São Paulo, quarta-feira, 06 de julho de 2011 |
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ANDRÉ CONTI Caminhos longos para rotas curtas
Um amigo está programando um jogo. É um MUD, ou "Multi User Dungeon", um jogo on-line onde as pessoas se encontram para explorar labirintos e enfrentar o que quer que esse meu amigo deseje colocar contra elas. Tudo, obviamente, através de comandos de texto e sem gráficos. Que cinco pessoas acabem jogando já torna admirável o esforço dele. Os jogos de texto foram moda há 30 anos, quando os programadores precisavam se desdobrar para vencer a escassez de recursos das máquinas. Hoje há uma série de ferramentas que automatizam a parte técnica da criação desses jogos, bastando bolar a história e a estrutura. Mas meu amigo nem quis saber, e ficou ofendido quando sugeri. A única maneira possível era começar do zero. Hoje em dia instalar Linux numa máquina é algo relativamente fácil. As distribuições mais famosas têm instaladores automáticos e amigáveis, e já é possível sobreviver sem linhas de comando e noções de cabala. Há tempos que o Linux se tornou uma alternativa viável para quem apenas navega, escreve e ouve música no computador. O Arch Linux é uma distribuição de GNU/Linux bem mais xiita. O "guia do iniciante", focado no processo de instalação, tem boas 30 páginas, cheio de alertas vermelhos do tipo "cuidado, esse processo pode corromper o disco!". Ao mesmo tempo, permite um grau de personalização fora do comum: o usuário instala apenas os componentes que vai utilizar, um a um, resultando num sistema enxuto e sem uma linha desnecessária de código. O movimento contínuo da tecnologia é de simplificar as coisas. A cada sistema operacional os processos se tornam mais claros e fluidos para o usuário final, na mesma medida em que o uso que as pessoas fazem de seus computadores vai se uniformizando. Seja no Windows, no Mac OS ou no Linux, a experiência que o usuário terá checando e-mails, escrevendo um texto ou vendo um filme será bastante similar. O que leva então alguém a programar do zero -quando há ferramentas disponíveis- um jogo que ninguém vai jogar? Ou alguém a escolher linha a linha o que espera de seu sistema operacional, de modo que ele não transpire uma gota de memória a mais do que você delimitou? Há dezenas de exemplos parecidos. Desde o início da computação pessoal, a flexibilidade dessas máquinas permitiu que um pequeno grupo de usuários alavancasse toda uma indústria adiante. Não é à toa que os cambalachos que o Steve Wozniak usou no código do Apple II ainda sejam motivo de lenda. A enorme complexidade da empreitada tinha como único fim agradar a ele a aos poucos que iriam entender a graça daquilo. Longe de fazer proselitismo, mas quando alguém reclama que os sistemas operacionais dos PCs e gadgets estão cada vez mais fechados, é esse tipo de progresso que acaba barrado pelas empresas. O salto que vem do difícil pelo difícil, de inventar caminhos mais longos para rotas curtas. Antes eram as limitações técnicas que impeliam os melhores arroubos de criatividade. Hoje é a dificuldade imposta pelas fabricantes que força os caminhos mais inesperados. Ou alguém com muito tempo livre. chorume.org @andre_conti LULI RADFAHRER Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer Texto Anterior: World of Warcraft torna-se grátis para jogador menos experiente Próximo Texto: A internet está vazando Índice | Comunicar Erros |
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