São Paulo, Domingo, 27 de Maio de 2012

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EXTRA

RECORTE V

por Vivian Whiteman

O papel de algumas dessas moças não é reportar fatos "fashion", mas fazer propaganda e marketing para marcas que pagarem

A QUERIDINHA DE SUNDANCE

Nos cursos livres e superiores de moda, uma nova resposta se junta às respostas preferidas para a pergunta: "Que profissão você deseja seguir?"

Geralmente, para grande pesar de um mercado saturado de designers e que precisa mesmo é de modelistas, engenheiros têxteis e afins, as respostas, que costumavam ser 1) estilista e 2) diretor de marketing, agora vêm acompanhadas de 3) blogueira.

A blogueira de moda é, ao mesmo tempo, a estrela e o Judas do momento no mundinho fashion. As top blogueiras ou os top blogueiros (eles existem, mas ainda são minoria) sentam nas melhores filas dos desfiles, recebem presentes, ganham muito dinheiro e ainda desfilam. Gala Gonzalez e Prince Pelayo, blogueiros espanhóis, por exemplo, passariam lindos e faceiros pela passarela da grife Aüslander, encerrando o Fashion Rio.

A blogueira não é jornalista, por definição. Há milhares de jornalistas que têm blogs, mas isso é uma outra coisa.

O metiê da blogueira é outro. O papel dela não é criticar nem reportar fatos "fashion" segundo seu olhar. A ideia é agir como uma espécie de modelo, uma celebridade "da vida real", quase um ex-BBB.

Nos melhores casos, elas funcionam como guias de compras, seja qual for a faixa de bolso. Mas as célebres são as que, entre pechinchas, mostram coleções respeitáveis de roupas e acessórios grifados.

Dependendo da notoriedade, a blogueira vira microempresária de si mesma. A maior central de blogueiras do Brasil, batizada de F*Hits, reúne moças com potencial para se transformarem em máquinas do marketing.

O funcionamento é simples: elas anunciam em seus blogs produtos de marcas dispostas a desembolsar até R$ 50 mil pela exposição, mas os valores variam muito. O mesmo expediente funciona no mundo todo.

Cabe a essas moças vestir as peças de seus contratantes e postar fotos acompanhadas de elogios. Ou elogiar um restaurante, um brigadeiro, uma marca de pilha, um papel higiênico. Algumas postagens trazem, no rodapé, a discreta palavra "publipost". Um jeito de o leitor, ao menos o superatento, saber que aquela opinião é, na verdade, propaganda.

Pouca gente comenta, porém, que a maioria das grandes revistas e sites de moda do mundo divulga conteúdo pago, sem avisar.

Os blogueiros são uma realidade no circuito da moda mundial. E aqui, como lá, são vistos com algo entre desdém e antipatia por muitos compradores e jornalistas.

Na fogueira da moda, a chama está sempre sedenta por mais uma bruxa. É um caso de ética frouxa e regra clara: o inquisidor de hoje pode ser o "churrasquinho" de amanhã.


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