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VIA MARIS
Para percorrer trecho costeiro citado na Bíblia, que liga Egito ao Líbano, passando por Israel, turista encara obstáculos
Paz resgataria antiga rota no Oriente Médio
GUSTAVO CHACRA
NO ORIENTE MÉDIO
Viajar pela costa entre Alexandria, no Egito, e Beirute, no Líbano, um dia conhecida por Via Maris, uma das regiões com uma das
histórias mais magníficas em todo o mundo, é, hoje, algo a ser feito de forma truncada.
A Via Maris, nome em latim para "caminho do mar" e citada biblicamente, é uma antiga rota comercial usada no Oriente Médio
que data da Idade do Bronze. O
caminho percorrido pela costa ligava Egito, Pérsia, Síria, Anatólia
e Mesopotâmia, que correspondem hoje a Egito, Irã, Síria, Turquia e Iraque.
Mas só quando Israel assinar
um acordo de paz com os palestinos e com os seus vizinhos libaneses será possível fazer esse trecho
novamente, sem interrupções.
Num futuro imaginário, ao percorrer esse litoral por uma estrada, o viajante deixaria Alexandria
e seguiria em direção ao norte para atravessar o canal de Suez e o
deserto do Sinai até chegar ao
posto fronteiriço em Rafah e entrar no Estado palestino -caso
esse venha a ser criado.
Menos de uma hora depois, ingressaria em Israel apresentando
apenas o passaporte. Passaria pelas cidades portuárias de Ashdod
e Askelon e enfrentaria o trânsito
de Tel Aviv. Após avistar Cesaréia, Netânia, o monte Carmel e
Haifa, chegaria à fronteira libanesa e, uma hora e meia mais tarde,
desembarcaria em Beirute.
No passado, esse trajeto foi comum. O percurso dessa estrada é
bem próximo ao que foi conhecido como Via Maris nos tempos
bíblicos. Até a metade do século
20, muitos moradores da região
ainda utilizavam essa rota.
Pelo caminho, o viajante passava por cidades muçulmanas sunitas, xiitas, drusas, judaicas e cristãs. E cruzava áreas onde viveram
as sociedades egípcias, romanas,
fenícias, otomanas e judaicas.
Tanto o cristianismo quanto o judaísmo nasceram em regiões próximas a essa rota.
Hoje seguir por esse trajeto é
impossível devido aos imensos
obstáculos. A passagem do Egito
para a faixa de Gaza -uma das
áreas reivindicadas pelos palestinos para um futuro Estado- é
um dos pontos mais tensos do
Oriente Médio, com constantes
confrontos entre militantes de
grupos palestinos e soldados israelenses e, nos últimos meses,
entre os próprios palestinos.
A fronteira norte de Israel com
o Líbano é outro foco de grande
instabilidade e está fechada.
A principal diversão dos jovens
libaneses na fronteira é atirar pedras nos soldados israelenses que
fazem guarda do outro lado do
portão de Fátima, prática que demonstra o quão distante está a
paz entre os dois lados.
Nos últimos 56 anos, desde a
criação de Israel, quando a estrada foi fechada, muita coisa mudou nas principais cidades localizadas no percurso dessa via.
Não é aconselhável -além de
ser muito complicado- ir a algumas áreas, como Gaza. É arriscado visitar essa região sozinho, como turista, pois há constantes incursões do Exército israelense e
mesmo confronto entre os palestinos. O ideal, para quem teimar
em se arriscar, é ir com alguma
organização humanitária ou com
um amigo palestino. A favor, conta o fato de os palestinos terem
um enorme carinho pelos brasileiros e simpatizarem com o país
-há até um campo de refugiados
na região chamado "Brazil".
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