São Paulo, segunda, 8 de junho de 1998

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POR DENTRO DE PORTO SEGURO
Índios não festejam a chegada de Cabral Itambé não vê motivos para comemorar os 500 do Brasil

Roda de capoeira na cidade alta, parte histórica de Porto Seguro; os grupos aguardam os turistas para fazer demonstrações da tradicional dança do enviado especial a Porto Seguro

Os índios da tribo Pataxó que vivem na região de Santa Cruz de Cabrália sobrevivem da venda de artesanato, principalmente em Coroa Vermelha, onde foi realizada a primeira missa no Brasil, e nas praias do litoral norte de Porto Seguro.
Alguns vivem reclusos em uma aldeia de cerca de 1.400 hectares em uma área chamada de mata Medonha, onde produzem peças de artesanato, trabalham na roça e ainda praticam a caça e a pesca.
O cacique Itambé, 63, é um dos líderes dos nativos da região. Pai de oito filhos, nasceu no Monte Pascoal e mora há 30 anos em Coroa Vermelha, onde vende artesanato e ervas medicinais. Leia abaixo alguns trechos da entrevista com o cacique. ( MARCOS PERON)

Folha - O que o sr. acha das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil?
Cacique Itambé -
Quando Cabral chegou aqui, o Brasil já era habitado pelos índios. Então, para nós, índios, não há importância nenhuma, pois nós éramos os donos da terra e ela nos foi tirada. A nossa festa acontece no Dia do Índio. A descoberta não trouxe beneficio nenhum para os nativos, muito pelo contrário.
Folha - Quantos índios vivem na região?
Cacique Itambé -
Cerca de 2.000 índios entre os que vivem nas aldeias e os que vivem aqui em Coroa Vermelha.
Folha - Qual o maior problema dos índios dessa região?
Cacique Itambé -
Acho que o maior problema é a demarcação das nossas reservas. Quanto mais rápido o governo desapropriar as áreas e deixar o índio livre para viver em seu estado primitivo e em contato com a natureza, melhor para todos nós.



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