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"TUPI OR NOT TUPI?"
Canal de Bertioga foi local crucial para aventureiro
Alemão foi o primeiro artilheiro do forte de São Felipe, do qual só restam ruínas; o de São João é museu
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BERTIOGA
As águas escuras do canal de
Bertioga, hoje coalhadas de
embarcações, foram palco de
ações importantes durante os
conflitos entre os tupiniquins,
que eram aliados dos portugueses, e os tupinambás, na época
aliados dos franceses.
Era pelo canal de Bertioga
que os tupinambás avançavam
para a área tupiniquim, e foi
por isso que os portugueses decidiram levantar nesse ponto
estratégico o forte de São Felipe, no lado em que hoje fica o
Guarujá. Do forte sobraram
apenas ruínas das muralhas.
Atualmente, a trilha que dá
acesso ao local não está em condições de ser percorrida, e a vegetação impede que as ruínas
sejam avistadas de Bertioga.
Do outro lado do canal, foi
construído o forte de São João,
hoje um museu com exposição
permanente.
"O canal de Bertioga era o limite do território tamoio e o
início do tupiniquim", diz o historiador Eduardo Bueno. "Eu digo que
essa rivalidade entre paulistas e
cariocas é anterior ao homem
branco. Os tamoios eram supercariocas, no sentido da imagem estereotipada do carioca, e
esse grupo tupiniquim -também havia um grupo tupiniquim no sul da Bahia- que vivia em São Paulo era superpaulista", afirma, rindo.
O canal de Bertioga foi ainda
o cenário de um acontecimento
crucial na vida de Hans Staden,
contratado pelos portugueses
como o primeiro artilheiro do
forte de São Felipe.
Foi quando caminhava na
mata pelos arredores do forte
buscando por seu guarda-costas, um índio carijó, que o arcabuzeiro alemão foi capturado
pelos tupinambás, que o julgavam português e, portanto, passível de virar refeição.
Uma das principais atrações
de Bertioga é um símbolo do canal. O forte de São João é considerado a primeira construção
fortificada do país. Foi inicialmente erguido em paliçada, em
1532, e depois edificado em pedra, em 1547. Ele fica na avenida Tomé de Souza, na entrada
do canal de Bertioga, e abre todos os dias, das 9h às 17h. Para
entrar, o visitante paga apenas
R$ 1.
O forte fica no meio do parque dos Tupiniquins, aberto
em 2004, área arborizada onde
foi inaugurada no último dia 20
de abril -durante o Encontro
Nacional dos Índios- uma estátua de Staden, ao lado do índio carijó que o auxiliava no
forte de São Felipe.
O parque, onde alunos do
primário se aglomeram em torno de professores explicando o
ritual do canibalismo, ainda
abriga estátuas dos padres Anchieta e Manoel da Nóbrega e
do chefe tupinambá Cunhambebe, herói da resistência contra os portugueses e um dos líderes da Confederação dos Tamoios. Cunhambebe encontrou Hans Staden durante o
aprisionamento do alemão.
O forte abriga uma exposição
permanente de escudos com as
insígnias de Martim Afonso de
Souza, de Pedro Álvares Cabral,
de Hans Staden (um castelo),
armamentos do Exército português, um barco indígena feito
de um só tronco de árvore e artefatos de algumas tribos.
Reproduções da página de
rosto e de gravuras do livro de
Staden estão expostas nas paredes. Há uma oca com figuras
representando hábitos indígenas: um casal dorme em redes e
uma família espera por pedaços
de carne humana que assam
numa fogueira.
O visitante pode subir para o
ponto de defesa do forte, onde
dois canhões apontam para a
mata fechada do outro lado do
canal. A vista das embarcações
coloridas e das aves marinhas
em movimento contra os picos
enevoados do litoral paulista é
imperdível.
(MARINA DELLA VALLE)
Lá [na aldeia tupinambá de Ariró]
continuaram a zombar de mim. O filho do chefe
Cunhambebe me atou as pernas dando três voltas
em torno delas, e com os pés presos dessa forma
tive de pular pela cabana. Eles riam e gritavam: "Lá
vem nossa comida pulando!"
Hans Staden, em "Duas Viagens ao Brasil"
(trad. de Angel Bojadsen, L&PM, 2008)
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