|
Texto Anterior | Índice
#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER folha@luli.com.br
Uma grande
cidade pequena
COM MAIS de meio milhão de
pessoas plugadas a comunidades digitais, não se pode
mais dizer que as relações sociais on-line sejam uma tendência ou que tenham potencial. O mundo hiperconectado, em que a localização instantânea é muito mais importante do que o endereço de residência, é uma realidade cada vez mais presente.
No entanto o mundo não
parece ter ficado maior. Por
mais que seja possível conversar com um colhedor de
trufas na França, um surfista
na Tanzânia, um Amish americano, um monge afegão ou
um pescador mexicano, todos sabemos que esses contatos são potenciais.
A maioria das pessoas continua inatingível, não por ser
importante ou famosa, mas
por estar restrita a grupos
com outras afinidades.
O mundo real ainda está
muito longe de ser integrado.
A sensação que se tem ao
analisar a dinâmica das redes sociais é diametralmente
oposta. As interações entre
seus membros são características de uma comunidade pequena, fechada e uniforme,
em que novas formas de pensar são quase uma heresia.
Parece até que a ideia da Aldeia Global, tão falada nos
anos 60, se concretizou ao
contrário, tomando a forma
de uma gigantesca cidade pequena, com uma mentalidade típica, que encolhe sua
percepção de mundo à medida que se expande.
Um possível motivo para
esse comportamento é a falta
de afinidade. Metade do
mundo ainda está desconectada, dois terços da população não usa caracteres romanos e, mesmo entre os que falam a mesma língua, há pouco assunto em comum para
se discutir além das trivialidades da mídia. Fica fácil entender por que boa parte do
conteúdo gerado pelo usuário
não passa de uma versão empobrecida da TV que tanto se
criticou. As fontes de informação continuam as mesmas e,
à medida que se demanda saber tudo sobre tudo, o conhecimento formado se torna raso e dogmático, cheio de mitos, vícios e preconceitos.
Com as mesmas fórmulas
de conteúdo e entretenimento
aplicadas pelo mundo afora,
os ambientes se tornam mais
amigáveis e menos interessantes. Discutir ideias, por
mais que seja fascinante, é
cansativo e pode ser desagradável, e esses são pecados
grandes demais para uma civilização que está estressada
e é protegida (mimada?) por
marcas que fazem tudo o que
queiram, desde que continuem a ser consumidas.
Texto Anterior: Ficha técnica: Starcraft II Índice
|