São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005 |
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Entrevista Astrofísico indiano afirma que a superstição religiosa na Índia atrapalha o desenvolvimento científico mais do que a pobreza e explica por que acredita que a Sars (síndrome respiratória aguda grave) seja uma doença trazida por microrganismos extraterrestres Razão e Fé
Leandro Beguoci
Qual é o maior problema de um país que tem 40% de analfabetos, taxa de mortalidade infantil maior que a do Timor Leste e
expectativa de vida inferior a do Iraque em guerra? Não, a resposta não é a pobreza -é a superstição. Ao menos, essa é a opinião do
astrofísico indiano Jayant Narlikar, 67, um dos mais importantes cientistas de seu país. "A pobreza influencia o estado material das pessoas. A
superstição afeta suas mentes", afirma. "Em algumas regiões do país, as
mais religiosas, laboratórios científicos não entram." Típico filho da elite indiana -seu pai era professor universitário de matemática e a mãe,
de sânscrito, uma das mais de 15 línguas faladas na Índia- Narlikar estudou e fez carreira na Inglaterra, onde foi pesquisador sênior da Universidade Cambridge. Quando voltou à Índia, em 1972, já era considerado um grande cientista, fama que se consolidou com o tempo. Em
1988, depois de trabalhar 16 anos como professor universitário, foi chamado para ajudar na criação do Centro Interuniversitário para a Astronomia e a Astrofísica, órgão estatal que se tornou referência em pesquisas do universo. Em seu currículo, o astrofísico ostenta a condição de
membro da Sociedade Filosófica de Cambridge e da Academia Nacional de Ciências da Índia. Seus trabalhos sobre o espaço e a vinda de
doenças em meteoros, como a Sars (síndrome respiratória aguda grave), são discutidos mundo afora. Porém, a obra da qual ele mais se orgulha -e pela qual ganhou um prêmio da Unesco em 1996- é a de ter
se tornado referência em divulgação científica na Índia, o segundo país
mais populoso do mundo. No começo, foram programas de rádio no
qual ele explicava, por exemplo, por que as pessoas não tinham de ficar
com medo de sair de casa em dias de eclipse solar. O sucesso foi tão
grande que os programas viraram seriados de TV e livros didáticos.
Hoje, Narlikar é líder de um projeto, já em funcionamento, de construção de diversos planetários pelo interior da Índia e está empenhado em
popularizar um parque de diversões científico, onde ele quer que as
pessoas aprendam, brincando, o que é uma chuva de meteoros, um buraco negro, um cometa. Apesar do reconhecimento, está longe de obter
sucesso. Primeiro, porque todo material de divulgação científica tem de
ser traduzido para cada uma das 15 línguas do país. Segundo, por causa
da resistência da própria população. Como acontece com outras religiões, a ciência se confronta com a crença. Mas, quando a crença nasce
com o país e é comum a 80% da população, como é o caso do hinduísmo na Índia, a tarefa de divulgar a ciência ganha contornos hercúleos.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Narlikar concedeu à
Folha, por e-mail. |
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