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SEM GLOBALIZAÇÃO
Lobisomem, saci e luzes misteriosas povoam imaginário
Causos, tereré e viola unem
habitantes e turistas
DO ENVIADO ESPECIAL A MIRANDA
Quando se fala em Pantanal, a
primeira imagem que vem à cabeça da maioria das pessoas é a de
uma região com grandes campos
alagados, repleta de jacarés e aves
em bandos.
O que poucos sabem é que,
além da flora e da fauna exuberantes, a região também é muito
rica em cultura, sobretudo entre
seus moradores.
Uma parada para conversar
(ou, como preferem dizer, "prosar") com os pantaneiros pode ser
uma grande aula de bom humor e
de histórias nem sempre fáceis de
acreditar. Acostumados a serem
vistos como rudes e fechados, na
verdade os pantaneiros são pessoas bastante comunicativas, com
grande consciência ecológica e de
imaginação extremamente fértil.
"Já vi lobisomem mais de uma
vez", conta o guia de campo Edson Lopes da Silva, 26, em uma
roda de pessoas que se tornam cada vez mais curiosas à medida que
desfilam histórias arrepiantes como a da mulher de branco, do saci
ou de luzes misteriosas no meio
da mata.
E, para não "assustar demais",
entre um causo e outro, Silva revela outra qualidade dos pantaneiros: o grande repertório de
piadas sobre costumes regionais.
Entre piadas, causos, poemas e
receitas de chás com ervas medicinais, de repente surge uma
imensa luz dourada no horizonte
do céu cheio de estrelas.
A luz
"É a luz misteriosa que muda de
lugar", revela o barman do hotel
Valeriano Ramirez, 22, tentando
assustar os turistas.
Depois de alguns segundos de
suspense, descobre-se a verdadeira origem da luz: é a lua, nascendo
às duas da manhã, em um espetáculo inesquecível.
"A vaca cai no tirão do laço e o
tereré, no comprimento do braço", recita um pantaneiro, enquanto serve a bebida mais famosa do Pantanal, o tereré, uma espécie de chimarrão gelado tomado a qualquer hora do dia pelos
peões (leia glossário ao lado).
Para beber o tereré, é necessário
conhecer uma série de "regras de
etiqueta". A bebida só pode ser
servida em uma única direção
(anti-horária), a pessoa que o estiver preparando não pode se mover para entregar a bebida aos
participantes da roda; não se deve
mexer na bomba (utilizada como
canudo) e, para sair da roda (ou
seja, quando estiver satisfeito), é
preciso cumprir um ritual de
agradecimento por ter tido a
oportunidade de participar da
confraternização.
É muito comum encontrar os
peões ou os roceiros em rodas de
conversa durante as horas em que
o sol está a pino -a temperatura
atinge facilmente a marca dos
40C-, sempre com a guampa
em mãos.
"O melhor disso é que, além de
refrescar o forte calor que enfrentamos, o tereré acaba se tornando
uma atividade de sociabilização",
afirma a guia turística Isadora
Puntel de Almeida, 23.
Moda de viola
Depois de uma longa semana de
trabalho, além do tereré, os pantaneiros não dispensam outro costume para descansar e contar as
histórias do dia-a-dia: os bailes
noturnos.
Ao som de Almir Sater, Sérgio
Reis ou de composições dos violeiros da região, turistas e pantaneiros se misturam cantando e
dançando noite afora.
"Aparados" (ou seja, bem arrumados), os pantaneiros dão um
show de entusiasmo dançando a
polca, muito comum no Pantanal,
e cantando diversas músicas sertanejas, sempre acompanhadas
de fartas comidas e bebidas.
(CÁSSIO AOQUI)
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