São Paulo, segunda, 7 de dezembro de 1998

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SEM EXCESSO DE PESO
Pequeno lanche dura 15 minutos
Músculos causam decepção na balança

MAURÍCIO TUFFANI
enviado especial a Gramado (RS)

Após 15 dias de dieta e de exercícios em um hotel-clínica especializado, subi na balança para ver meu peso. Só havia perdido 5,8 kg. Não podia ser possível. Minhas roupas já estavam folgadas demais. Para quem havia chegado lá com 136 kg isso era muito pouco.
Mas a verdadeira surpresa chegou alguns minutos depois. Eu havia na verdade perdido 12,92 kg de gordura e tinha ganho 7,12 kg de músculos.
Estava conseguindo caminhar cerca de 5 km em uma hora e antes não conseguia completar 200 metros por causa de dores nas costas. Tinha a pressão arterial normal, apesar de ter suspendido a medicação que tomava diariamente havia dez meses. E estava conseguindo controlar a fome sem usar inibidores de apetite.
Comecei com muito ceticismo essa história de misturar turismo com tratamento. Já havia passado por todos os tipos de inibidores de apetite, desde as grotescas anfetaminas às mais evoluídas drogas que agem sobre o sistema nervoso central. Sempre foi fácil emagrecer. Consegui fazê-lo várias vezes.
Mas desta vez consegui uma mudança radical de hábitos alimentares. Foi preciso ir até Gramado, a 120 km de Porto Alegre (RS), para ter esse empurrão inicial. Parecia loucura ter esse objetivo ao ir para perto das guloseimas alemãs, dos caprichados vinhos da serra gaúcha e dos famosos chocolates dessa cidade tipicamente germânica.
De repente, lá estava eu no Kur Gramado Hotel Clínica. Já tinha me preparado psicologicamente para uma longa e torturante rotina de fome e privações. Mas não foi nada disso que aconteceu.
²
"Relax" Ao entrar no Kur, me pareceu que o ambiente estava mais para o de uma luxuosa e aconchegante pousada do que para o de um spa. Todos os detalhes de arquitetura e decoração pareciam conspirar em conjunto para uma só finalidade: o relaxamento.
Minha grande preocupação naquele momento era que eu havia, durante a viagem de avião, dispensado as refeições de bordo para poder dormir. Estava faminto e, no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, fui rapidamente apanhado pelo motorista do Kur.
Ao chegar ofereceram-me a primeira refeição: um lanche da tarde com biscoitos de trigo integral, meio kiwi e um copinho com suco de melancia. "Isso não vai dar nem para o começo", pensei. Porém, quando terminei o lanche, eu, que normalmente "traçava" um prato em poucas garfadas, percebi que havia levado 15 minutos para comer e beber tudo.
Mas ainda estava com fome e já eram 16h. E eu me lembrei que devia ter um chocolate guardado na mala que uso para trabalhar. Só foi nessa hora que dei conta de que os spas revistam a bagagem dos clientes. Corri para o quarto pensando nos direitos e garantias individuais previstos pela Constituição e na legislação de defesa do consumidor. Mas as malas estavam intactas, devidamente fechadas e desarrumadas do jeito que as havia deixado. Porém não havia nenhum chocolate. Depois me lembrei que ele ficou em casa.
E a tal revista das bagagens? Liguei para a recepção e fui informado que eles não fazem isso. "E se eu tivesse guloseimas escondidas?", perguntei a mim mesmo. Só depois percebi que eles não forçam ninguém a nada. E me dei conta de que não estava mais faminto.


Maurício Tuffani viajou a Gramado a convite do Kur Gramado Hotel Clínica e da Transbrasil.



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