São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2011

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Seu chefe mandou um... :-)

Sorrisos e piscadelas dos emoticons migram dos e-mails e textos de crianças e jovens para mensagens formais de trabalho de altos executivos e empresários

JUDITH NEWMAN

DO "NEW YORK TIMES"

Mary Lou DiNardo checou três vezes antes de ter certeza: será que aquilo era um emoticon de sorriso no final do último e-mail de seu cliente mais ríspido?
Executivo da imobiliária West Coast, ele era "um homem muito intelectualizado e sério", disse DiNardo, presidente da TK/PR, empresa de relações públicas.
"Eu tenho trabalhado com ele há sete anos. De repente, enquanto nós estávamos discutindo problemas com um vendedor, ele se despediu com um desses emoticons sorrindo ou piscando. Na verdade, não me lembro de tê-lo visto, alguma vez, com um sorriso em seu rosto real."
DiNardo está entre os profissionais que recebem sorrisos e piscadelas, conforme os emoticons migram inesperadamente dos e-mails e textos de adolescentes para correspondências de empresários.
"Não há dúvidas de que os tenho enviado e recebido com mais frequência", disse Martha Heller, presidente da Heller Search Associates, empresa de recrutamento de executivos do setor de tecnologia.
"Geralmente, eu uso um emoticon sorrindo ou piscando quando quero sinalizar que meu comentário foi irônico. Por exemplo, eu contratei um gerente de marketing para lançar minha empresa no mundo das redes sociais, e lhe enviei um aviso -'Ouvi dizer que existe algo chamado Twitter'- e adicionei o emoticon para que ele soubesse que não estou tão desinformada assim."

SINAIS TROCADOS
Porém os emoticons podem gerar outros problemas: eles não são lidos da mesma forma nas diferentes interfaces. "Na função de texto do meu BlackBerry, há um menu de emoticons que mostra caras amarelas sorrindo, chorando, piscando etc.", afirmou Lisa M. Bates, professora-assistente de epidemiologia da Universidade Columbia.
"Enviei uma imagem nova, um emoticon de 'grande abraço'. Mas, no iPhone de um colega, ele apareceu em formato de símbolos, sem cara de sorriso e sem lembrar um abraço. Na visão dele, aquilo se parecia, digamos, com uma imagem de partes femininas: ({})."
Estudiosos de comunicação digital veem o uso crescente desses símbolos como algo inevitável, mas nem sempre desejável. "Eles são parte da degradação das habilidades da escrita que acompanham a tecnologia", disse Bill Lancaster, professor de comunicação da Universidade Northeastern, em Boston.
Talvez não surpreenda, então, que escritores e professores estejam entre os últimos resistentes aos emoticons. Michele Farinet, coordenadora de uma escola em Manhattan, é muito crítica.
"É como um filme em que, logo que o pai agarra o cachorrinho, a câmera imediatamente focaliza a expressão lastimosa do filho -como se o diretor não acreditasse que o espectador fosse capaz de sentir uma emoção condizente com a cena", diz Farinet.
"Você seria capaz de imaginar o final de 'O Grande Gatsby' dessa forma? 'Então partimos, barcos contra a corrente, levados incessantemente de volta para o passado :-('"

Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS


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