São Paulo, segunda-feira, 03 de junho de 2002

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BAHIA DOS EUA

Funcionários vibram quando têm que ir a uma convenção na cidade parecida com o Estado brasileiro

"Em vez da moqueca, eles servem gumbo"

HÉLIO DE LA PEÑA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Esqueça passeios ao jardim botânico ou ao zoológico Audubon. Se o seu destino é Nova Orleans, é porque você está a fim de encher a cara, ouvir boa música ou pegar umas vagabundas.
E tudo isso você vai encontrar num único endereço: Bourbon Street no Quarteirão Francês (não é bestice, é assim que está nas placas). É só uma rua, você não precisa sair dali pra nada. E não tem essa caretice de esperar escurecer pra cair na noite. Você pode começar a curtir a "naite" às nove da manhã, quando alguns bares já estão abertos, oferecendo um showzinho e uma cirrose.
Além da riqueza musical, a cidade é famosa pela comida apimentada e por ser o berço do vudu, da macumba e da antiga magia negra, atual magia afro-americana.
Não é à toa que Nova Orleans é conhecida como a Bahia dos States. Em vez de moqueca, eles servem gumbo; no lugar do berimbau, saxofone. Tirando o sotaque, o resto não tem muita diferença.
Recentemente, empresas do mundo inteiro adotaram Nova Orleans (nas placas, New Orleans) como a cidade das convenções. Ali passaram a fazer aquelas insuportáveis reuniões, que em nenhum outro lugar teria quórum. Quando a convenção é em Nova Orleans, os funcionários disputam aos murros as vagas, alguns chegam a subornar o chefe para ser incluído no grande lance. O álibi perfeito.
Por algumas horas, ele cochila e baba na gravata num salão lotado de "convencioneiros", durante uma bocejante palestra à base de Power Point.
Minutos depois, o cabra estará na Bourbon Street, perambulando pelos trocentos shows de todo tipo de música e todo tipo de striptease.
Todos os hotéis mantêm várias salas lotadas de convenções, simpósios e congressos. O que me intriga é como tantas mulheres conseguem levar a sério a proposta do marido de passar uma semana se capacitando profissionalmente num seminário de alto nível técnico em Nova Orleans.
Acho que, para dar certo, o sujeito tem que chegar à sua casa injuriado porque foi obrigado pelo chefe a aceitar a missão, era isso ou rua.
Além disso, deve falar o seu destino baixinho e bem depressa, sem dar muito valor.
Se ela não ouvir direito e engolir, é só encher o notebook de camisinhas e partir pro abraço. Nova Orleans é a cidade das convenções: vamos convencionar que ninguém vem aqui pra trabalhar.


Helio de la Peña é redator e ator do programa "Casseta & Planeta Urgente", da Rede Globo


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