São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 2005 |
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Caminho das pedras Efêmeras e críticas, intervenções urbanas como a Cow Parade, que chega a São Paulo no começo de setembro, ganham status de arte e destaque em canteiros, muros, postes e calçadas de vários países Cidades sitiadas
Maria Angélica Melendi
Em uma tarde, num canteiro abandonado de uma avenida de Belo Horizonte, abrem-se centenas de flores vermelhas de papel celofane. No centro de Buenos Aires, os passantes são surpreendidos por uma invasão de soldadinhos de brinquedo descendo de
pára-quedas dos prédios mais altos. Esses trabalhos, do Grupo Poro e
do Grupo de Arte Callejero, respectivamente, estão entre os muitos que
acontecem todos os dias nas ruas de nossas cidades.
É bom lembrar que, em 1981, Marcelo Nistche foi premiado no 12º Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte com uma intervenção urbana intitulada "Vaca de Concreto", que consistiu na instalação de uma escultura de concreto do animal, em tamanho natural, no passeio da rua Leopodina, em Belo Horizonte, onde a peça permanece até hoje (confira em www.comartevirtual.com.br). No começo dos anos 90, um grupo de jovens ligados ao fanzine "O Marmota" organizou intervenções periódicas na "vaquinha" de Nistche. Pintada por alguns integrantes do grupo, a escultura era reinaugurada a cada mês, ocasião em que os artistas faziam festas na rua. O que hoje chamamos de intervenção urbana envolve um pouco da intensa energia comunitária que floresceu nos anos de chumbo. Os trabalhos dos artistas contemporâneos, porém, buscam uma religação afetiva com os espaços degradados ou abandonados da cidade, com o que foi expulso, apagado ou esquecido na afirmação dos novos centros. Por meio do uso de práticas que se confundem com as da sinalização urbana, da publicidade popular, dos movimentos de massa ou das tarefas cotidianas, esses artistas pretendem abrir na paisagem pequenas trilhas que permitam escoar e dissolver o insuportável peso de um presente cada vez mais opaco, cada vez mais complexo. Maria Angélica Melendi , 60, nasceu em Buenos Aires, vive e trabalha no Brasil desde 1975, é professora adjunta do Departamento de Artes Plásticas da Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisadora do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Hoje, Maria Angélica estuda as artes visuais em relação com o cenário político da América Latina, com ênfase às estratégias de memória e identidade, assunto sobre o qual publicou artigos em livros, periódicos e revistas acadêmicas. Texto Anterior: Sabor do saber - Rubem Alves: A avaliação da performance das escolas Próximo Texto: Caminho das Pedras Índice |
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