São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HERANÇA ASTECA

Rivera, Siqueiros e Orozco retrataram dia-a-dia da população e história do país em prédios públicos

Muralistas tentaram popularizar a arte

MARGARETE MAGALHÃES
DA REDAÇÃO
Não à arte exposta em cavaletes, exclusiva para um círculo de intelectuais e aristocratas. Sim àquela visualmente acessível a todos e de domínio público. Essa era a pretensão dos muralistas mexicanos Diego Rivera (1886-1957), David Alfaro Siqueiros (1896-1974) e José Clemente Orozco (1863-1949), cujas pinceladas decoraram edifícios públicos no México.
Com temas relacionados à vida do cidadão mexicano comum, os muralistas retrataram as diferenças sociais, glorificaram a revolução (1910-1917) e a história pré-colonial mexicana.
Também conhecidos por "os três grandes", esses artistas engajaram-se no movimento após a saída do ditador Porfírio Diaz, em 1911. As semelhanças entre eles não se limitam ao fato de terem crescido durante o governo do ditador -numa época marcada por profundas divisões nas esferas de poder e injustiça social.
Além de terem estudado na mesma escola de artes plásticas, a Academia San Carlos, acreditavam que os papéis da arte e da política se mesclavam.
De fato, convencido por Siqueiros e contando com o apoio de Orozco, Rivera criou a União dos Trabalhadores Técnicos, Pintores e Escultores, uma organização política em conjunto com outros artistas, em 1923.
Apesar das semelhanças, o estilo e o temperamento de cada um deles divergia. Tanto é que enquanto Rivera abrigava o líder revolucionário russo Trótski, jurado de morte pelos stalinistas, em sua casa em Coyoacán, Siqueiros, de longe o mais politicamente ativo e ligado ao stalinismo, era preso por ter atentado contra Trótski em 1940 na casa em que o russo se hospedava. Isso lhe valeu a prisão no México e o exílio no Chile.

Pinceladas
Rivera, o mais popular dos muralistas, usava suas pinceladas e sua arte com o objetivo de criar esperança e fornecer uma visão de mundo melhor.
Um de seus murais mais conhecidos, nas escadarias do Palácio Nacional da Cidade do México, retrata a luta dos mexicanos ao longo da história e combina a luta histórica dos oprimidos com a esperança para o futuro do México. Apesar de sua posição política, Rivera foi convidado em 1933 para pintar no Rockefeller Center de Nova York. Polêmico, o artista escolheu o rosto de Lênin para decorar o mural "Homem numa Encruzilhada", da RCA, que seria destruído no ano seguinte.
Já Siqueiros pintou temas e imagens de guerra, por vezes, exageradamente expressivas e dramáticas, com o uso de cores fortes e figuras robustas. Um de seus murais mais famosos, "Nova Democracia", está no Palácio de Belas Artes, na Cidade do México.
Orozco, considerado o mais complexo dos muralistas, tinha grande senso de realismo. Ilustrava a violência, o caos e a miséria, dando ênfase ao sofrimento pessoal. Os três chegaram a produzir murais nos EUA.


Texto Anterior: Taxco esconde prata em meio às colinas
Próximo Texto: Mortos têm permissão para voltar 1 vez ao ano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.