São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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VIA MARIS

Para percorrer trecho costeiro citado na Bíblia, que liga Egito ao Líbano, passando por Israel, turista encara obstáculos

Paz resgataria antiga rota no Oriente Médio

GUSTAVO CHACRA
NO ORIENTE MÉDIO

Viajar pela costa entre Alexandria, no Egito, e Beirute, no Líbano, um dia conhecida por Via Maris, uma das regiões com uma das histórias mais magníficas em todo o mundo, é, hoje, algo a ser feito de forma truncada.
A Via Maris, nome em latim para "caminho do mar" e citada biblicamente, é uma antiga rota comercial usada no Oriente Médio que data da Idade do Bronze. O caminho percorrido pela costa ligava Egito, Pérsia, Síria, Anatólia e Mesopotâmia, que correspondem hoje a Egito, Irã, Síria, Turquia e Iraque.
Mas só quando Israel assinar um acordo de paz com os palestinos e com os seus vizinhos libaneses será possível fazer esse trecho novamente, sem interrupções.
Num futuro imaginário, ao percorrer esse litoral por uma estrada, o viajante deixaria Alexandria e seguiria em direção ao norte para atravessar o canal de Suez e o deserto do Sinai até chegar ao posto fronteiriço em Rafah e entrar no Estado palestino -caso esse venha a ser criado.
Menos de uma hora depois, ingressaria em Israel apresentando apenas o passaporte. Passaria pelas cidades portuárias de Ashdod e Askelon e enfrentaria o trânsito de Tel Aviv. Após avistar Cesaréia, Netânia, o monte Carmel e Haifa, chegaria à fronteira libanesa e, uma hora e meia mais tarde, desembarcaria em Beirute.
No passado, esse trajeto foi comum. O percurso dessa estrada é bem próximo ao que foi conhecido como Via Maris nos tempos bíblicos. Até a metade do século 20, muitos moradores da região ainda utilizavam essa rota.
Pelo caminho, o viajante passava por cidades muçulmanas sunitas, xiitas, drusas, judaicas e cristãs. E cruzava áreas onde viveram as sociedades egípcias, romanas, fenícias, otomanas e judaicas. Tanto o cristianismo quanto o judaísmo nasceram em regiões próximas a essa rota.
Hoje seguir por esse trajeto é impossível devido aos imensos obstáculos. A passagem do Egito para a faixa de Gaza -uma das áreas reivindicadas pelos palestinos para um futuro Estado- é um dos pontos mais tensos do Oriente Médio, com constantes confrontos entre militantes de grupos palestinos e soldados israelenses e, nos últimos meses, entre os próprios palestinos.
A fronteira norte de Israel com o Líbano é outro foco de grande instabilidade e está fechada.
A principal diversão dos jovens libaneses na fronteira é atirar pedras nos soldados israelenses que fazem guarda do outro lado do portão de Fátima, prática que demonstra o quão distante está a paz entre os dois lados.
Nos últimos 56 anos, desde a criação de Israel, quando a estrada foi fechada, muita coisa mudou nas principais cidades localizadas no percurso dessa via.
Não é aconselhável -além de ser muito complicado- ir a algumas áreas, como Gaza. É arriscado visitar essa região sozinho, como turista, pois há constantes incursões do Exército israelense e mesmo confronto entre os palestinos. O ideal, para quem teimar em se arriscar, é ir com alguma organização humanitária ou com um amigo palestino. A favor, conta o fato de os palestinos terem um enorme carinho pelos brasileiros e simpatizarem com o país -há até um campo de refugiados na região chamado "Brazil".


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