São Paulo, Segunda-feira, 07 de Junho de 1999
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CANADÁ
Janelas mostram neve e gelo
Ler em trem é "esporte nacional"

do enviado especial ao Canadá

O romancista inglês Allen Sillitoe certa vez escreveu: "O melhor momento para ler uma história bem escrita é, na verdade, quando se esta viajando sozinho em um trem. Com estranhos em volta e um cenário desconhecido passando pela janela, a vida cativante e intrincada que sai das páginas possui seus próprios efeitos peculiares e inesquecíveis".
O depoimento está no livro "Uma História da Leitura" (Companhia das Letras), do não por acaso canadense Alberto Manguel. Um dos ensaístas mais prestigiados de seu país, Manguel fornece nesse trabalho uma série de fatos que entrelaçam os trilhos de trem com o ato de ler.
Segundo ele, o livro de bolso, por exemplo, teria sido criado por Allen Lane em 1934, quando este olhava insatisfeito um quiosque de livros na estação de trem de Devon (Inglaterra), antes de o então editor da Penguin embarcar de volta para Londres depois de ter passado um fim-de-semana na casa da escritora Agatha Christie.
Nem todos levam "Assassinato no Expresso Oriente" no bolso, mas nos vagões de trem da companhia Via Rail, que cortam 14 mil km de trilhos por todo o território canadense, é muito difícil cruzar com alguém que não carregue um livro.
"É uma espécie de esporte nacional", brinca um rechonchudo cozinheiro do trem, que disse ter em seu quarto um "livrão" do romancista Tom Clancy.
Esse amor pela leitura ferroviária não significa que a vista tenha poucos atrativos.
Os trens Silver & Blue (prata e azul, cores predominantes dentro e fora dos carros, decorados em estilo art dèco), que trafegam na região das montanhas Rochosas, por exemplo, têm pelo menos três vagões equipados com os chamados "domos panorâmicos".
Por essas salas, inteiramente cobertas com vidro, passam centenas de montanhas cobertas de neve, florestas densas e pálidas de frio e rios com troncos roliços (como os de desenhos animados) nadando em sua superfície (como se marmotas estivessem construindo diques com eles).
No vagão-restaurante, a culinária não tem a mesma magnitude das paisagens. O bom humor da tripulação não é suficiente para você desviar a atenção de suas papilas gustativas.
Os quartos individuais do trem são diminutos. Mas uma pessoa com menos de 1,90 m encontra neles espaço para uma boa noite de sono. Ou para grandes leituras. Tente "Montanha Gelada", de Charles Frazier, um dos romances mais vendidos no ano passado no Canadá. (CASSIANO ELEK MACHADO)




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