São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2005

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experimentar

Doutores do improviso

Gilberto Dimenstein
colunista da Folha

César Augusto Machado Gouvêa e Marcio Ballas, ambos com 33 anos, estudaram publicidade, mas acabaram seduzidos pela vida de palhaço. Há alguns anos, participaram da criação de um grupo de palhaços que faz experiências com a arte da improvisação, o que lhes exigia ensaios semanais. Descobriram, então, que aquelas cenas destinadas a fazer rir as platéias despertavam o interesse de executivos preocupados em melhorar sua performance. "Obviamente, isso nunca fez parte de nossos planos", conta Gouvêa, que cedia o quintal de sua casa para os ensaios do grupo. Os ensaios se transformaram num espetáculo intitulado "Jogando no Quintal", que, há dois anos, ocorre uma vez por mês -quase sempre com as platéias lotadas- em algum espaço improvisado, como uma quadra de escola pública, por exemplo. São duas equipes que disputam um jogo: ganha quem improvisar melhor. Quem escolhe o ganhador são os espectadores, convidados a dar os temas para a improvisação. Especialistas em recursos humanos viram ali um filão educacional. "Cada vez mais as empresas esperam de seus executivos criatividade, capacidade de trabalho em equipe, ousadia", conta Marcio Ballas. Nos encontros de formação de executivos, é comum constarem exigências como essas, afinal, na chamada era do conhecimento os problemas ocorrem com mais rapidez e exigem respostas imediatas. O espetáculo não é adaptado para executivos. "Apenas mostramos nosso jogo de improvisação", afirma Ballas. O resultado tem agradado tanto que a dupla de palhaços tem sido chamada para outros encontros de treinamento, nos quais nem sempre gráficos e palestras conseguem sensibilizar os ouvintes. O show se transforma na tradução, ao vivo, das palestras feitas por especialistas. A experiência mostra que improvisar dá trabalho. Para manter a forma, os palhaços do "Jogando no Quintal" ensaiam três horas por dia, três dias por semana. A intenção do grupo é ocupar espaços alternativos e brincar com a improvisação. Seu objetivo era dar prazer e provocar risos, mas os dois palhaços aprenderam que, numa sociedade que exige cada vez mais rapidez, eles também podem ajudar a educar.


Gilberto Dimenstein , 47, jornalista, é membro do Conselho Editorial da Folha e faz parte do board do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia (EUA). Criou a ONG Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo.
@ - gdimen@uol.com.br



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