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VIAGEM LITERÁRIA
Illiers-Combray ganhou nome composto em homenagem ao autor e não mudou muito de 1913 para cá
Casa de Proust e igreja resumem a cidade
DO ENVIADO ESPECIAL A ILLIERS-COMBRAY
O nome original era Illiers. A 25
km de Chartres, no meio do Pays
de Loire (a região por onde corre
o rio Loire), a cidadezinha adota
hoje um nome composto, retribuindo a homenagem impagável
do autor de "Combray".
"Vista de longe... da via férrea,
quando chegávamos na última
semana antes da Páscoa, não era
senão uma igreja resumindo a cidade", escreve Proust, que também compara a torre da igreja de
Saint-Jacques a um pastor, em
torno do qual se agrupam os telhados, como ovelhas, num círculo perfeito que faz pensar em alguma primitiva pintura medieval.
Illiers-Combray não mudou
muito de 1913 para cá.
Alguns turistas, agora, provavelmente leitores de Proust, caminham sem pressa pela praça, pelas alamedas e pelos jardins que se
espalham para além do perímetro
modesto de casas.
No mais, conservam-se o silêncio e a calma da cidade de província, à sombra quase soturna dessa
igreja escura e pesada.
O que há em Illiers, então? Há a
casa de Proust, espetáculo único
nessa paisagem pouco dada ao espetacular. Mas há algo inesperado
e maior, que transcende a peregrinação dos proustianos. É um ideal
de país, que a própria França hoje
só reconhece por exceção.
Uma casa coberta de folhas
avermelhadas, o prédio cansado
de uma grande escola (Liceu Marcel Proust, naturalmente), um jardim de macieiras: visões como essas acolhem o visitante que vem a
pé da estação de trem.
Num domingo, não há viva alma nas ruas, mas nem por um segundo elas parecem desabitadas.
A cidade respira, toda ela, humanamente, sem se exibir nem se esconder de quem chega.
Quem vai ao centro terá poucas
-mas honestas- opções de
abrigo. Três hoteizinhos, três restaurantes (domingo, só um), duas
casas de chá. "Onde fica a casa de
Proust?" deve ser a pergunta mais
ouvida pelos moradores, que nem
por isso se cansam de explicar o
trajeto. Logo além das casas fica o
"pré-catelan", o lindo jardim que
serviu de modelo para o caminho
de Swann de Proust. Mais além,
um horizonte infinito de terra cultivada.
Illiers-Combray não mudou
muito. Não vai mudar. Não deve
mudar. Quem muda, passando
por lá, somos nós.
(ARTHUR NESTROVSKI)
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