São Paulo, segunda, 2 de fevereiro de 1998

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OLHA O TREM
Atividades a bordo combatem o tédio durante as 16 horas do trajeto entre São Paulo e Presidente Prudente
Expresso Ouro Verde põe a pressa de lado

RENATO GÓES
free-lance para a Folha

Ao som de um bolero, o Expresso Ouro Verde inicia sua viagem de São Paulo a Presidente Prudente (558 km a oeste da capital).
Lentamente a estação da Barra Funda vai ficando para traz enquanto a música ambiente vai se misturando com o barulho dos trilhos. De suas poltronas, alguns passageiros observam a paisagem ainda urbana pelas janelas.
Outros, elegantemente sentados no bar, preferem saudar a partida com um drinque. E uma agradável conclusão parece contagiar a todos os aficionados por esse tipo de transporte: os bons tempos dos românticos trens estão de volta.
O expresso é um trem de luxo que percorre 736 km e pára em Sorocaba, Botucatu, Ourinhos, Assis e Presidente Prudente.
É composto por uma locomotiva, três carros de classe especial com poltronas semi-reclináveis, um carro onde ficam o bar e o restaurante, um vagão-dormitório que comporta seis cabines, um carro que contém quatro suítes e um carro para bagagens.
Tempo de sobra
Esse é o tipo de viagem para quem não tem pressa de chegar. O percurso total é feito em cerca de 16 horas, e o trem trafega numa velocidade média de 70 km/h.
Portanto, é recomendável viajar de primeira classe, pois as poltronas vão perdendo o conforto com o passar das horas.
Mas, uns dos charmes dessa viagem é exatamente o tempo que você tem para desfrutar dos apelos que o trem oferece. Há muitas alternativas para não cair no tédio das viagens de longas distâncias.
Senão, vejamos. Quando ocorre aquele cansaço por estar sentado, o passageiro pode circular tranquilamente por vários vagões.
Outra excelente pedida é tomar uma bebida no bar do expresso. Num clima de happy hour, você pode pedir qualquer tipo de drinque, cerveja, refrigerante etc.
De quebra, enquanto aprecia a paisagem, você ouve histórias interessantes, normalmente relacionadas a ferrovias, contadas pelo chefe do bar.
Depois, quando o apetite falar mais alto, o Ouro Verde oferece um restaurante com capacidade para 36 pessoas sentadas.
Nele, além de um cardápio variado, o turista encontra preços menores que os da maioria dos restaurantes nas cidades em que o trem pára. Entretanto o passageiro deve ficar atento e nunca comer com a janela aberta, pois o movimento do trem levanta muita poeira da estrada de ferro.
Quem preferir pode tomar o tradicional cafezinho na sala de TV e vídeo. Ela conta com dois confortáveis sofás com mesa de centro, cinzeiro para os fumantes etc.
As fitas de vídeo disponíveis ficam aos cuidados do barman. A quantidade de títulos é pequena, mas de boa qualidade. Quem quiser pode levar suas próprias fitas.
Para os mais fanáticos por baralho, a dica é jogar um pôquer regado a bom uísque num clima meio cinematográfico. Lembra cenas de alguns filmes de Hollywood. No trem, o pôquer fica ainda mais emocionante e genial.
Finalmente, quando chegar a hora de dormir, o usuário do Ouro Verde encontra duas boas alternativas, as cabines duplas e as suítes.
As cabines abrigam dois beliches com colchões confortáveis, luminárias individuais, refrigeração e um banheiro de aço inoxidável. As suítes, por sua vez, possuem camas de casal, banheiro de aço inoxidável e chuveiro.
Ambas são atendidas por um serviço de quarto que pode ser comparado ao de um bom hotel.
São fornecidos roupões, toalhas, sabonetes, chinelos, kit para higiene bucal etc. Mas, infelizmente, são nesses dormitórios que a estrutura do Ouro Verde mostra sua maior deficiência. Nenhuma das cabines possui o providencial conforto de um ar-condicionado.
Decoração
Uns dos aspectos que mais chamam atenção no expresso é a sua bela decoração. "O Ouro Verde tinha uma relação com o transporte de café. Por isso usamos cores ligadas à natureza", revela Emanuel von Lauenstein Massarani, coordenador-geral de recuperação e conservação do patrimônio histórico e ambiental.
Ele e os antigos artesãos da Fepasa fizeram um trabalho muito criativo. Cerca de 70% dos materiais usados no projeto decorativo são reciclados.
Mazzarani conta que a equipe recolheu sucatas de antigos trens e, com a ajuda de marceneiros, construiu a maioria das peças. O resultado acabou surpreendendo, pois o trem tem cores alegres e tropicais. O verde é a cor predominante, mas, apesar disso, o trem ficou com um certo tom europeu.
A boa notícia, segundo Mazzarani, é que, além do expresso, as estações por onde o trem passa também serão restauradas. Esse é o caso de Sorocaba, que terá uma sala vip para os passageiros .



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