São Paulo, segunda, 7 de dezembro de 1998

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ESTADOS UNIDOS

Cidade renasceu das cinzas há 90 anos

do enviado especial a Chicago

Construir e reconstruir faz parte da história de Chicago, a cidade que queimou e renasceu, seguindo o traçado de Daniel Hudson Burnham (1846-1912) há 90 anos.
Seu primeiro habitante, Jean Baptiste DuSable, um comerciante de peles de ascendência franco-africana nascido em Santo Domingo, construiu um entreposto na nascente do rio Chicago em 1779.
Mas a cidade tem mesmo origem no forte Dearborn, plantado na foz do mesmo rio, em 1803.
Os norte-americanos haviam derrotado os índios da região e, com a fortificação, planejavam tomar posse do território que viria a ser o Estado de Illinois.
Mas, em 1812, o forte Dearborn foi destruído pelos índios. Reconstruído em 1816, só deixou de ter importância estratégica 20 anos depois, quando os índios já não representavam ameaça.
Com a vitória dos Estados do Norte na Guerra de Secessão (1860-65), Chicago iniciou sua industrialização frenética e acolheu diversas levas de imigrantes, que mudaram o perfil humano local.
Em meados do século 19, às vésperas do Grande Incêndio, era uma potência econômica e um emaranhado urbano.
Entreposto de alimentos, centro da indústria siderúrgica e do entroncamento ferroviário, Chicago queimou para ser reconstruída como uma metrópole moderna.
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Vaca no início do caminho
Meio lenda, meio história real, a versão de que a vaca de uma certa senhora O'Leary teria derrubado um lampião num paiol está na gênese da Chicago que se tornou uma capital da arquitetura contemporânea.
As narrativas que emergiram da fumaça da história dão conta que, numa noite de 8 de outubro de 1871, Chicago foi consumida pelo Grande Incêndio, que durou quase quatro dias.
Para sobreviver, as pessoas pularam nas águas frias do lago Michigan e viram a cidade virar cinza.
Nos anos seguintes, arquitetos visionários como Burnham, Dankmar Adler (1844-1900) e Louis Henry Sullivan (1856-1924) puseram Chicago no rumo da modernidade. Frank Lloyd Wright, um dos mais importantes arquitetos do século, foi outro que emprestou sua marca à cidade.
Em 1938, quando o século já se preparava para a Segunda Guerra Mundial (1939-45), foi a vez de um dos papas da Bauhaus, a escola funcionalista de artes aplicadas e arquitetura da Alemanha, se mudar para Chicago.
Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) chegou para lecionar, mas acabou criando as bases da Chicago construída em aço e vidro quando projetou, no International Style, o prédio do Federal Building, que abriga o correio e é ornamentada pela escultura "Flamingo" (1974), de Alexander Calder.
Em oposição ao estilo ascético de Van der Rohe, que costumava dizer "less is more" (menos é mais) para justificar o funcionalismo de seu projetos, surgiram, nos anos 80 e 90, os arquitetos pós-modernos. Helmut Jahn, César Pelli e Philip Johnson, que consideravam que "less is a bore" (menos é aborrecido), plantaram em Chicago torres geométricas de aço e vidro coloridos, que precisam ser vistas -até para serem criticadas.
(SILVIO CIOFFI)



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