São Paulo, segunda-feira, 08 de janeiro de 2001

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SEM GLOBALIZAÇÃO
Lobisomem, saci e luzes misteriosas povoam imaginário
Causos, tereré e viola unem habitantes e turistas

DO ENVIADO ESPECIAL A MIRANDA

Quando se fala em Pantanal, a primeira imagem que vem à cabeça da maioria das pessoas é a de uma região com grandes campos alagados, repleta de jacarés e aves em bandos.
O que poucos sabem é que, além da flora e da fauna exuberantes, a região também é muito rica em cultura, sobretudo entre seus moradores.
Uma parada para conversar (ou, como preferem dizer, "prosar") com os pantaneiros pode ser uma grande aula de bom humor e de histórias nem sempre fáceis de acreditar. Acostumados a serem vistos como rudes e fechados, na verdade os pantaneiros são pessoas bastante comunicativas, com grande consciência ecológica e de imaginação extremamente fértil.
"Já vi lobisomem mais de uma vez", conta o guia de campo Edson Lopes da Silva, 26, em uma roda de pessoas que se tornam cada vez mais curiosas à medida que desfilam histórias arrepiantes como a da mulher de branco, do saci ou de luzes misteriosas no meio da mata.
E, para não "assustar demais", entre um causo e outro, Silva revela outra qualidade dos pantaneiros: o grande repertório de piadas sobre costumes regionais.
Entre piadas, causos, poemas e receitas de chás com ervas medicinais, de repente surge uma imensa luz dourada no horizonte do céu cheio de estrelas.

A luz
"É a luz misteriosa que muda de lugar", revela o barman do hotel Valeriano Ramirez, 22, tentando assustar os turistas.
Depois de alguns segundos de suspense, descobre-se a verdadeira origem da luz: é a lua, nascendo às duas da manhã, em um espetáculo inesquecível.
"A vaca cai no tirão do laço e o tereré, no comprimento do braço", recita um pantaneiro, enquanto serve a bebida mais famosa do Pantanal, o tereré, uma espécie de chimarrão gelado tomado a qualquer hora do dia pelos peões (leia glossário ao lado).
Para beber o tereré, é necessário conhecer uma série de "regras de etiqueta". A bebida só pode ser servida em uma única direção (anti-horária), a pessoa que o estiver preparando não pode se mover para entregar a bebida aos participantes da roda; não se deve mexer na bomba (utilizada como canudo) e, para sair da roda (ou seja, quando estiver satisfeito), é preciso cumprir um ritual de agradecimento por ter tido a oportunidade de participar da confraternização.
É muito comum encontrar os peões ou os roceiros em rodas de conversa durante as horas em que o sol está a pino -a temperatura atinge facilmente a marca dos 40C-, sempre com a guampa em mãos.
"O melhor disso é que, além de refrescar o forte calor que enfrentamos, o tereré acaba se tornando uma atividade de sociabilização", afirma a guia turística Isadora Puntel de Almeida, 23.

Moda de viola
Depois de uma longa semana de trabalho, além do tereré, os pantaneiros não dispensam outro costume para descansar e contar as histórias do dia-a-dia: os bailes noturnos.
Ao som de Almir Sater, Sérgio Reis ou de composições dos violeiros da região, turistas e pantaneiros se misturam cantando e dançando noite afora.
"Aparados" (ou seja, bem arrumados), os pantaneiros dão um show de entusiasmo dançando a polca, muito comum no Pantanal, e cantando diversas músicas sertanejas, sempre acompanhadas de fartas comidas e bebidas.
(CÁSSIO AOQUI)


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