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Crianças da Índia vasculham o tóxico lixo eletrônico
Doenças respiratórias estão entre os riscos para os catadores; em 2020, país terá 500% a mais de sucata tecnológica do que em 2007
ELIZABETH ROCHE
DA FRANCE PRESSE
Jovens catadores vasculhando o lixo são uma imagem comum da pobreza crônica da Índia, mas agora há
novos perigos com a crescente indústria do e-lixo. Asif, 7,
passa os dias desmontando
equipamentos eletrônicos
em uma pequena e pouco iluminada unidade na região
leste de Nova Déli, junto com
outros seis garotos.
"Meu trabalho é catar estas pequenas caixas pretas",
disse ele, enquanto seus dedos agilmente colhiam circuitos integrados da pilha de
restos de computadores ao
seu lado. Seu irmão mais velho, Salim, 12, também dá
duro no trabalho em vez de
estar na escola. Ele extrai
transistores e capacitores de
placas.
Os irmãos, que não revelam quanto ganham, dizem
que estão freneticamente
ocupados com o crescente
número de computadores,
impressoras e outros bens
eletrônicos que são descartados por lares e empresas.
Poucas estatísticas sobre a
indústria informal do e-lixo
são conhecidas, mas um relatório das Nações Unidas,
publicado em fevereiro, descreve como montanhas de resíduos perigosos de produtos
eletrônicos estão crescendo
exponencialmente em países
em desenvolvimento.
Em 2020, diz o documento, a Índia terá 500% a mais
de e-lixo proveniente de
computadores velhos e 18 vezes mais celulares antigos
descartados do que em 2007.
Os riscos para quem manuseia esses restos estão claros para T.K. Joshi, chefe do
Centro de Saúde Ocupacional e Ambiental do Maulana
Azad Medical College, em
Nova Déli. Durante 12 meses,
ele estudou 250 pessoas que
trabalham na cidade com reciclagem e desmontagem de
equipamentos e descobriu
que quase todos têm problemas respiratórios como asma
e bronquite.
"Encontramos níveis perigosamente altos -dez a 20
vezes mais do que o normal-
de chumbo, mercúrio e cromo em amostras de sangue e
urina. Tudo isso tem um efeito prejudicial nos sistemas
respiratório, urinário e digestivo, além de incapacitar a
imunidade e causar câncer",
disse ele à France Presse.
Os metais e substâncias tóxicas entram na corrente
sanguínea dos trabalhadores
durante o processo de extração manual, em razão da precariedade dos equipamentos
para obter minúsculas quantidades de metais preciosos.
Equipamentos de segurança, como luvas e máscaras, são praticamente desconhecidos, e os trabalhadores
-muitos deles crianças- geralmente não têm ideia do
que estão manuseando.
"Todos os trabalhadores
que entrevistamos não tinham ciência do perigo ao
qual estavam expostos. Eles
são analfabetos e estão desesperados por um emprego", diz Joshi. "Para eles, a
escolha é clara: morrer de fome ou intoxicado".
MORTE LENTA
Ele alerta que a exposição
a subprodutos do e-lixo, como cádmio e chumbo, pode
resultar em morte lenta e dolorosa. "Eles não conseguem
dormir ou andar. Estão esgotados ao atingir 35, 40 anos e
incapazes de trabalhar".
Não há estimativas de
quantas pessoas morrem na
Índia por causa do e-lixo, já
que trabalhadores doentes
retornam aos seus vilarejos
quando não conseguem
mais se sustentar.
"Computadores, TVs e celulares são os mais perigosos
porque têm altas taxas de
chumbo, mercúrio e cádmio,
além de serem mais descartados, por seu curto tempo de
vida", diz Priti Mahesh, coordenadora do grupo ambiental Toxic Link.
O governo indiano propôs
uma lei para regulamentar o
comércio de e-lixo, mas o
Centro para Ciência e o Ambiente (CSE, na sigla em inglês), um outro grupo ambiental de Déli, diz que qualquer legislação ignoraria o
exército de trabalhadores informais, como os irmãos Asif
e Salim.
"A proposta diz que apenas grandes empresas devem fazer reciclagem e desmontagem. Isso não irá funcionar porque o setor informal já tem um sistema barato, que será usado pelas pessoas", diz Kushal Pal Singh
Yadav, membro do CSE.
Tradução de BRUNO ROMANI
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