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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
O bonde da Brooksfield
TODO O MUNDO conhece a
Brooksfield. Uma marca sóbria, no Shopping Iguatemi
desde 1987, ela se destaca
por uma alfaiataria requintada, discreta em dias úteis e
com uma personalidade firme que não perde a classe
nos fins de semana. Seu logotipo, um pato selvagem a
voar, faz referência ao
"countryside" inglês. A imagem que se tem de seus usuários em ocasiões informais é a
do sujeito bem-sucedido, com
camisa alinhada e suéter jogado sobre os ombros.
Isso é o que defende sua comunicação. No entanto...
Todo mundo conhece a
Brooksfield. Na quebrada, virou vício. Bombando na internet, a pomba é muito louca.
De listrada amarela-com-roxa ou preta-com-azul, é destaque pra quem vê e elegante
pra quem usa. Papete, bermuda, camisa e boné. Pra
completar o visu, Nextel-amarelo-Ferrari vem na cintura. Cordão de ouro pesado
e, no bolso, plaquetas de cem.
As novinha enlouquece, cachorrão só tira onda. Mandaram chamar a Lacoste, a Oakley e a Ecko. Esqueceram
que a pomba quer o sucesso.
Falou que a pomba era...PATO? Pato é voceis pra nóis!
O parágrafo acima é uma
compilação de letras de funks
diversos disponíveis no YouTube. A popularização da comunicação ignora fronteiras
e, na falta de temas mais engajados, a crítica social é efeito colateral de um consumo
desenfreado. Mesmo que
muitos comemorem o sucesso
em suas caixas registradoras,
não há como evitar constrangimento de letras como o
"bonde do canguru":
- Aqui dentro da favela, os
muleke é cabuloso. No pé, tênis da moda. Com a calça já
combinando. Camisa do canguru, tô indo pro baile funk. A
Side Walk é uma marca pesada, é um pano de grife.
Respondido à altura pelo
"bonde da Brooks":
- Canguru já tá cansado, a
Brooks veio inovar. B-R-O-O-K-S. Todo mundo se liga no
bonde da Brooks. É que os cara aqui gosta pouco. Quem
porta Brooksfield já é. Quem
não porta nem paga de louco.
Já se foi o tempo em que a
mensagem, elitista, podia ser
usada como um código restrito e determinante de status
social por quem tinha acesso
a ela. A moda, a etiqueta e os
bens de consumo devem boa
parte de sua importância aos
limites da circulação de informação nos tempos passados.
Hoje, qualquer conteúdo é
público, e portar uma marca
não quer dizer mais nada. A
não ser que ela agregue valor
real a seus usuários.
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