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BAHIA DOS EUA
Funcionários vibram quando têm que ir a uma convenção na cidade parecida com o Estado brasileiro
"Em vez da moqueca, eles servem gumbo"
HÉLIO DE LA PEÑA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Esqueça passeios ao jardim botânico ou ao zoológico Audubon. Se o seu destino é Nova Orleans,
é porque você está a fim de encher a cara, ouvir
boa música ou pegar umas vagabundas.
E tudo isso você vai encontrar num único endereço: Bourbon Street no Quarteirão Francês
(não é bestice, é assim que está nas placas). É só
uma rua, você não precisa sair dali pra nada. E
não tem essa caretice de esperar escurecer pra
cair na noite. Você pode começar a curtir a "naite" às nove da manhã, quando alguns bares já
estão abertos, oferecendo um showzinho e uma
cirrose.
Além da riqueza musical, a cidade é famosa pela
comida apimentada e por ser o
berço do vudu, da macumba e da
antiga magia negra, atual magia
afro-americana.
Não é à toa que Nova Orleans é
conhecida como a Bahia dos States. Em vez de moqueca, eles servem gumbo; no lugar do berimbau, saxofone. Tirando o sotaque,
o resto não tem muita diferença.
Recentemente, empresas do
mundo inteiro adotaram Nova
Orleans (nas placas, New Orleans) como a cidade das convenções. Ali passaram a fazer aquelas
insuportáveis reuniões, que em
nenhum outro lugar teria quórum. Quando a convenção é em
Nova Orleans, os funcionários
disputam aos murros as vagas, alguns chegam a subornar o chefe
para ser incluído no grande lance.
O álibi perfeito.
Por algumas horas, ele cochila e
baba na gravata num salão lotado de "convencioneiros", durante
uma bocejante palestra à base de
Power Point.
Minutos depois, o cabra estará
na Bourbon Street, perambulando pelos trocentos shows de todo
tipo de música e todo tipo de
striptease.
Todos os hotéis mantêm várias
salas lotadas de convenções, simpósios e congressos. O que me intriga é como tantas mulheres conseguem levar a sério a proposta
do marido de passar uma semana
se capacitando profissionalmente
num seminário de alto nível técnico em Nova Orleans.
Acho que, para dar certo, o sujeito tem que chegar à sua casa
injuriado porque foi obrigado pelo chefe a aceitar a missão, era isso ou rua.
Além disso, deve falar o seu destino baixinho e bem depressa,
sem dar muito valor.
Se ela não ouvir direito e engolir, é só encher o notebook de camisinhas e partir pro abraço. Nova Orleans é a cidade das convenções: vamos convencionar que
ninguém vem aqui pra trabalhar.
Helio de la Peña é redator e ator do
programa "Casseta & Planeta Urgente",
da Rede Globo
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