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HUNGRIA MILENAR
Gastronomia é fetiche
Mesa farta
tem vinho,
carne e boa
música
especial para a Folha
Budapeste tem hoje aproximadamente 1 milhão de habitantes,
não muito diferente da população
de Campinas ou de Brasília, por
exemplo.
Na virada do século, tinha bem
menos, e a cidade já contabilizava
em torno de 600 cafés.
Cada um desses cafés tinha sua
própria "especialidade". Uns
abrigavam políticos, outros, escritores e poetas, e outros ainda, comerciantes.
Em suas mesas muitas batalhas
foram ganhas, muitas foram perdidas.
Apesar de o segundo caso ser o
mais presente na história húngara, esse pequeno país sempre se
reergueu das cinzas.
Nem os turcos (que lá permaneceram por mais de 150 anos) nem
os russos (pouco mais de 40) conseguiram diminuir o apetite dos
húngaros pela boa vida e pela gastronomia.
Assim, não é só a semelhança da
bandeira que estabelece paridade
entre húngaros e italianos.
Som cigano
Para ambos os povos, quase tudo se resolve à mesa e, de preferência, ouvindo boa música. A
música cigana é a que mais toca
em Budapeste.
É uma música que alterna alegria e tristeza e que tem como instrumento-símbolo o violino.
Muitos dos bons restaurantes da
cidade têm conjuntos ciganos que
tocam horas e horas sem parar.
Ninguém fica impassível diante
do "choro" do violino ou dos alegres acordes do címbalo.
Os violonistas mais experientes
tocam também serrote, cujo som
sai chorado e enche de lágrimas
os olhos dos ouvintes mais sensíveis.
Vinhos
A Hungria é um tradicional país
produtor de vinhos finos. Vai dos
brancos meio-doces (de qualidade, porém) a brancos secos que
enchem a boca, passando pelos
tintos bem encorpados, vinificados com uvas locais e com as mais
modernas técnicas da vini e viticultura atuais.
Capítulo à parte são os vinhos
de Tokaj (pronuncia-se Tokái).
O Tokaji Aszú é um vinho doce,
de uvas atacadas pelo fungo
Botrytis cinerea, depois tardiamente colhidas a ponto de mais se
parecerem com uva passa. Dessa
forma se assemelham muito aos
famosos vinhos franceses da região de Sauternes. Esses vinhos
doces (sem adição de açúcar, é
claro) são perfeitos para acompanhar sobremesas e pratos à base
de foie gras (fígado gordo de ganso ou pato).
A grande diferença entre os vinhos das duas regiões não é a qualidade, mas o preço. O preço dos
húngaros é uma fração do preço
dos Sauternes.
A qualidade dos tintos também
é um exagero. Na cidade de Eger,
de 70 mil habitantes, a apenas 100
km da capital, há um tesouro
muito conhecido no mundo do
vinho, o Egri Bikavér (Sangue de
Touro de Eger). É dos mais conhecidos do país e será uma agradável surpresa quando chegar ao
Brasil, em meados de junho.
Salgados
Os pratos salgados são bem
substanciosos, pois devem fornecer energia e calor nos dias gelados de inverno. A culinária húngara privilegia os peixes de rio (a
sopa dos pescadores "halászlé" é
inesquecível), as carnes de porco,
de boi, de vitela e de cordeiro, nessa ordem.
Páprica é o tempero nacional.
Tanto é que os restaurantes substituem a pimenta-do-reino pela
páprica picante nos galheteiros.
Primeira lição: existem dois tipos
de páprica na Hungria, a doce nobre (édes nemes) e a picante (csipös). A picante é muito forte e é
recomendável usá-la sempre misturada com a doce, meio a meio.
(ISTVÁN WESSEL)
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