São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2011

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Ódio registrado na rede gera risco de violência fora dela

Menina de 11 anos chegou a receber ameaças de morte depois de ter publicado vídeo polêmico na internet

Moderadores lamentam anonimato; leitores de sites de notícias usam a internet para mostrar sua indignação

Carlos Cecconello/Folhapress
A.A.S., moderador de comunidades, sofre para controlar os 'haters'

DE SÃO PAULO

Aos 11 anos, Jessica Leonhardt -conhecida no YouTube como Jessi Slaughter-buscava fama na internet. "Topo qualquer tipo de fama", disse ela em um de seus vídeos. A situação saiu do controle.
Jessica fez um vídeo recheado de palavrões e disse que as pessoas que falavam mal dela -os chamados "haters"- tinham apenas ciúmes, já que ela era "perfeita".
A garota e sua família receberam ameaças de morte, foram vítimas de pegadinhas por telefone, e a escola onde ela estudava recebeu um pacote que foi tomado como suspeita de bomba -não era nada, segundo o site Smoking Gun, que diz ter obtido os documentos policiais relacionados ao caso.
Jessica foi colocada sob proteção da polícia e, em seguida, enviada para uma clínica para tratar sua saúde mental -constatou-se que a garota tinha tendências suicidas.
O caso de Jessica deixou em evidência um ato recorrente na internet: o despejo de ódio e indignação.

BATALHA PERDIDA
A.A.S., moderador de comentários de um grande portal, que prefere não divulgar seu nome, considera o anonimato dos internautas um perigo.
"Eles têm a 'segurança' de falar o que bem entendem sem sofrer nenhum tipo de retaliação", diz.
Mesmo os usuários identificados causam trabalho. "Já recebemos ameaças de mensagem para a presidência da empresa por termos deletado um comentário."
Para ele, há grande relação entre o "hater" e o usuário considerado "fanboy", apelido dado aos fãs de determinada marca que se esforçam para defendê-la e detratar as concorrentes.
Em tom melancólico, ele aponta que a batalha contra os "haters" que se escondem no anonimato está perdida.
"Qualquer um pode criar um perfil falso. Tentar ter controle sobre isso não é fácil. É preciso mais investimento humano para fazer esse monitoramento", lamenta ele.

NADA A ESCONDER
Há também quem demonstre a indignação pela internet sem medo de revelar a identidade real. Em sites noticiosos, os comentaristas mais assíduos costumam ter um assunto preferido: política.
Um deles é o agente de viagens Ricado Kaffa, 46. Apesar do uso frequente de várias exclamações em sequência e de letras maiúsculas em seus comentários, ele ressalta que não usa o espaço só para expressar revolta. "Não é só indignação. Tem alegria também", afirma.
Kaffa conta que os comentários não agradam a algumas pessoas. "Vivem me denunciando, e mal uso palavras ofensivas." Apesar de comentar muito, ele é cético em relação ao impacto disso. "Não vou mudar o mundo com meus comentários."
O aposentado Antonio Carlos Wanderley, 60 anos, diz que comenta em vários jornais e blogs. Seu assunto preferido também é política.
"Antes de começar a usar a internet, cheguei a comprar um fax para enviar opiniões a jornais e demonstrar minha indignação", diz.
Ele garante que a distância física não faz com que ele se sinta mais livre para dizer as suas opiniões. "Talvez eu consiga me expressar melhor escrevendo, mas fico à vontade de qualquer forma quando defendo um ponto de vista."
(AMANDA DEMETRIO, LEONARDO LUÍS E LEONARDO MARTINS)


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