São Paulo, segunda, 7 de dezembro de 1998

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ESTADOS UNIDOS
No Norte do país, no Estado de Wyoming, a reserva presta-se à contemplação pura nos meses mais frios
Parque Yellowstone esquenta no inverno

FRED SETTERBERG
The New York Times"

Max Morgan girou sua cabeça como se ela fosse um compasso e jogou os cabelos ao vento. "Coiote!", ele gritou. Os olhos de Max haviam se fixado na plumagem coberta de neve de um abeto (planta ornamental da América do Norte e Europa). O resto de nós (seis "urbanóides") esforçou-se para orquestrar uma aproximação ao local onde estaria o coiote.
Na linguagem animal, exercitávamos nossa "busca da imagem" treinando as faculdades visuais para distinguir um pássaro de uma rocha, um alce de uma tora e um coiote de qualquer outra coisa.
Foi então que um coiote do tamanho de um cão enorme surgiu em um banco de neve quase à borda do lago Yellowstone, no parque do Zé Colméia e do Catatau, personagens de Hanna Barbera.
"Veja só cara!", festejou Max, o guia. Seu rosto iluminou-se enquanto a temperatura girava em torno de muitos graus negativos -era um final de semana de fevereiro. A excitação de Max era enorme e palpável. "Cara, é um lindo coiote, sem dúvida."
A atitude de Max, nosso guia no parque Yellowstone, me preocupou. Seriam as aparições da "vida selvagem" de fato tão raras a ponto de suscitar esse nível de entusiasmo? Saberia a resposta a seguir, quando nos aproximamos mais do lago -o coração do parque no quase impenetrável inverno. Logo uma lontra se materializou no alto de uma colina.
Mas o animal não era o alvo do coiote, que estava ali perto. A lontra é um adversário perigoso para qualquer animal. O coiote pretendia ficar com alguma sobra da truta que a lontra tinha entre os dentes. De novo, Max, o guia, exultou de contentamento. Sua alegria ia nos contagiando a ponto de aquecer nossa estada no parque.
Em algumas semanas, esse sentimento teria fim. As estradas de Yellowstone, seus hotéis e serviços fecham no final de fevereiro, com o inverno rigoroso, e os funcionários temporários são dispensados.
A vantagem de estar lá na baixa temporada é poder usufruir de uma neve virginal e, claro, não ter de conviver com outros turistas.
Com um suprimento adequado de casacos e um lugar aquecido para passar a noite, o lugar sugere uma imagem de paraíso em meio ao frio invernal. Contemplando os cartões-postais do parque no inverno, você se sente como Adão, o primeiro homem.
Planejar a viagem no inverno é evitar o pesadelo do parque Yellowstone: as "paradas" de verão lideradas por turistas que mantêm uma distância de no máximo um quilômetro em relação a seus carros. No inverno, há menos de 50 visitantes no parque. Resultado: sobra espaço e tempo para a contemplação.


Tradução de Carla Aranha



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