São Paulo, quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

O bonde da Brooksfield

TODO O MUNDO conhece a Brooksfield. Uma marca sóbria, no Shopping Iguatemi desde 1987, ela se destaca por uma alfaiataria requintada, discreta em dias úteis e com uma personalidade firme que não perde a classe nos fins de semana. Seu logotipo, um pato selvagem a voar, faz referência ao "countryside" inglês. A imagem que se tem de seus usuários em ocasiões informais é a do sujeito bem-sucedido, com camisa alinhada e suéter jogado sobre os ombros.
Isso é o que defende sua comunicação. No entanto...
Todo mundo conhece a Brooksfield. Na quebrada, virou vício. Bombando na internet, a pomba é muito louca. De listrada amarela-com-roxa ou preta-com-azul, é destaque pra quem vê e elegante pra quem usa. Papete, bermuda, camisa e boné. Pra completar o visu, Nextel-amarelo-Ferrari vem na cintura. Cordão de ouro pesado e, no bolso, plaquetas de cem. As novinha enlouquece, cachorrão só tira onda. Mandaram chamar a Lacoste, a Oakley e a Ecko. Esqueceram que a pomba quer o sucesso. Falou que a pomba era...PATO? Pato é voceis pra nóis!
O parágrafo acima é uma compilação de letras de funks diversos disponíveis no YouTube. A popularização da comunicação ignora fronteiras e, na falta de temas mais engajados, a crítica social é efeito colateral de um consumo desenfreado. Mesmo que muitos comemorem o sucesso em suas caixas registradoras, não há como evitar constrangimento de letras como o "bonde do canguru":
- Aqui dentro da favela, os muleke é cabuloso. No pé, tênis da moda. Com a calça já combinando. Camisa do canguru, tô indo pro baile funk. A Side Walk é uma marca pesada, é um pano de grife.
Respondido à altura pelo "bonde da Brooks":
- Canguru já tá cansado, a Brooks veio inovar. B-R-O-O-K-S. Todo mundo se liga no bonde da Brooks. É que os cara aqui gosta pouco. Quem porta Brooksfield já é. Quem não porta nem paga de louco.
Já se foi o tempo em que a mensagem, elitista, podia ser usada como um código restrito e determinante de status social por quem tinha acesso a ela. A moda, a etiqueta e os bens de consumo devem boa parte de sua importância aos limites da circulação de informação nos tempos passados. Hoje, qualquer conteúdo é público, e portar uma marca não quer dizer mais nada. A não ser que ela agregue valor real a seus usuários.


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