São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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PESSOA FÍSICA

Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein, é um homem público do setor privado

por ANA RIBEIRO

PONTO DE VISTA

Presidente do Hospital Albert Einstein, o oftalmologista Cláudio Lottenberg cresce como liderança na comunidade judaica –e não está atrás de elogios

Ele tem pouca idade para o extenso currículo, mas, aos 49 anos, considera-se velho para ser pai de gêmeos de dois anos. "Quando brinco muito com eles, acabo com dor nas costas."
Tem mais: Cláudio Lottenberg, presidente do Conselho de Administração do Hospital Israelita Albert Einstein, virtualmente o chefe de mais de 6.000 médicos –entre eles alguns dos melhores especialistas do país–, confessa que tem medo de morrer. "Eu me sinto jovem, bem disposto, mas estou prestes a completar 50 anos. Meu avô morreu relativamente cedo, meu pai também. Não sei não...", brinca.
Se tem medo de viajar fora do combinado, de crítica ele não tem. Numa instituição com mais de 8.000 funcionários, cerca de 29 mil cirurgias e mais de 1 milhão de exames realizados por ano, é quase impossível, no fim do expediente, não haver na sua mesa uma lista de reclamações. "Se eu estivesse atrás de elogios, não poderia assumir esse cargo. Há certas posições na vida nas quais você deve estar aberto a críticas –ou então não aceite."
Foi por essa disposição para a crítica que Lottenberg diz ter ficado decepcionado quando soube que o presidente Lula "não gostou" de um artigo seu, publicado pela Folha em outubro do ano passado, protestando contra o fato de o Brasil ter recebido o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. "Não é por ser judeu, é pela injustiça. Como sorrir ao lado de uma figura que discrimina pelo sexo, que anuncia desejo de destruir pelas armas um Estado democrático [Israel] e afronta a história, negando o Holocausto?"
Além de presidente do Einstein, Lottenberg é líder e porta-voz da Confederação Israelita do Brasil, entidade que reúne os cerca de 150 mil integrantes da comunidade judaico-brasileira. Filho de judeus russos, genro de um casal que sobreviveu aos horrores dos campos de concentração na Polônia, Lottenberg sabe que tem responsabilidade política. "Claudio sempre teve certa tendência política. Aos 20 anos, foi um dos diretores de juventude que, entre outras inovações, trouxeram as festas e shows para dentro do clube", relembra Beirel Zukerman, presidente do clube A Hebraica no começo da década de 70.
O médico já ensaiou uma entrada na vida pública –foi secretário municipal de Saúde de São Paulo na gestão de José Serra, em 2005–, mas desistiu. Prefere usar sua energia no âmbito de sua profissão. "Faço mais sendo um homem público no setor privado do que se fosse um homem público em um cargo público."

O CHEIRO DA MANHÃS
Diariamente às 7h10, pontualmente, ele chega ao hospital –com exceção das segundas-feiras, quando passa primeiro por sua clínica particular. A essa hora do dia, já fez exercícios com seu personal trainer, deu uma olhada nos jornais e já tomou café da manhã com a família. Para conseguir isso, tem de pular da cama às 5h30. "Tenho muito prazer em acordar cedo, gosto do cheiro da manhã."
Mestre e doutor em oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina, foi um dos pioneiros no Brasil, em meados da década de 90, a utilizar a técnica a laser. É especialista em cirurgia de córnea, catarata, miopia. "Os maiores avanços da oftalmologia estão hoje nos procedimentos a laser. Uma coisa fantástica", diz.
Ao lado de outros 15 colegas, Lottenberg mantém uma clínica oftalmológica particular, com cinco endereços em São Paulo, além de seu consultório no 1º andar do Einstein –onde funcionam mais de 200 consultórios médicos.
"A tecnologia avança, seus conhecimentos vão se tornando obsoletos. Se eu tivesse ficado com o que aprendi na escola, tudo que eu poderia hoje era prescrever óculos", explica ele. Para se atualizar, faz cursos periódicos nos Estados Unidos.

HORA DO BANHO
Não é que o presidente do Einstein, representante de sua comunidade e diretor de uma clínica particular afirma que passa as horas no trabalho ansioso para não perder um momento especial de consagração em casa? "É a hora do banho dos meninos. É a maior curtição. Só perco mesmo em casos extremos."
Lottenberg se casou, 12 anos atrás, com Ida Sztamfater, e ela trouxe os três filhos do primeiro casamento. A família gira hoje em torno de Ida, dos gêmeos, Flávio e Gustavo, e dos três enteados, Sérgio, 28 (que trabalha em uma empresa de incorporação criada por Lottenberg), Ciriel, 14, estudante, e Fernanda, 26 que vai se casar.
Além da família, o médico divide seu tempo entre a administração do hospital, a clínica e o centro cirúrgico. O cargo de presidente do Einstein não é remunerado –assim como não ganham os outros diretores. "O resultado é reinvestido na própria instituição", explica.
Lottenberg vê aumentar o respeito à sua condição de líder. Mesmo com a loucura do dia a dia, parece sempre centrado. Seus longos dias no hospital não amassam sua roupa, nem bagunçam seu cabelo –penteado para trás com uma camada de gel–, assim como o despertador, que mesmo tocando às 5h30, não o deixa com olheiras.
"Sempre estive muito próximo de Deus", diz ele, lembrando que quando jovem foi cantor na sinagoga. "E meus pais foram também bom exemplo. Olha, conhecimento técnico cada um pode conseguir a qualquer momento, mas valores morais, de caráter, de sentimento, ou você tem em casa ou dificilmente conseguirá depois."

(COLABOROU DENIS CARDOSO)

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