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OLHA O TREM
Atividades a bordo combatem o tédio durante as 16 horas do trajeto entre São Paulo e Presidente Prudente
Expresso Ouro Verde põe a pressa de lado
RENATO GÓES
free-lance para a Folha
Ao som de um bolero, o Expresso Ouro Verde inicia sua viagem
de São Paulo a Presidente Prudente (558 km a oeste da capital).
Lentamente a estação da Barra
Funda vai ficando para traz enquanto a música ambiente vai se
misturando com o barulho dos trilhos. De suas poltronas, alguns
passageiros observam a paisagem
ainda urbana pelas janelas.
Outros, elegantemente sentados
no bar, preferem saudar a partida
com um drinque. E uma agradável
conclusão parece contagiar a todos os aficionados por esse tipo de
transporte: os bons tempos dos românticos trens estão de volta.
O expresso é um trem de luxo
que percorre 736 km e pára em Sorocaba, Botucatu, Ourinhos, Assis
e Presidente Prudente.
É composto por uma locomotiva, três carros de classe especial
com poltronas semi-reclináveis,
um carro onde ficam o bar e o restaurante, um vagão-dormitório
que comporta seis cabines, um
carro que contém quatro suítes e
um carro para bagagens.
Tempo de sobra
Esse é o tipo de viagem para
quem não tem pressa de chegar. O
percurso total é feito em cerca de
16 horas, e o trem trafega numa velocidade média de 70 km/h.
Portanto, é recomendável viajar
de primeira classe, pois as poltronas vão perdendo o conforto com
o passar das horas.
Mas, uns dos charmes dessa viagem é exatamente o tempo que você tem para desfrutar dos apelos
que o trem oferece. Há muitas alternativas para não cair no tédio
das viagens de longas distâncias.
Senão, vejamos. Quando ocorre
aquele cansaço por estar sentado,
o passageiro pode circular tranquilamente por vários vagões.
Outra excelente pedida é tomar
uma bebida no bar do expresso.
Num clima de happy hour, você
pode pedir qualquer tipo de drinque, cerveja, refrigerante etc.
De quebra, enquanto aprecia a
paisagem, você ouve histórias interessantes, normalmente relacionadas a ferrovias, contadas pelo
chefe do bar.
Depois, quando o apetite falar
mais alto, o Ouro Verde oferece
um restaurante com capacidade
para 36 pessoas sentadas.
Nele, além de um cardápio variado, o turista encontra preços menores que os da maioria dos restaurantes nas cidades em que o
trem pára. Entretanto o passageiro
deve ficar atento e nunca comer
com a janela aberta, pois o movimento do trem levanta muita poeira da estrada de ferro.
Quem preferir pode tomar o tradicional cafezinho na sala de TV e
vídeo. Ela conta com dois confortáveis sofás com mesa de centro,
cinzeiro para os fumantes etc.
As fitas de vídeo disponíveis ficam aos cuidados do barman. A
quantidade de títulos é pequena,
mas de boa qualidade. Quem quiser pode levar suas próprias fitas.
Para os mais fanáticos por baralho, a dica é jogar um pôquer regado a bom uísque num clima meio
cinematográfico. Lembra cenas de
alguns filmes de Hollywood. No
trem, o pôquer fica ainda mais
emocionante e genial.
Finalmente, quando chegar a
hora de dormir, o usuário do Ouro
Verde encontra duas boas alternativas, as cabines duplas e as suítes.
As cabines abrigam dois beliches
com colchões confortáveis, luminárias individuais, refrigeração e
um banheiro de aço inoxidável. As
suítes, por sua vez, possuem camas de casal, banheiro de aço inoxidável e chuveiro.
Ambas são atendidas por um
serviço de quarto que pode ser
comparado ao de um bom hotel.
São fornecidos roupões, toalhas,
sabonetes, chinelos, kit para higiene bucal etc. Mas, infelizmente,
são nesses dormitórios que a estrutura do Ouro Verde mostra sua
maior deficiência. Nenhuma das
cabines possui o providencial conforto de um ar-condicionado.
Decoração
Uns dos aspectos que mais chamam atenção no expresso é a sua
bela decoração. "O Ouro Verde tinha uma relação com o transporte
de café. Por isso usamos cores ligadas à natureza", revela Emanuel
von Lauenstein Massarani, coordenador-geral de recuperação e
conservação do patrimônio histórico e ambiental.
Ele e os antigos artesãos da Fepasa fizeram um trabalho muito criativo. Cerca de 70% dos materiais
usados no projeto decorativo são
reciclados.
Mazzarani conta que a equipe recolheu sucatas de antigos trens e,
com a ajuda de marceneiros, construiu a maioria das peças. O resultado acabou surpreendendo, pois
o trem tem cores alegres e tropicais. O verde é a cor predominante,
mas, apesar disso, o trem ficou
com um certo tom europeu.
A boa notícia, segundo Mazzarani, é que, além do expresso, as estações por onde o trem passa também serão restauradas. Esse é o caso de Sorocaba, que terá uma sala
vip para os passageiros .
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