São Paulo, domingo, 31 de Julho de 2011

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DESENHO

Bossa Nova

por, Eduardo Logullo

Maurício Arruda é o primeiro designer brasileiro chamado pela ikea, rede sueca de móveis baratos e contemporâneos, para desenvolver peças exclusivas

No final do ano passado, o londrinense Maurício Arruda, 38, abriu o computador e leu uma mensagem que causou reviravolta em sua trajetória profissional. Ele era o único brasileiro selecionado pela marca sueca Ikea –uma das gigantes mundiais na venda de móveis com desenho contemporâneo e custo baixo– para desenvolver cinco peças conceituais para a coleção de 2014.
Arruda foi descoberto por um "cool-hunter" ("olheiro de tendências", em tradução livre) da marca europeia devido à repercussão no exterior de sua linha de móveis José. Essas peças de ecodesign, inspiradas em objetos de feiras livres, traziam caixotes plásticos empilháveis em estruturas modulares. Uma síntese moderna do design popular brasileiro.
"Os suecos pesquisaram para ver quem se adaptaria aos desafios do estilo Ikea. Conheciam cada trabalho do meu site", conta. Assinar contrato de longo prazo com a marca significa um impulso de rara equivalência comercial no Brasil. Basta citar que a rede, fincada em 38 países, escolheu apenas 20 escritórios internacionais. "A intenção é desenvolver parcerias avaliadas on-line e em workshops periódicos em Estocolmo." Em 2012, acontecerá a prototipagem; em 2013, a produção. Em 2014, as 238 lojas da rede –assim como o site de vendas– lançam, na mesma data, as cem peças criadas pelos novos designers.
Maurício Arruda se mudou para São Paulo há pouco mais de dez anos. Já foi professor de design de interiores, participante da Agenda 21 para construção sustentável nos países em desenvolvimento e, hoje, está à frente do coletivo Whydesign, junto com os arquitetos Guto Requena e Tatiana Sakurai. Seu escritório desenha e produz dezenas de itens, inclusive tecidos, para clientes como Bertolucci, Micasa, Cartel 011 ou La Lampe.
A pegada criativa de Arruda vai do conceitual ao reciclável, das soluções simples ao inusitado. "Ruas e pessoas influenciam o meu trabalho. Caçambas de entulho, catadores de papel e locais populares chamam a minha atenção." Um exemplo dessas referências está no Pallet Project, dividido com o escritório britânico Studiorama. "A partir da ideia do 'faça você mesmo', monto peças com o reuso de estruturas de madeiras inutilizadas nas cargas do Ceagesp."
Ele garante que continuará com ações experimentais. Mas, desde já, avalia que produzir em grande escala para o mercado internacional exigirá planejamento futuro e, principalmente, foco em espaços mais reduzidos. "A Ikea investe muito na Ásia e em economias emergentes. A habitação urbana requer novo dimensionamento." Outra posição que defende é a permanência. "Levo em conta a memória do móvel como uma 'sustentabilidade'. Gostar e manter cada peça por mais tempo."
Esses objetivos se juntam ainda à curiosidade que o design brasileiro contemporâneo desperta no circuito mundial. "Ultrapassamos a fase do futebol e do Carnaval. Hoje, somos uma indicação de criatividade." Maurício Arruda começa a perceber o que atrai o olhar estrangeiro: "Nosso estilo baseado no improviso, no bom humor e na simplicidade".

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