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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
O Orkut de quem usa terno
JÁ FOI FÁCIL arranjar emprego ou se manter nele. Bastava
ter um diploma ou conhecer
as pessoas certas. Recentemente essa dinâmica parecia
ter migrado para a Internet.
Um bom perfil em uma rede
social profissional, diziam os
consultores, era o caminho
certeiro para encher os olhos
do RH.
Os números de adesão são
impressionantes. O LinkedIn,
a maior dessas redes, já passou dos 75 milhões de membros, mais do que as populações da França e da Bélgica
somadas. Ele cresce à taxa de
um novo cadastro por segundo. Só no Brasil, já são mais
de um milhão.
Bom demais para ser verdade? Óbvio. Todos são lindos, cultos e gentis nesse repositório de profissionais
überqualificados à espera de
oportunidades. Seus históricos são invejáveis, e suas referências, indiscutíveis. Mas
quem se impressiona com o
que vê por lá precisa lembrar
que as primeiras salas de
chat estavam sempre cheias
de quem dizia ser jovem e loira e linda.
As redes podem ter se digitalizado, mas os relacionamentos continuam a ter sutilezas além da capacidade de
compreensão de bases de dados. A prova disso está na
quantidade de gente que se
frustra em sites de encontros
enquanto outros se apaixonam pelo colega com quem
matam dragões em videogames. Quando o ambiente é
formal ou intencional, há
sempre uma retração. Já
quando estão todos à vontade, as relações fluem melhor.
Claro? Pois explique isso para
uma máquina.
Nas redes, o contexto determina a função. Na Wikipédia a verdade é o maior valor,
por isso qualquer atentado
para corrompê-la é considerado um vandalismo. Já entre
executivos o que vale é o networking, e aí não se pode esperar que alguém perca um
contato potencial em nome
da firma. Com isso, a maioria
dos perfis se transforma em
exercício de realismo fantástico ainda mais grandioso do
que os velhos currículos. Recomendações são ainda piores, já que ninguém o culpará
por elogiar um chefe ou cunhado.
Comunidades profissionais on-line são boas ferramentas, mas estão do lado errado da recepção. Elas seriam mais efetivas se estivessem dentro das empresas, depois do filtro da seleção. Sem
a pressão social do cargo e
salário e com a responsabilidade de uma indicação que
afete a comunidade, não duvido que seriam ótimas para
identificar a pessoa certa para cada função.
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