguesa, por ocasião do nascimento do príncipe dom Manuel, Todo o Mundo, personagem alegórico, é o rico mercador que mente, rouba, busca a glória e quer o paraíso a qualquer custo; ao contrário de Ninguém, que diz a verdade, sofre e é desenganado.
Deve ser por isso que Lula vem repetindo que não adianta a hipocrisia dos que criticam os salários na Câmara ou o fato de presentear familiares e amigos com o dinheiro de "ninguém", uma vez que sempre foi assim e assim sempre será.
Mas os "ninguéns" já descobriram quem é este "todo o mundo" e devem ativar a memória nas próximas eleições para não eternizar o "Auto da Lusitânia"."
VIRGÍNIA GONÇALVES (Londrina, PR)

Inovação em crise
"Importante o artigo "Crise, patentes e inovação", de Roberto Nicolsky (terça-feira). A inovação tecnológica é uma forma de enfrentar a atual crise, mas as dificuldades são maiores do que se imagina. A própria Lei da Inovação torna mais vantajoso para uma empresa colaborar com uma universidade do que criar o seu próprio departamento de P&D e contratar mestres e doutores (que ficam desempregados), o que distancia a pesquisa da indústria.
Apesar da dos programas de fomento à inovação, não é raro o prazo de análise de um projeto ser longo demais ou até exceder o seu tempo de vigência.
As altas taxas de juros e os impostos inibem investimentos em pesquisa industrial, e as próprias empresas contribuem para o problema, pois se concentram muito mais em aumentar as vendas do que em desenvolver inovações lucrativas."
MARCOS GUGLIOTTI , pesquisador, doutor em química que há dois anos tenta licenciar suas patentes no Brasil (São Paulo, SP)

Indisciplinado
"Oportuna a Entrevista da 2ª com Camilo da Silva Oliveira, diretor da melhor escola pública estadual de São Paulo no Enem. Ele mostrou que é possível ter um bom desempenho no exame apesar da política utilizada pela Secretaria da Educação nos últimos governos.
Segundo o diretor, a escola se destacou por usar direcionadores próprios, e não os sugeridos pelo governo. Interessante é o que ele diz sobre os secretários da Educação: todos são competentes, mas, infelizmente, a política não permite uma continuidade dos programas de cada governo. Assim, vamos ficar sempre na dependência de um diretor como ele, que pode até vir a ser punido por não seguir as diretrizes do governo.
Quando teremos a educação como prioridade de governo sem interferências políticas e eleitoreiras?
Parabéns ao "indisciplinado" professor Camilo."
CARLOS AUGUSTO SOARES DO AMARAL SANTOS (Sorocaba, SP)

Exportações
"Manchete de terça-feira: "Crise piora perfil da exportação brasileira". A "explicação": exportamos mais commodities "em prejuízo" de manufaturados. Como agrônomo, sei que há cem anos trabalhamos para o país dispor de tecnologia agrícola capaz de produzir bens de qualidade para o mercado interno e externo. O Instituto Agronômico de Campinas, por exemplo, minimizou os efeitos do "crash" de 29 ao propor alternativas viáveis à cafeicultura.
Logo, a crise não piora -nem o "céu de brigadeiro" melhora- nossas exportações, ela só dramatiza a importância das commodities num grande país."
VICTOR DE ARGOLLO FERRÃO (Campinas, SP)

Fumo
"Profetizou o governador Serra que "espíritos de porco" vão tentar impugnar na Justiça a lei contra o fumo (Cotidiano, sexta-feira). Interessante preconceito esse: lei de sua autoria não pode ser questionada, sob pena de estigmatizar o insurgente como cidadão de menor importância. Assim, vou a São Paulo para não fumar no delicioso ambiente artificial de ar-condicionado dos restaurantes e, depois daqueles ares secos e bacterianos, vou lá fora inspirar o ar puro da cidade..."
RENATO COSTA DIAS (Uberlândia, MG)

Lista fechada
Dos jornais paulistanos, a Folha é o que tem os reflexos mais rápidos e precisos.
Na página A4 de quarta-feira, o jornal chamou a atenção para o novo estelionato preparado pela Câmara: o projeto da reforma política, articulado por PT, PMDB, DEM, PPS e PC do B, com texto de Ibsen Pinheiro e aval de Michel Temer.
Afinal, o que pretendem Suas Excelências com essa proposta indecorosa do voto em lista fechada? O eleitor não votará mais no candidato da sua preferência, e sim numa "lista", elaborada à sua revelia pela sigla ou pela coligação.
Ora, ao não poder escolher o meu representante na Câmara, eu perco minha vinculação pessoal, política e afetiva com ele. Representado e representante ficam estranhos um ao outro. O deputado simplesmente vira as costas para o seu eleitor, fica inacessível aos reclamos deste último, acomodado no Olimpo de suas conveniências pessoais.
A proposta da votação em lista fechada constitui o maior estelionato eleitoral da nossa história republicana e coloca em questão a própria legitimidade democrática dos delegados da vontade popular.
O eleitor brasileiro não vai concordar com a sórdida manipulação de sua vontade pelos cardeais da "cosa nostra" sentados na cúpula do Legislativo."
GILBERTO DE MELLO KUJAWSKI (São Paulo, SP)

 

"Conta-se que, há muitos anos, na cidade de Crato, no Estado do Ceará, um candidato a vereador recebeu apenas um voto: o seu.
Ao indagar sua mulher por que nem ela havia votado nele, recebeu a seguinte resposta: "Se os outros, que não te conhecem, não votaram, imagina eu, que te conheço bem".
A proposta de reforma para eleições do Legislativo prejudica a censura pública pelo voto e facilita a reeleição de maus candidatos. Seremos obrigados a votar em quem não queremos que nos represente. Votar numa lista feita pelo partido é abdicar do processo democrático que progressivamente vem construindo o Brasil nos últimos 30 anos.
Só devemos eleger quem não tem medo de ser conhecido."
DAVI DE LACERDA (São Paulo, SP)


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