São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

Um pouco de gentileza

HÁ UM PRECONCEITO arraigado em boa parte do mundo digital que emperra sua evolução, o de que processadores são ferramentas. À medida que a interação progride e as interfaces se tornam mais amigáveis, o diálogo fica complexo e emocional. Nesse contexto, quem continua a se comportar como uma máquina à espera de instruções corre o risco de ser encarado como um serviçal rústico, com quem ninguém deseja ter contato prolongado.
Esse problema é endêmico nos produtos e serviços que não emplacam ou que, mesmo que abocanhem uma boa parte do mercado, não têm usuários fiéis. É aquela TV bem boa que ninguém lembra se é LG ou Samsung; aquele celular bacana que deve ser da Motorola se não for da HTC; aquele notebook...
Mais focados nos avanços tecnológicos do que nos desejos e necessidades de seus usuários, muitos produtos são incomodamente espartanos e malcriados, se comportam como burocratas mal pagos e desinteressados que demandam que seus donos pensem como máquinas, aprendam suas manhas e façam tarefas repetitivas e inúteis.
Até a virada do século, essa rispidez era natural; ninguém esperaria gentileza de uma chave de fenda. O problema é que o mundo evoluiu muito mais rápido do que certas empresas que, concentradas no que tinham a vender, deixaram de perguntar se alguém ainda queria comprar.
A grosseria de muitos sistemas faz com que seus usuários se sintam estúpidos, sejam levados a cometer erros, tenham uma curva de aprendizado difícil de vencer e que, mesmo vencida, não proporciona uma experiência envolvente ou agradável.
A frustração fica evidente quando comparada com o mundo dos videogames. Por mais complexos que eles sejam, sempre se preocupam em elogiar e recompensar seus participantes à medida que progridem.
Já planilhas e sistemas de "eficiência" fazem o contrário, punindo os imbecis que não os compreendem.
Elegância e prestatividade ainda são consideradas "frescura" em boa parte do ambiente digital. É uma pena. Qualquer um que já as tenha experimentado no mundo árido do mercado de serviços sabe como são bens valiosos para seus consumidores.
É espantoso que tantas empresas ainda não percebam como podem ganhar com um pouquinho de gentileza em seus produtos.


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