São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

Próximo Texto | Índice

FINA

Uma tarde de inverno com Diane von Furstenberg em seu castelo de vidro

por FERNANDA MENA, de Londres

RAINHA DO LAR

Viver separado é o novo "estar junto" para a atriz
Helena Bonham Carter e seu marido Tim Burton

Helena Bonham Carter irrompe na sala de entrevistas, em um hotel cinco estrelas de Londres, com cinco minutos de atraso. Está abraçada a uma grande garrafa de água e é seguida por uma assistente que equilibra uma xícara de café na mão direita, uma de chá na esquerda. As duas são para Helena, que gosta de bebericar café e chá alternadamente, estejam eles quentes ou já frios –como era o caso.
A atriz integra o elenco de "Alice no País das Maravilhas", filme dirigido por seu marido, Tim Burton, e inspirado na obra de Lewis Carroll, cuja imagem-símbolo é a de um chá maluco. A estranha combinação de bebidas, portanto, vem a calhar.
Na superprodução em 3D da Disney, que tem estreia no Brasil programada para 21 de abril, Helena faz o papel da Rainha Vermelha. É uma figura extravagante e de cabeça desproporcionalmente grande, sobrancelhas arqueadas e boca pintada como coração.
"Há certa beleza naquela deformação da cabeça. O impacto da imagem na tela é algo que nunca poderíamos imaginar", diz.
Cara a cara, a atriz britânica de 43 anos está longe de impressionar tanto quanto a personagem digitalmente manipulada do filme. Sua aparência natural, no entanto, tem certo ar de estranheza. Cabelos longos, escuros e desgrenhados emolduram o rosto quadrado de cor desmaiada.
O estilo de Helena também faz jus à fama de esdrúxulo: coturno militar nos pés, vestido preto florido sob um xale bege de renda, um brinco de coração na orelha esquerda e mais de dez colares, dourados e prateados, curtos e longos, no colo.
"É muito libertador ter sido alvo de todo tipo de julgamento negativo sobre minhas roupas. Já me chamaram de desastrosa, de cafona, ridícula, brega...", enumera. "Não preciso estar bem vestida porque já sou considerada um desastre de antemão. Então, não existe mais pressão", brinca.

VÍTIMA DA MODA

Em 2006, Helena chegou a criar uma grife de roupas com a amiga e estilista Samantha Sage. Batizada de "The Pantaloonies" (trocadilho melhor traduzido como "as pantaloucas"), a marca abusava de rendas e babados para criar um visual vitoriano em peças do dia a dia.
Sua aproximação com o mundo da moda apenas atraiu mais críticas. Toda vez que pisa o tapete vermelho, Helena é alvo dos tabloides ingleses e estampa a página dos looks "errados".
"A mídia britânica sempre operou assim, apontando o que é legal e o que é cafona. No começo, eu achava que ia morrer. Contratei 'personal stylists' que me vestiam com peças consideradas fashion ou 'cool'", conta. "Falando sério: depois de dois filhos, não tenho mais tempo para o mundo da moda e do glamour. Eu mal tenho tempo de ir à manicure."
Helena está se referindo a Billy Ray, 6, e à caçula Nell, 2, seus filhos com Tim Burton. Por parte da mãe, eles são herdeiros de uma família tradicional britânica –o bisavô da atriz foi primeiro ministro do Reino Unido entre 1908 e 1916. Por parte de pai, têm como legado um universo sombrio e encantado, que o cultuado diretor transpõe para o cotidiano familiar.
Ao falar dos filhos, Helena saca o celular e exibe uma imagem de Nell. "Olha que linda! Essa eu ainda não estraguei como fiz quando mimei Billy até não poder mais", ironiza, e solta uma gargalhada.
Ela e Burton se conheceram durante as filmagens de "Planeta dos Macacos" (2001), dirigido por ele. Iniciado o namoro, passaram a viver juntos em Londres. "Tim [que é americano] dizia que era a única cidade a que sentia pertencer, o que foi muito comovente para mim, que nasci e cresci em Londres", lembra. "De fato, quando passamos a conviver, ficou claro o quanto ele gosta daqui. Quando ele acorda e diz: 'Nossa, que dia lindo!', pode apostar que o céu está cinza e chove sem parar (risos)."
As excentricidades da família Carter-Burton ficam evidentes no arranjo habitacional que criaram em Hampstead, bairro de classe alta ao norte de Londres. A família se divide em três chalés, que foram posteriormente interligados: Helena mora em uma casa, Burton, em outra, e seus filhos, a babá e os brinquedos da família ficam na terceira casa.
"Essa história das três casas tem sido muito controversa. Mas, veja bem, não vivemos apartados uns dos outros. As crianças não têm de passar por uma checagem de passaportes para chegar à minha casa", diverte-se.
No início deste mês, o diário britânico "The Independent" teve de fazer um pedido oficial de desculpas à atriz após uma reportagem apontar o ordenamento privado da família como algo "arrepiante".

FESTAS E DECORAÇÃO
"Tim tinha dinheiro suficiente para comprar as casas ao lado e achamos que era uma boa ideia. É mais espaço para todo mundo. Por que não?", questiona. "Além de tudo, com as três casas, a gente não precisa se ver o tempo todo, o que é ótimo. Afinal de contas, são nove anos."
A casa dela é totalmente diferente da casa de Burton, diz a atriz. Enquanto seu chalé é todo decorado com flores, corações e desenhos femininos, o do diretor é repleto de Oompa Loompas (os pigmeus do filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates"), esqueletos e ETs. "Atravessar o corredor que liga minha casa à dele é como cruzar do reino dos vivos para o reino dos mortos", zomba.
Helena fica com as atividades sociais, Burton com o isolamento. "Posso receber meus amigos sem problemas e promover encontros e festas, porque Tim sabe que, na hora que quiser, pode fugir, desaparecer."
Algumas vezes, ela confessa, os dois até dormem juntos. Mas dividir a cama está longe de ser regra. "Há a questão do ronco", explica. "Eu falo, ele ronca. Ele é insone e precisa dormir com a TV ligada. Eu preciso de silêncio. Estamos muito bem assim."
Seria, então, viver separado o novo estar junto? Para o casal Carter-Burton, sem dúvida, sim.

Próximo Texto: FINO: A polidez e a rigidez de João Havelange
Índice


Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.