São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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FINA

W.O

por ROBERTA SALOMONE, de Nova York

Nos EUA, a paranaense Cristiane dos Santos virou Cris Cyborg –e transformou-se na melhor lutadora de vale-tudo do mundo. Mas, há um ano, vive um drama sem precedente: não existe adversária disposta a enfrentá-la

As antigas competições de vale-tudo transformaram-se na sigla MMA –Mixed Marcial Arts, ou Artes Marciais Mistas– e viraram febre em países como Brasil, Japão e EUA. Desde 1995, mulheres também fazem parte do esporte. São hoje 2% dos lutadores profissionais. Entre elas, a curitibana Cristiane dos Santos, ou Cris Cyborg, 25 anos. Cris é a melhor do mundo – tem 11 lutas, dez vitórias, oito por nocaute (perdeu a primeira, para a brasileira Erica Paes). Mas vive um drama: desde que venceu a americana Jan Finney, em junho passado, as desafiantes sumiram.
A carreira de Cris Cyborg começou por acaso. Assistiu a uma aula de muay thai, o boxe tailandês, gostou tanto, mas tanto, que resolveu trocar as quadras pelos ringues. "Na academia, já vi muitos homens serem nocauteados por ela", lembra o experiente Rafael Cordeiro, seu ex-treinador e técnico de campeões brasileiros como Wanderlei Silva, Mauricio "Shogun" Rua e Fabrício Werdum. "Em um meio tão machista, ela ganhou respeito rapidamente."
Cris atesta: "Não é bonito ficar com o rosto machucado, mas uma consequência da profissão que escolhi". Durante os combates, ela prende o cabelo com tranças e retira os brincos, proibidos. Longe dos ringues, procura marcar a diferença: voltam os brincos, a maquiagem, o cabelo solto. Adora sapatos e botas. Se encontra um modelo que lhe agrada muito, compra até três cores.

JUBA DE LEÃO
Cris tem sete tatuagens: "Cyborg" no antebraço direito; "Jesus Cristo" no esquerdo. "Ela é um pitbull com juba de leão", define o preparador físico Rafael Alejarra. "Só lembro que estou treinando uma mulher quando olho para a cara dela." Deve acontecer com mais gente: por falta de opção, Cris acaba por fazer dos homens seus "sparrings". Não faz feio. "Ela está muito acima das outras mulheres", diz o lutador Anderson Silva, versão masculina de Cris Cyborg.
Dona de um bar em Curitiba, a mãe de Cris, dona Gorete, patrocinou os primeiros anos de MMA, embora se recuse a ver a filha em combate. O pai e um irmão chegaram a sentir-se mal quando a assistiram in loco, e saíram antes de vê-la vencer. Há três anos, Cyborg viajou aos EUA para seu primeiro confronto fora do Brasil. A passagem foi paga com uma vaquinha entre o pessoal da academia. Nocauteou a americana Shayna Baszler, depois venceu a japonesa Yoko Takahashi. No ano seguinte mudou-se para a Califórnia, onde vive com o também lutador Evangelista Cyborg –de quem herdou o sobrenome fantasia.

AULINHAS DE SALSA
Cris alcançou o topo quando venceu a musa maior do MMA, a norte-americana Gina Carano, em agosto de 2009. O combate entre a fera e a bela rendeu US$ 30 mil, o cinturão do Strikeforce (mais importante evento do esporte) e o título de melhor do mundo.
Na vida privada, Cris é menos Cyborg: leva vida tranquila, frequenta a igreja (batista) aos domingos, faz suas aulinhas de salsa. A rotina diária de exercícios inclui academia, natação, treinos de boxe e jiu-jitsu. Inclui também uma sesta. O ritmo seria outro se estivesse prestes a lutar. Este é seu drama: atleta exclusiva do Strikeforce, que tem 13 mulheres, ela está tão acima das demais que os promotores não autorizam os desafios. Paciência.


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