São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER folha@luli.com.br

Uma grande cidade pequena

COM MAIS de meio milhão de pessoas plugadas a comunidades digitais, não se pode mais dizer que as relações sociais on-line sejam uma tendência ou que tenham potencial. O mundo hiperconectado, em que a localização instantânea é muito mais importante do que o endereço de residência, é uma realidade cada vez mais presente.
No entanto o mundo não parece ter ficado maior. Por mais que seja possível conversar com um colhedor de trufas na França, um surfista na Tanzânia, um Amish americano, um monge afegão ou um pescador mexicano, todos sabemos que esses contatos são potenciais.
A maioria das pessoas continua inatingível, não por ser importante ou famosa, mas por estar restrita a grupos com outras afinidades.
O mundo real ainda está muito longe de ser integrado. A sensação que se tem ao analisar a dinâmica das redes sociais é diametralmente oposta. As interações entre seus membros são características de uma comunidade pequena, fechada e uniforme, em que novas formas de pensar são quase uma heresia. Parece até que a ideia da Aldeia Global, tão falada nos anos 60, se concretizou ao contrário, tomando a forma de uma gigantesca cidade pequena, com uma mentalidade típica, que encolhe sua percepção de mundo à medida que se expande.
Um possível motivo para esse comportamento é a falta de afinidade. Metade do mundo ainda está desconectada, dois terços da população não usa caracteres romanos e, mesmo entre os que falam a mesma língua, há pouco assunto em comum para se discutir além das trivialidades da mídia. Fica fácil entender por que boa parte do conteúdo gerado pelo usuário não passa de uma versão empobrecida da TV que tanto se criticou. As fontes de informação continuam as mesmas e, à medida que se demanda saber tudo sobre tudo, o conhecimento formado se torna raso e dogmático, cheio de mitos, vícios e preconceitos.
Com as mesmas fórmulas de conteúdo e entretenimento aplicadas pelo mundo afora, os ambientes se tornam mais amigáveis e menos interessantes. Discutir ideias, por mais que seja fascinante, é cansativo e pode ser desagradável, e esses são pecados grandes demais para uma civilização que está estressada e é protegida (mimada?) por marcas que fazem tudo o que queiram, desde que continuem a ser consumidas.


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