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PERNAMBUCO ARTIGO
Ruas do Recife parecem saídas dos poemas de Manuel Bandeira
XICO SÁ
da Reportagem Local
O melhor do Recife não está na
paisagem marinha, mas sim na
geografia aparentemente mais
caótica da cidade.
É o miolo da chamada Manguetown, as ruas que parecem saídas
dos poemas de Manuel Bandeira,
como Aurora, Sossego e Soledade... Sem esquecer o parque 13 de
Maio, refúgio dos namorados
(sem dinheiro para o motel) e dos
adúlteros vespertinos de plantão.
Mais adiante, o guia lírico nos
aponta o Beco do Vento, lugar assim conhecido graças à brisa permanente do Capibaribe. No exato
ponto onde o rio anda mais sem
pressa, sem vontade de chegar, roçando as moças da rua da Aurora.
É um dos melhores lugares do
mundo para tomar cerveja com os
amigos e falar mal da vida alheia
-sempre acompanhado de
amendoim cozido ou torrado.
Nesse ponto da cidade, poderíamos repetir, com o habitual exagero nordestino, a frase que virou
um dos quadros mais famosos de
Cícero Dias: "Eu vi o mundo, e ele
começava no Recife".
Perto dali, não ferve mais como
antes, mas ainda mantém o glamour, a rua Sete de Setembro, tradicional ajuntamento de boêmios
e poetas (o Recife tem quatro poetas por cada metro quadrado).
No local, todos ficavam esperando que chegasse a hora de beber de
graça, na Livro 7, onde Tarciso, o
dono, promovia lançamentos diários com direito a uma gilbertiana
batida de pitanga, limão etc.
A cidade vivia a utopia das Edições Pirata, um selo criado pelo escritor Jaci Bezerra para publicar,
em forma de cooperativa, livros de
famosos e anônimos.
Além da bebida, a gente podia
"fazer cara de inteligente", folheando um Walter Benjamim para enganar as mocinhas de óculos
que passeavam por ali.
Assombrações
Daí por diante, é só atravessar a
ponte e pisar o solo do Recife Velho, onde a cidade guarda as suas
assombrações e fantasmas.
Restaurada, maquiada, a zona
foi invadida por "mauricinhos",
mas mantém intatas ilhas de inquietação. Lá está a Whiskeria 28,
onde o começo da noite ainda é
uma festa de malte bom e barato.
As prostitutas foram praticamente tangidas pelas novas fachadas e costumes, mas o bar do Grego resiste e abriga shows e festas do
circuito pop recifense.
Para completar, o centro ganhou
um braço a mais na sua geografia
da diversão. É o bairro do Pina,
uma espécie de "patinho feio" da
praia de Boa Viagem, que sempre
foi mais ligado sentimentalmente
à parte velha da cidade.
No Pina, encontramos os melhores caldinhos (de peixe ou feijão).
São acompanhamentos indispensáveis da cerveja e da cachaça.
O bairro é o último que fecha. A
Soparia, sede lúdica do movimento Manguebeat, acolhe as boas sobras da noite. No cenário, uma
coisa impressiona: como bebem
essas mulheres de Pernambuco.
O repórter especial Xico Sá nasceu em Crato
(CE) e viveu dos 13 aos 26 anos no Recife
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