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Atores aprenderam tupi em seis meses para longa-metragem
Cenas mostram tupinambás zombando de Staden, candidato a ser devorado
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Hans Staden" (1999), de
Luiz Alberto Pereira, recria a
passagem do aventureiro alemão pela costa brasileira com
realismo. Quase todos falam
tupi, o protagonista (Carlos
Evelyn) narra a história em alemão e os personagens europeus falam português com sotaque de Portugal, francês...
"O filme foi feito dessa maneira porque as coisas eram assim no Brasil do século 16", diz
Pereira. Representar com fidelidade a época de formação do
Brasil não foi tarefa simples.
Parte do elenco teve de aprender tupi em seis meses.
"O roteiro foi traduzido pelo
Eduardo Navarro, professor da
USP (Universidade de São Paulo), para o tupi falado na costa
no século 16. Depois, gravamos
fitas e as enviamos aos atores.
Deu certo. Umas duas semanas
depois, eu já recebia umas ligações estranhas", diverte-se Pereira, repetindo em tupi as frases que ouvia dos atores pelo
telefone. "Durante as filmagens, eles já estavam afiadíssimos", completa.
A cantora, compositora e
pesquisadora da cultura indígena Marlui Miranda auxiliou os
atores na dança e no comportamento indígenas.
Marlui também é responsável, juntamente de Lelo Nazário, pela trilha sonora do filme,
que resgata formas vocais e sonoras indígenas. O filme recebeu o prêmio de melhor trilha
sonora no Festival de Brasília
em 1999.
O elenco mescla atores profissionais, como Sergio Mamberti e Stênio Garcia, e índios
de verdade. Para representar
com fidelidade a aparência dos
tupinambás, os atores tiveram
de depilar o corpo.
Para caracterizar os índios, a
principal maquiagem usada foi
o urucum, que confere um tom
avermelhado à pele.
"Hans Staden" foi filmado
em Ubatuba, Bertioga (no forte
de São João) e em Lisboa, Portugal, dentro da réplica de uma
caravela.
Bom humor
Uma característica do livro é
transposta de maneira marcante para o filme: o bom humor
dos índios, que se divertem em
muitas cenas zombando de Staden. É claro que a situação do
alemão -em cativeiro, ameaçado de ser devorado- dá uma dimensão mais tensa às brincadeiras que os índios fazem com
o prisioneiro.
"Ele era uma espécie de cachorrinho deles, animal de estimação", analisa Pereira.
"Os índios são muito bem-humorados. Em condições normais, eles brincam o tempo todo, tiram sarro um do outro, fazem pequenas malandragens,
parecem crianças", conta o diretor. "A gente se divertiu muito durante as filmagens, o clima
era muito bom".
Descobrimento
O longa-metragem foi finalizado em 1999, mas entrou no
circuito comercial em 2000,
ano das comemorações dos
500 anos do descobrimento do
Brasil. De acordo com Pereira,
"Hans Staden", que retrata o
país logo após o seu descobrimento, foi mais badalados pelas autoridades em Portugal do
que no Brasil.
"O filme foi lançado em Portugal dentro das comemorações, foi um barato. Aqui não
deram muita bola, não. As autoridades, eu digo, o público foi
aos cinemas, o filme foi bem recebido. Mas os organizadores
das comemorações do descobrimento não deram bola",
conta o diretor.
"Hans Staden" teve pré-estréia ao ar livre em Ubatuba em
dezembro de 1999. De lá para
cá, a cidade litorânea tornou-se
ainda mais íntima da indústria
cinematográfica.
"Depois de "Hans Staden",
mais de dez filmes foram rodados em Ubatuba", conta Pereira, citando, entre outros, o longa-metragem "Desmundo"
(2003), dirigido por Alain Fresnot, com Osmar Prado, Caco
Ciocler e Simone Spoladore.
"Agora Ubatuba tem até uma
associação do pessoal que trabalha com vans, que transporta
os encarregados das produções
dos filmes, vai buscar material", diz Pereira.
(MARINA DELLA VALLE)
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