São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2008

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LETÔNIA, LITUÂNIA, ESTÔNIA

Capital cultural em 2009, Vilna enfileira igrejas e templos

Criada, segundo a lenda, a partir de sonho, cidade viu centro manter-se milagrosamente intacto após guerras

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
NA LITUÂNIA

Capital européia da cultura no ano que vem (www.culturelive.lt) e mais antiga capital do Báltico, Vilna impressiona pelas igrejas em quantidade na cidade velha. São mais de 50 construções dos mais diversos estilos arquitetônicos.
A tradição de tolerância dos lituanos deve estar ligada ao fato de terem sido o último povo pagão da Europa a se converter ao cristianismo. Hoje, mais de 80% da população é cristã.
Reza a lenda que Vilna foi criada a partir de um sonho profético do grão-duque de Gediminas, no século 14. Apesar das inúmeras invasões e destruições, o centro histórico de Vilna -ou Vilnius, seu nome local- conseguiu ser milagrosamente preservado.
Caminhar pelas ruas calçadas com pedras de rio é a maneira de descobrir a cidade velha, considerado patrimônio da humanidade pela Unesco.

Stebuklas
A praça Arkikatedros é o ponto de partida ideal. Nos séculos passados, ela abrigava mercados e feiras, e mais recentemente, foi cenário das grandes manifestações para a independência do país.
Antes de entrar na neoclássica catedral de Vilna, que lembra um templo greco, procure pelo chão da praça a palavra stebuklas -milagre em lituano- para fazer um pedido.
Na catedral, destaque para a capela barroca de São Casimiro, o padroeiro do país, e do lado de fora, a torre com seus sinos e um relógio.
Entrar em todas as igrejas de Vilna é programa para mais de uma semana. Bem-vindo, então, ao roteiro essencial das relíquias religiosas da cidade.
A porta Aurora, onde fica a imagem dita milagrosa de Nossa Senhora, local sagrado de peregrinação para os fiéis.
O magnífico interior branco da igreja de São Pedro e São Paulo e o enorme lustre de cristal em forma de navio. A igreja Ortodoxa do Espírito Santo, onde estão os corpos mumificados de Santo Antônio, Santo Ivan e Santo Eustáquio.
A igreja de Santa Ana, considerada obra-prima do estilo gótico, e, bem perto dela, os afrescos da igreja de São Bernardino. Vale também ir à colina das Três Cruzes, à bela igreja dos Romanov, santuário ortodoxo russo, e à Kenessa, a igreja dos judeus caraítas.

Judeus, Vilna e a guerra
Vilna se tornou uma cidade simbólica para a comunidade judaica a partir do século 16. Era conhecida como a Jerusalém do Norte até que, na Segunda Guerra Mundial (1939-45), 90% da população judaica foi exterminada pelos nazistas.
Lasar Segall (1891-1957), artista-plástico radicado no Brasil, nasceu ali e legou gravuras, desenhos e óleos que aludem a esse período de êxodo.
Outro retrato dos anos de sofrimento dos lituanos é o museu da KGB, que funciona no prédio do principal orgão de repressão da época da União Soviética. No porão, celas dos prisioneiros políticos, salas de torturas à prova de som e pátios de execução. As instalações estão intactas e as visitas são guiadas por ex-prisioneiros.
Do alto da colina onde fica a torre Gediminas, o símbolo de Vilna, se tem o melhor panorama da cidade velha.
Essa fortificação foi o que restou do castelo do século 14. É possível chegar lá numa caminhada ou pegar um bondinho que sobe uma estradinha sinuosa até o topo. A vista revela casas em tons pastéis com telhados vermelhos, cúpulas das igrejas e ruelas medievais.
Outro bom programa é a visita à Universidade de Vilna, a mais antiga do leste europeu. Fundado por jesuítas em 1579, esse renomado centro de estudos foi fechado na ocupação soviética. A biblioteca tem 5 milhões de livros, fica em uma sala com afrescos.

Futuro próximo
Em 2009, Vilna será a capital européia da cultura -e, os mais boêmios, precisam conhecer o seu bairro boêmio: Uzupio. A Montmartre de Vilna é o mais antigo e original bairro local.
A auto-proclamada República de Uzupio, criada por artistas na era soviética, tinha leis próprias como: "um gato não deve ser obrigado a amar seu dono, mas deve apoiá-lo nos momentos difíceis".
A Constituição, redigida por poetas, tem 40 artigos. Diz "todo homem tem direito de morar perto de um riacho", e também, que "todo homem tem o direito de morrer, mas isso não é uma obrigação".
Hoje, com a especulação imobiliária, a área perdeu charme, mas conserva alguns cafés e galerias de arte.
(LETÍCIA FONSECA-SOURANDER)

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