São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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Inverno solta os bichos e limpa o terreno

da enviada especial

Nessa época do ano, os elefantes são raros no Sabi Sabi porque preferem migrar para o parque nacional Kruger, onde há determinadas folhas que eles gostam de comer. O livre trânsito dos animais entre uma reserva e outra ocorre porque não existem cercas de separação.
A reserva privada do Sabi Sabi, de 6.000 hectares, faz fronteira com o Kruger, o maior parque nacional da África do Sul (2 milhões de hectares). Outras reservas particulares avizinham o Sabi Sabi, como o MalaMala, cujo território não pode ser percorrido pelos hóspedes do Sabi Sabi.
As únicas cercas existentes na região são as que cercam o rústico aeroporto de Skukuza, charmoso pelo teto de sapé e "sala de embarque" ao ar livre.
Mas nem só os elefantes são raros nessa época do ano. No verão, a vegetação das savanas é abundante e os animais se escondem atrás dos arbustos. Por isso é melhor fazer safári na África no inverno, quando os galhos secos, praticamente sem folhas, aumentam o campo de visão dos observadores de animais selvagens.

Olhos de lince
Os "trekkers" (rastreadores), pessoas treinadas especialmente para seguir as pegadas dos animais e encontrá-los em meio aos arbustos, têm os olhos tão apurados que são capazes de encontrar um pequeno camaleão no meio da folhagem à noite apenas com a ajuda de um farolete.
A explicação para a façanha, dada pelo guia Edward, é que, quando está dormindo, o camaleão não muda de cor e assim permanece com o cinza natural, o que o diferencia no meio.
Alguns "trekkers" do Sabi Sabi nasceram em Moçambique e por isso falam português.
É o caso de July, que conta, de um modo um pouco envergonhado, suas aventuras em meio a leões e elefantes. Seus encontros com tais animais parecem histórias de pescador e divertem os turistas.
Como a maioria dos "trekkers" do Sabi Sabi, ele cresceu na selva e distingue com facilidade as pegadas de cada espécie, dizendo se é macho ou fêmea e há quanto tempo passou pelo local marcado.
Mas hoje os "trekkers" com essas características correm risco de extinção, pois muitos desses jovens nascidos nas savanas têm saído do campo para estudar em Johannesburgo. Por causa desse fenômeno, o Sabi Sabi planeja implantar pela primeira vez este ano um treinamento especial para os futuros profissionais do lodge e vai começar a aceitar currículos de pessoas que tenham apenas um conhecimento geral da selva, de acordo com o diretor de operações Michel Girardin.
Guias
Cada dupla de guia e "trekker" acompanha um grupo de no máximo oito pessoas até o fim da sua estada no lodge.
Segundo o chefe dos guias, Edward Farrel, não é fácil ser guia do Sabi Sabi. Quando o lodge coloca anúncio no jornal, recebe cerca de 400 currículos, dos quais algumas dezenas são escolhidas. Depois de algumas entrevistas, dez pessoas participam de um pré-treinamento, ficando algumas semanas em uma tenda no meio da selva.
Durante esse estágio, é possível avaliar a personalidade do futuro guia, quanto tempo ele consegue ficar longe da civilização e suas reações perante problemas imprevistos. Dessa seleção sobram menos de cinco pessoas, sendo que algumas desistem por conta própria.
Segundo Girardin, os guias estudam permanentemente, principalmente à tarde, horário em que os hóspedes descansam. Para se manter atualizados, eles também são estimulados a participar de programas de intercâmbio, realizados por exemplo a partir de convênios com fundações. Com esse treinamento, Girardin garante que nunca houve nenhum acidente que envolvesse hóspedes e animais.
Turistas comuns podem fazer um treinamento parecido aos oferecidos aos guias, chamado de "Ranger Training Experience". O curso ensina a identificar plantas e animais, explica os seus hábitos, treina a socorrer vítimas para picadas de cobras, enfim, ensina o cidadão comum a sobreviver no meio da selva.
Dia-a-dia
O dia no Sabi Sabi começa cedo. Os hóspedes que quiserem fazer o primeiro safári do dia, às 6h, são acordados às 5h com um toque-toque na porta.
Na volta, às 9h, têm direito a um café da manhã, seguido de uma caminhada optativa. O outro safári, também de três horas, é às 17h.
O jantar sempre acontece em volta da fogueira, do lado da sede, e em algumas noites inclui a apresentação de danças típicas. O espetáculo mostra que a África não é apenas vida selvagem. (MV)




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