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Inverno solta os bichos e limpa o terreno
da enviada especial
Nessa época do ano, os elefantes
são raros no Sabi Sabi porque preferem migrar para o parque nacional Kruger, onde há determinadas
folhas que eles gostam de comer. O
livre trânsito dos animais entre
uma reserva e outra ocorre porque
não existem cercas de separação.
A reserva privada do Sabi Sabi,
de 6.000 hectares, faz fronteira
com o Kruger, o maior parque nacional da África do Sul (2 milhões
de hectares). Outras reservas particulares avizinham o Sabi Sabi, como o MalaMala, cujo território
não pode ser percorrido pelos hóspedes do Sabi Sabi.
As únicas cercas existentes na região são as que cercam o rústico
aeroporto de Skukuza, charmoso
pelo teto de sapé e "sala de embarque" ao ar livre.
Mas nem só os elefantes são raros
nessa época do ano. No verão, a vegetação das savanas é abundante e
os animais se escondem atrás dos
arbustos. Por isso é melhor fazer
safári na África no inverno, quando os galhos secos, praticamente
sem folhas, aumentam o campo de
visão dos observadores de animais
selvagens.
Olhos de lince
Os "trekkers" (rastreadores),
pessoas treinadas especialmente
para seguir as pegadas dos animais
e encontrá-los em meio aos arbustos, têm os olhos tão apurados que
são capazes de encontrar um pequeno camaleão no meio da folhagem à noite apenas com a ajuda de
um farolete.
A explicação para a façanha, dada pelo guia Edward, é que, quando está dormindo, o camaleão não
muda de cor e assim permanece
com o cinza natural, o que o diferencia no meio.
Alguns "trekkers" do Sabi Sabi
nasceram em Moçambique e por
isso falam português.
É o caso de July, que conta, de um
modo um pouco envergonhado,
suas aventuras em meio a leões e
elefantes. Seus encontros com tais
animais parecem histórias de pescador e divertem os turistas.
Como a maioria dos "trekkers"
do Sabi Sabi, ele cresceu na selva e
distingue com facilidade as pegadas de cada espécie, dizendo se é
macho ou fêmea e há quanto tempo passou pelo local marcado.
Mas hoje os "trekkers" com essas
características correm risco de extinção, pois muitos desses jovens
nascidos nas savanas têm saído do
campo para estudar em Johannesburgo. Por causa desse fenômeno,
o Sabi Sabi planeja implantar pela
primeira vez este ano um treinamento especial para os futuros
profissionais do lodge e vai começar a aceitar currículos de pessoas
que tenham apenas um conhecimento geral da selva, de acordo
com o diretor de operações Michel
Girardin.
Guias
Cada dupla de guia e "trekker" acompanha um grupo de no máximo oito pessoas até o fim da sua estada no lodge.
Segundo o chefe dos guias, Edward Farrel, não é fácil ser guia do
Sabi Sabi. Quando o lodge coloca
anúncio no jornal, recebe cerca de
400 currículos, dos quais algumas
dezenas são escolhidas. Depois de
algumas entrevistas, dez pessoas
participam de um pré-treinamento, ficando algumas semanas em
uma tenda no meio da selva.
Durante esse estágio, é possível
avaliar a personalidade do futuro
guia, quanto tempo ele consegue
ficar longe da civilização e suas
reações perante problemas imprevistos. Dessa seleção sobram menos de cinco pessoas, sendo que algumas desistem por conta própria.
Segundo Girardin, os guias estudam permanentemente, principalmente à tarde, horário em que os
hóspedes descansam. Para se manter atualizados, eles também são
estimulados a participar de programas de intercâmbio, realizados
por exemplo a partir de convênios
com fundações. Com esse treinamento, Girardin garante que nunca houve nenhum acidente que envolvesse hóspedes e animais.
Turistas comuns podem fazer
um treinamento parecido aos oferecidos aos guias, chamado de
"Ranger Training Experience". O
curso ensina a identificar plantas e
animais, explica os seus hábitos,
treina a socorrer vítimas para picadas de cobras, enfim, ensina o cidadão comum a sobreviver no
meio da selva.
Dia-a-dia
O dia no Sabi Sabi começa cedo.
Os hóspedes que quiserem fazer o
primeiro safári do dia, às 6h, são
acordados às 5h com um toque-toque na porta.
Na volta, às 9h, têm direito a um
café da manhã, seguido de uma caminhada optativa. O outro safári,
também de três horas, é às 17h.
O jantar sempre acontece em
volta da fogueira, do lado da sede, e
em algumas noites inclui a apresentação de danças típicas. O espetáculo mostra que a África não é
apenas vida selvagem.
(MV)
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