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CANADÁ
Janelas mostram neve e gelo
Ler em trem é "esporte nacional"
do enviado especial ao Canadá
O romancista inglês Allen Sillitoe
certa vez escreveu: "O melhor momento para ler uma história bem
escrita é, na verdade, quando se esta viajando sozinho em um trem.
Com estranhos em volta e um cenário desconhecido passando pela
janela, a vida cativante e intrincada
que sai das páginas possui seus
próprios efeitos peculiares e inesquecíveis".
O depoimento está no livro
"Uma História da Leitura" (Companhia das Letras), do não por acaso canadense Alberto Manguel.
Um dos ensaístas mais prestigiados de seu país, Manguel fornece
nesse trabalho uma série de fatos
que entrelaçam os trilhos de trem
com o ato de ler.
Segundo ele, o livro de bolso, por
exemplo, teria sido criado por
Allen Lane em 1934, quando este
olhava insatisfeito um quiosque de
livros na estação de trem de Devon
(Inglaterra), antes de o então editor da Penguin embarcar de volta
para Londres depois de ter passado um fim-de-semana na casa da
escritora Agatha Christie.
Nem todos levam "Assassinato
no Expresso Oriente" no bolso,
mas nos vagões de trem da companhia Via Rail, que cortam 14 mil
km de trilhos por todo o território
canadense, é muito difícil cruzar
com alguém que não carregue um
livro.
"É uma espécie de esporte nacional", brinca um rechonchudo cozinheiro do trem, que disse ter em
seu quarto um "livrão" do romancista Tom Clancy.
Esse amor pela leitura ferroviária
não significa que a vista tenha poucos atrativos.
Os trens Silver & Blue (prata e
azul, cores predominantes dentro
e fora dos carros, decorados em estilo art dèco), que trafegam na região das montanhas Rochosas, por
exemplo, têm pelo menos três vagões equipados com os chamados
"domos panorâmicos".
Por essas salas, inteiramente cobertas com vidro, passam centenas
de montanhas cobertas de neve,
florestas densas e pálidas de frio e
rios com troncos roliços (como os
de desenhos animados) nadando
em sua superfície (como se marmotas estivessem construindo diques com eles).
No vagão-restaurante, a culinária não tem a mesma magnitude
das paisagens. O bom humor da
tripulação não é suficiente para você desviar a atenção de suas papilas
gustativas.
Os quartos individuais do trem
são diminutos. Mas uma pessoa
com menos de 1,90 m encontra neles espaço para uma boa noite de
sono. Ou para grandes leituras.
Tente "Montanha Gelada", de
Charles Frazier, um dos romances
mais vendidos no ano passado no
Canadá.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
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