RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Viajar no começo do século passado era incomparavelmente mais difícil do que hoje. A começar pelos deslocamentos, que já garantiam logo de saída uma dose a mais de aventura.
É justificável, então, que as excursões pela Europa e pelo Oriente Médio de um homem que, além de apaixonado observador de civilizações, foi prefeito do Rio de Janeiro de 1902 a 1906 e responsável pela total remodelação da então capital do Brasil, tenham ido parar nas 127 páginas do livro "Pereira Passos - Notas de Viagens" (editora Sextante Artes).
A obra, na verdade uma coletânea de fotos antigas e passagens comentadas da correspondência entre Francisco Pereira Passos (1836-1913) e seu amigo Alfredo Américo de Souza Rangel -diretor de obras das reformas que, encabeçadas pelo prefeito, revolucionaram o Distrito Federal-, foi concebida a partir do original "Notas de Viagens - Cartas a um Amigo".
No capítulo final, figuram algumas das 30 cartas que compõem o livro original, enviadas pelo ex-prefeito a Rangel de 1907 a 1908, período durante o qual ele fez três grandes expedições.

Viagens
Os registros, organizados e analisados por Maria Isabel Ribeiro Lenzi, começam pela jornada que englobou sul da França, Egito, Líbano e Espanha, entre janeiro e junho de 1907, viagem que Pereira Passos fez sozinho.
A seguir, o ex-prefeito e a família se lançaram em uma expedição que saiu de Paris -sua base na Europa- em direção à Grécia, à Turquia e ao Império Austro-Húngaro, de janeiro ao final de fevereiro de 1908.
A terceira, realizada entre maio e agosto de 1908, passou pelas cidades de Wiesbaden, Berlim, Varsóvia, Moscou, São Petersburgo, Estocolmo, Oslo, Copenhague e Hamburgo.
Nos textos, Pereira Passos descreve, um pouco à maneira dos guias de viagem, monumentos, instalações e infra-estrutura, além de observar a vida da população. Sempre comparando o que vê com o Rio de Janeiro.

Sem pretensão
A obra acabou nascendo de escritos bem pouco pretensiosos, como o próprio autor esclarece, em português da época, no prefácio do original, de 1913: ""Escreva-me regularmente, dando-me noticia dos logares por onde andar ...". Tal foi a incumbencia que recebi de um collega ... Respondi que eu não tinha o habito de escrever e que meu estylo secco e laconico não agradaria aos que me lessem".

Museu
O livro foi lançado em parceria com o Museu da República e integra seu arquivo histórico, formado basicamente por acervos de caráter particular, onde convivem coleções e arquivos privados de ex-presidentes e outras personalidades representativas do período republicano.
Dentre seus principais núcleos, destacam-se as coleções dos ex-presidentes Epitácio Pessoa e Getúlio Vargas e a de Pereira Passos.