São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005

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Carreira

Saiba quais foram as três lições que os participantes de "O Aprendiz", reality show apresentado pelo empresário Roberto Justus, apreenderam dos tempos de confinamento e descubra por que, para alguns deles, não vencer também foi uma vitória

Leandro Beguoci
da reportagem local

Em sua primeira edição, no final de 2004, o programa de TV "O Aprendiz" -reality show apresentado pelo empresário Roberto Justus na Rede Record- avaliava a "competência e a inteligência" dos candidatos e suas habilidades de desempenhar funções como "vendas, marketing, promoções e ações beneficentes". Já a segunda edição, que terminou no último dia 18, preferiu candidatos com "competência, integridade e habilidade". O site informa que, neste ano, os candidatos seriam "submetido aos mais exigentes testes e à mais impressionante pressão durante várias semanas seguidas". O que essa mudança de tônica significa?


"Na primeira versão [de "O Aprendiz"], tínhamos três candidatos com pós-graduação no exterior e mesmo assim essas pessoas foram demitidas", afirma Justus. "Acredito que uma boa formação acadêmica é importante, mas não é tudo. O estilo pessoal e a determinação de um candidato em busca de seus objetivos contam muito mais, às vezes."


Para desvendar esse código, a Folha conversou com 15 dos 16 participantes da edição inaugural e perguntou a eles qual foi a influência do programa em suas carreiras e o que eles levaram dos meses de confinamento. Para a primeira pergunta, a resposta foi que, fora o reconhecimento na rua, nada aconteceu. Em relação à segunda pergunta, ficaram as previsíveis lições de que a TV não mostra a vida como ela é e de que a educação não garante uma carreira de sucesso, além de um dado interessante: os participantes acham que as regras que ordenam o mundo corporativo não são as mesmas para todas as pessoas.

"O programa não é uma seleção de empregos, é um show. Vai ficando quem dá mais audiência", afirma Heloisa Guimarães, 35, a única entre os ex-aprendizes que está desempregada. Mesmo a vencedora, Vivianne Ventura Brafmann, 28, que foi contratada pelo salário anual de R$ 250 mil, tem a mesma opinião: "Essa história de que "O Aprendiz" é uma grande dinâmica de grupo não é verdadeira". Toni Doemoendi, 35, que estava desempregado antes de ser aceito para compor a equipe, completa: "Os prazos, as provas, nada chega perto do dia-a-dia do meu trabalho". Hoje, Toni trabalha na IBC, uma empresa de comunicação empresarial. Para os três, a realidade é muito mais complexa e cheia de nuances do que a edição do programa deixou ver. Essa é a lição número um que eles tiraram do confinamento.
Fã do programa, João Marcio Souza, gerente da Michael Page, empresa especializada em recrutamento de profissionais, acredita que há mais realidade do que show no programa -ao menos no que diz respeito às exigências empresarias. Para Souza, faltou aos participantes uma visão clara do que eles iriam disputar. "O Justus procura pessoas por causa do seu potencial e não pelo que elas são agora", afirma Souza. "Se o candidato tiver competência e souber se vender, se dará bem", defende o gerente.
O próprio Justus não pensa diferente. "Na primeira versão, tínhamos três candidatos com pós-graduação no exterior e mesmo assim essas pessoas foram demitidas", afirma Justus. "Acredito que uma boa formação acadêmica é importante, mas não é tudo. O estilo pessoal e a determinação de um candidato em busca de seus objetivos contam muito mais, às vezes." Educação pode ser importante, mas, sozinha, não garante o futuro de ninguém. Essa é a lição número dois.
Vivianne Brafmann, a vencedora, não faltou a essa aula. "Eu era tão boa quanto tantos outros bons candidatos. A diferença é que eu nunca quis tanto uma coisa coisa quanto ser funcionária do Roberto [Justus]", coloca ela, que se formou em administração de empresas pela Unip (Universidade Paulista). Hoje, seu maior objetivo é se manter no emprego. Como seu salário é pago pela Vivo, empresa que patrocinou a primeira edição de "O Aprendiz", Vivianne precisa convencer Justus a realmente contratar seus serviços quando o prêmio acabar.
Esse é o mesmo desafio de Flávio Porcel, 27, que venceu a segunda edição do reality show e que também se formou pela Unip. Apesar de Porcel ter perdido a última prova do programa, ele foi contratado. Durante a final, nenhuma menção foi feita a seu desempenho. Justus deixou claro que o rapaz foi contratado porque era uma pessoa "divertida e que sabe trabalhar com pessoas". Em sua defesa, quando o empresário lhe perguntou por que contratá-lo mesmo com resultados menores do que os de sua concorrente, Porcel respondeu que traria resultados melhores à empresa porque sabia trabalhar em equipe. A resposta foi decisiva.
"Em uma entrevista de emprego ou no dia-a-dia da corporação, você tem de dizer só o que o seu chefe ou o entrevistador quer ouvir", afirma Cíntia Bragato, 29, que estava desempregada há dez meses quando se candidatou e foi aceita para participar do programa. Com um MBA e três línguas estrangeiras no currículo, ela saiu do programa com uma visão muito mais aguda do que acontece dentro das empresas."O mundo corporativo é uma selva, o espírito de competitividade fica à flor da pele, o estresse é muito alto e os chefes não têm critérios." Essa seria a terceira lição que os participantes tiraram da experiência na TV.
De volta ao mundo real, Cíntia conseguiu o emprego de gerente de marketing da WDC Networks, uma companhia de tecnologia em rede e telecomunicações. Quando foi contratada, ouviu a frase tão aguardada: "Meu gerente, uma pessoa que eu admiro muito, me disse, em coro, junto com o pessoal de recursos humanos: "Cíntia, você está contratada". Não ganho tanto quanto a Vivi, mas estou muito feliz por aqui." No começo desta reportagem, faltou listar uma última lição apreendida pelos egressos de "O Aprendiz": nem sempre um emprego abonado compensa as agruras que ele proporciona.


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