São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atores aprenderam tupi em seis meses para longa-metragem

Cenas mostram tupinambás zombando de Staden, candidato a ser devorado

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Hans Staden" (1999), de Luiz Alberto Pereira, recria a passagem do aventureiro alemão pela costa brasileira com realismo. Quase todos falam tupi, o protagonista (Carlos Evelyn) narra a história em alemão e os personagens europeus falam português com sotaque de Portugal, francês...
"O filme foi feito dessa maneira porque as coisas eram assim no Brasil do século 16", diz Pereira. Representar com fidelidade a época de formação do Brasil não foi tarefa simples. Parte do elenco teve de aprender tupi em seis meses.
"O roteiro foi traduzido pelo Eduardo Navarro, professor da USP (Universidade de São Paulo), para o tupi falado na costa no século 16. Depois, gravamos fitas e as enviamos aos atores. Deu certo. Umas duas semanas depois, eu já recebia umas ligações estranhas", diverte-se Pereira, repetindo em tupi as frases que ouvia dos atores pelo telefone. "Durante as filmagens, eles já estavam afiadíssimos", completa.
A cantora, compositora e pesquisadora da cultura indígena Marlui Miranda auxiliou os atores na dança e no comportamento indígenas.
Marlui também é responsável, juntamente de Lelo Nazário, pela trilha sonora do filme, que resgata formas vocais e sonoras indígenas. O filme recebeu o prêmio de melhor trilha sonora no Festival de Brasília em 1999.
O elenco mescla atores profissionais, como Sergio Mamberti e Stênio Garcia, e índios de verdade. Para representar com fidelidade a aparência dos tupinambás, os atores tiveram de depilar o corpo.
Para caracterizar os índios, a principal maquiagem usada foi o urucum, que confere um tom avermelhado à pele.
"Hans Staden" foi filmado em Ubatuba, Bertioga (no forte de São João) e em Lisboa, Portugal, dentro da réplica de uma caravela.

Bom humor
Uma característica do livro é transposta de maneira marcante para o filme: o bom humor dos índios, que se divertem em muitas cenas zombando de Staden. É claro que a situação do alemão -em cativeiro, ameaçado de ser devorado- dá uma dimensão mais tensa às brincadeiras que os índios fazem com o prisioneiro.
"Ele era uma espécie de cachorrinho deles, animal de estimação", analisa Pereira.
"Os índios são muito bem-humorados. Em condições normais, eles brincam o tempo todo, tiram sarro um do outro, fazem pequenas malandragens, parecem crianças", conta o diretor. "A gente se divertiu muito durante as filmagens, o clima era muito bom".

Descobrimento
O longa-metragem foi finalizado em 1999, mas entrou no circuito comercial em 2000, ano das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil. De acordo com Pereira, "Hans Staden", que retrata o país logo após o seu descobrimento, foi mais badalados pelas autoridades em Portugal do que no Brasil.
"O filme foi lançado em Portugal dentro das comemorações, foi um barato. Aqui não deram muita bola, não. As autoridades, eu digo, o público foi aos cinemas, o filme foi bem recebido. Mas os organizadores das comemorações do descobrimento não deram bola", conta o diretor.
"Hans Staden" teve pré-estréia ao ar livre em Ubatuba em dezembro de 1999. De lá para cá, a cidade litorânea tornou-se ainda mais íntima da indústria cinematográfica.
"Depois de "Hans Staden", mais de dez filmes foram rodados em Ubatuba", conta Pereira, citando, entre outros, o longa-metragem "Desmundo" (2003), dirigido por Alain Fresnot, com Osmar Prado, Caco Ciocler e Simone Spoladore.
"Agora Ubatuba tem até uma associação do pessoal que trabalha com vans, que transporta os encarregados das produções dos filmes, vai buscar material", diz Pereira.
(MARINA DELLA VALLE)


Texto Anterior: "Tupi or not tupi?": Ubatuba foi cenário de filme sobre alemão
Próximo Texto: "Tupi or not tupi?": Aves iguais às vistas por Staden ainda habitam o litoral
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.