São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011 |
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RECORTE V O FINO DA MASSApor VIVIAN WHITEMAN A elite da moda, convenhamos, é um reduto de metidinhos. Em tempos de São Paulo Fashion Week, tanto pior. Festinhas com celebridades, looks trabalhados no último grito da tendência e por aí vai. Gente iludida, diria o arquiteto e pensador Flávio de Carvalho (1889-1973) -mal sabem que os trajes de luxo são só adaptações endinheiradas das roupas usadas pelas massas. O livro "A Moda e o Novo Homem", coletânea lançada pela Azougue Editorial, reúne textos publicados em 1956, na coluna "Casa, Homem, Paisagem", que Flávio escrevia no jornal "Diário de São Paulo". O autor ficou conhecido por ter desfilado pelas ruas de São Paulo, naquele mesmo ano, vestindo um traje de sua própria criação, que incluía saia e meia-calça. Em certo ponto, o visionário escreve: "...a moda nasce no meio do povo, nas camadas humildes da sociedade...passando pelo escravo, pelo prisioneiro, pelo soldado, se dirige rumo ao trono". Mendigo-fashion, pescador-fino, pedreiro-hype, são vários os tipos explorados nas passarelas. Mas até mesmo trajes como ternos e tailleurs têm suas origens nos trabalhadores braçais. As joias, segundo Flávio, refletem as "amarras que paralisavam o último da escala hierárquica: o escravo". Diz ainda que elas representam a tortura. Hebe Camargo, coitada, correu para a terapia depois dessa. Dispara Flávio: "É o sofrimento do povo que focaliza as grandes necessidades da vida e gera as forças rejuvenescedoras de uma etapa histórica". Elite fashionista, arranque essas correntes e junte-se à massa cria-tiva! sapatilhas da discórdia E Madonna, a rainha da invenção, está sendo processada pela grife Melissa. A loura copiou, na cara dura, a sapatilha de plástico que os irmãos Campana fizeram para a marca brasileira e botou para vender dentro de sua linha de roupas e acessórios Material Girl. Tudo muito chique, assinado e hypado, mas vamos falar a verdade: a Campana pirata é um dos hits das lojinhas genéricas e camelôs da 25 de Março. E pensar que, lá nos EUA, as patricinhas estão se estapeando pela sapatilha falsiê da Madge. Na barraquinha, sai por quinzão, pessoal!/
mas que luxo DE BONECO A estilista Gloria Coelho vai homenagear seu rebento, Pedro Lourenço, em sua nova coleção, que será apresentada quarta-feira na São Paulo Fashion Week. Nada de reis, rainhas e princesas. O tema da coleção são os monstrinhos da série Pokémon, grande paixão escondida de Pedro, que a mamãe acaba de revelar. Gloria, do alto de sua elegância, conta que camelava pelas ruas do bairro da Liberdade atrás de bonecos específicos: os Pokémons lendários. Ai, esse Pedro, exigente desde pequeno! chiqueria candanga A Maria Bonita, uma das grifes mais sofisticadas da São Paulo Fashion Week, dá razão às teorias de Flávio de Carvalho sobre as modas que vêm de baixo. A estilista Danielle Jensen usou a indumentária candanga (candango foi o nome dado aos operários que construíram Brasília) como uma das inspirações da coleção que mostra amanhã na SPFW. Antes, Danielle já havia feito versões sofisticadérrimas das roupas dos pescadores e dos palhaços mambembes. Os preços, é claro, são de elite!
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