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Abandono obscurece a riqueza arquitetônica de Belmonte
Márcio Freitas/Folha Imagem
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Chafariz escocês na praça Godofredo Bandeira, encomenda de fazendeiro para decorar cerimônia de casamento da filha |
Prédios erguidos no auge da produção do cacau integram patrimônio da Unesco
DO ENVIADO ESPECIAL À BAHIA
Passa longe de Belmonte
aquela badalação e o fluxo de
turistas das vizinhas da costa
do Descobrimento. A 78 km na
direção norte de Porto Seguro,
vale caminhar pelas ruas desse
município, meio primo pobre
dos outros. De arquitetura rica
e dono de um belo patrimônio
da humanidade decretado pela
Unesco -infelizmente mal
conservado-, Belmonte é para
quem gosta do singelo e da natureza, despontada num passeio pelo rio Jequitinhonha.
A viagem deve ser um bate e
volta para quem se hospeda em
Santa Cruz Cabrália ou em Porto Seguro, porque Belmonte
ainda não tem boa estrutura ao
turismo -faltam hotéis, e as
pousadas são muito simples.
Em homenagem à terra natal
de Pedro Álvares Cabral, no
norte de Portugal, a cidade, que
até o final do século 19 chama-se São Pedro do Rio Grande, foi
rebatizada de Belmonte. Acredita-se que o principal rio dali,
o Jequitinhonha, foi responsável por lançar troncos de árvores e plantas no mar, fato que
confirmou a existência de terra
para a esquadra portuguesa.
Na fronteira entre a costa do
Descobrimento e a costa do Cacau, Belmonte já foi alimentada
pela riqueza vinda das grandes
produções cacaueiras no século
passado, com seus barões.
Como a linha que separa a
bênção da maldição é tênue, a
decadência da era do cacau deixou sua marca. Belmonte foi
sendo abandonada por seus
moradores que procuraram
trabalho nas cidades vizinhas e
pelo poder público. E tudo que
foi construído também foi sendo deixado para trás.
No centro, uma das principais atrações de Belmonte é um
conjunto arquitetônico com
prédios coloniais do final do século 19 e início do século 20. As
fachadas neogóticas revelam
vestígios da gloriosa era do cacau, mas, hoje, muitas dessas
construções estão em ruínas.
No entanto, está em andamento um trabalho de recuperação desse patrimônio. Muitas
fachadas foram restauradas, e a
próxima obra será a recuperação de um prédio na via do cais
que destaca um brasão da Coroa portuguesa do período de
1897. Ali funcionará o Museu
da Imagem e do Som da cidade.
O roteiro das praças é o melhor jeito de conhecer essa história. Em 1.500 metros, visitam-se casas onde moraram
pessoas que tiveram importância para a cidade e ouvem-se
curiosidades (leia abaixo).
No final do passeio, aproveite
para provar os doces artesanais
da "tia" Pombinha, que fica na
praça da Matriz. Todos os produtos são feitos pela família,
com cacau orgânico plantado
por eles mesmos, sem conservantes. Fazem doces e licores
com frutas da região, além dos
clássicos queijadinha e beijinho.
(MÁRCIO FREITAS)
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